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terça-feira, 28 de abril de 2015

Reprovei no exame da caridade!!


Neste tempo de tantas incertezas, de tantas interrogações, de tantas crises... fiquei extremamente envergonhado com os acontecimentos no Mar Mediterrâneo. A crueldade de uns e a indiferença hipócrita de outros, mostra a faceta pior da condição humana... uma faceta que culmina com o sofrimento verdadeiramente injustificável de pessoas...

...porque naquelas embarcações vão pessoas!

Parece que nos esquecemos, mas é verdade!

Li no Expresso "on-line” li o relato de um imigrante e esta frase ficou cravada no meu peito:



“Nós não vamos à procura de uma vida melhor.
VAMOS À PROCURA DE VIDA.
 Atrás de nós só há morte.”
(Ammed Abdalla)





Perante isto gostaria de referir o seguinte:

muitas vezes vivemos num universo religioso ocioso, centrado em aspetos menores, mergulhados 
numa fé moribunda, remetida e às suas "certezas", mas que de ação pouco ou nada tem. Como corretamente refere Tomás Halik “a fé madura é sempre uma fé madura pelo sofrimento do mundo”.

O valor da existência não tem “preço”, todos os estados deverão ter como pilar fundamental a legitimação deste pressuposto. A luta pela dignidade da vida, em todas as suas dimensões, não pode ter limites de esforço.
O próprio Jesus relativizou a lei, o sistema político e económico perante a importância da existência (cf. Mt 12,1-10; Mt 12,34, etc...). A Salvação não é um conceito meramente abstrato ou mesmo utópico, a Salvação assenta sempre na promoção da Pessoa, para o Senhor a grande dádiva da lei é e sempre será a misericórdia da Salvação.
Com isto não estou (jamais) a negar a lei enquanto dom precioso de Deus; abolir a tradição religiosa e legalista, para além de presunçoso é um erro perigoso, pondo mesmo em causa a própria identidade cultural dos povos.

No entanto a questão é: que lei?

Os mandamentos foram feitos para o homem e não o oposto...
O serviço à humanidade está assim no cumprimento da própria lei, daí que sacrificar vidas não é nunca justificado por qualquer lei divina, mas sim partem do impulso humano, que deturpa o conceito de Deus–Vivo e por ser vivo é motor da vida e promotor da existência digna no mundo, no aqui e no agora.

Todas as regras e instituições, todos os mandamentos e leis, todos os regulamentos e estatutos, todos os dogmas  decretos, são feitos para servir o homem, porque a grande exaltação de Deus é o homem vivo.
A causa da revelação, culminada na beleza suprema da encarnação do “logos”, não é a lei mas sim o homem. Deste modo, o caminho do homem ao tentar valer-se do seu "ego", torna-se no absurdo da própria existência, já que a sua incontestável importância tem na vontade misericordiosa de Deus a sua fonte eterna. Uma vontade promovida no Amor Maior concretizado na pessoa do próprio Jesus. Deste modo, da mesma fora que a vontade de Deus não pode ser substituída pelo egoísmo humano, a sua compreensão só ganha sentido perante as situações concretas da vida de cada um.

 
Muitos vezes estas imagens e acontecimentos fazem-nos perguntar: porquê?!

Ao ver as imagens do desespero daqueles imigrantes procurando desesperadamente um lugar para que possam “ter vida”, não posso deixar de me questionar também.



Onde andam os valores humanitários da Europa?

Onde andam as raízes cristãs europeias?


Muito de nós vivemos em cristianismo de luxo, sem que olharmos sequer para o nosso vizinho que muitas vezes sofre no silêncio da multidão. Mais do que procurarmos as razões (fator sem dúvida importante), busquemos com urgência respostas, uma resposta que se inicie na nossa rua, no nosso bairro e na nossa cidade.








domingo, 19 de abril de 2015

Fernando Pessoa "Livro do Desassossego"

Desassossego...


"É nestas horas de um abismo da alma que o mais pequeno pormenor me oprime como uma carta de adeus. Sinto-me constantemente numa véspera de despertar, sofro-me o invólucro de mim mesmo, num abafamento de convulsões. De bom grado gritaria se a minha voz chegasse a qualquer parte."

in Livro do Desassossego (Fernando Pessoa)


"Choro sobre as minhas páginas imperfeitas, mas os vindouros, se as lerem, sentirão mais com o meu choro do que sentiriam com a perfeição, se eu a conseguisse, que me privaria de chorar e portanto até de escrever. O perfeito não se manifesta. O santo chora, e é humano. Deus está calado. Por isso podemos amar o santo, mas não podemos amar a Deus."

in Livro do Desassossego (Fernando Pessoa)