Translate

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

O Início do Advento



Neste domingo um novo ano litúrgico deu início, e com ele o Advento.
Estamos num momento especial para todos os cristãos, celebramos a grandeza da encarnação do “logos”, o Deus que desceu a até nós e se fez homem, um homem igual a nós. Esta é a beleza do nosso Deus, um Deus quem vem ao nosso encontro, que nos interpelam e que exalta a beleza e a singularidade da vida.
Deus é amor, nada mais do que amor, O que O faz onipotente e omnipresente, não é um conceito deturpado de um Deus, em que este se apresenta com mão de ferro sedento de castigo; o Deus de Jesus apresenta-se sim em suavidade, verdade e promovendo a liberdade como valor fundamental para a vida.

O SIM de Maria Santíssima é o reflexo da certeza de Deus, uma SIM não imposto mas em liberdade, no entanto, e a partir desta certeza somos levados à ação, na ajuda permanente na realização obra salvífica de Deus.
Não esperemos que Deus “nos bata à porta” enquanto dormimos, antecipemo-nos para que a Sua chegada seja a confirmação, de nos fez agentes concretos na construção do Reino de Deus.

Muitos perguntam,
Onde está Deus,
Eu respondo:
“nos olhos cintilantes de um uma criança a olhar a beleza do mundo”





 

domingo, 9 de novembro de 2014

Filmes da minha Vida: As Asas do Desejo (1987), Wim Wenders

As Asas do Desejo

Wim Wenders







sábado, 1 de novembro de 2014

IMAGENS




As imagens são uma presença constante e com o cariz de relevo na Igreja, no entanto este aspecto também leva a algumas confusões dentro do próprio culto cristão. Muitos referem que a imagem do crucificado traz consigo uma conotação de sofrimento e de morte, retirando deste modo o que interessa: a ressurreição. Também existem muitos que se referem que este “culto” com imagens, desvirtua a vontade de Deus.


Começaremos mesmo por analisar o Primeiro Mandamento, dos Dez passados a Moisés no Sinai, e onde é realçada a importância da singularidade do Deus único (ponto também mencionado com grande vigor por Jesus Cristo), o mandamento é o seguinte: “Não farás para ti imagem esculpida nem qualquer imagem que exista no alto dos céus, ou do que existe em baixo na Terra, ou do que existe nas águas, por debaixo da Terra” (Ex. 20, 4). No entanto houve uma excepção a pedido do próprio Deus, e ele é precisamente aquilo que estaria ligado ao mais santo e mais importante elemento do Antigo Testamento – a Arca da Aliança. Esta foi realizada a pedido de Deus com todo o seu pormenor, o Santo dos Santos seria pois o local determinado por Deus para comunicar com todos os “Filhos de Israel”.

Como já vimos atrás, S. Paulo vê na figura de Cristo crucificado a “Nova Arca”, agora este é o local de culto, o verdadeiro “lugar de penitência”.

No Islão e no Judaísmo, a partir do séc. III, foram proibidas as imagens, estando assim remetidas a representações geométricas, nos locais de culto.
É curioso notar que antigas sinagogas, a partir de descobertas arqueológicas, mostram que haveria figuras de cenários bíblicos, estes teriam um carácter de representar cenários históricos, fazendo uma ligação do presente e a história através da recordação que estava inscrita na narração. A memória colectiva era assim elevada através da representação dos Actos de Deus, podendo mesmo fazer parte da própria liturgia.
Encontramos também esta forma de expressão nas imagens cristãs das catacumbas. As imagens das acções de Deus eram agora remetidas para a promessa (cumprida) da vinda de Jesus Cristo, ou seja, todas as acções de Deus visavam a preparação da vinda do Salvador, o Messias prometido e cumprido em Jesus Cristo.
Também para nós, cristãos da actualidade, as imagens têm um carácter de se juntar à própria história dos sacramentos, sendo que todos através de Cristo seremos envolvidos pessoalmente nesses acontecimentos.

A esperança, figura bem presente no Cristianismo, é também acção escatológica, sendo que as imagens, neste sentido, remetem assim para a ressurreição. O nosso olhar sobre a Bíblia tem sempre um sentido na concretização da promessa através de Jesus Cristo, o Messias prometido, e com Ele obtemos também uma promessa de um futuro através da concretização da Páscoa do Senhor. Obviamente que estas imagens, tal como as sinagogas iniciais, não tinham uma força artística importante, no entanto a sua profundidade espiritual era bem patente. Estas primeiras pinturas das Igrejas não procuravam fazer qualquer retrato de Jesus, mas sim à Sua imagem, enquanto Mestre surgindo sobretudo como pastor. Aliás esta imagem de pastor associada a Cristo sempre teve um significado importante, Ele é o pastor de toda a Criação, o “logos” que tudo criou. E como pastor não só está no início da criação como na própria salvação de todos os homens.

No entanto estas imagens representativas tiveram uma grande alteração histórica, juntamente com uma alteração da própria expressão da fé. Esta situação deveu-se ao facto de terem surgido duas imagens que não foram consideradas como realizadas pela mão do homem, ficando, por isso, envoltas em grande mistério. Estas imagens (“Archeiropoitas”) tiveram uma posição importante para a própria representação das imagens nas Igrejas. Uma dessas imagens era a “Mandylion”, que segundo algumas fontes, teria sido levada de Edesa (Síria), para Constantinopla, sendo que muitos investigadores ligaram-na com o Santo Sudário que actualmente se encontra em Turim, existem outros que ligam esta imagem à que ficou gravada no lenço de Verónica, quando Jesus em grande sofrimento se dirigia para o calvário. A outra imagem (“Kamulianium) tem uma particularidade ligada à sua lenda: numa região chamada Kamulia (Turquia), uma mulher pagã, viu no lago do seu jardim uma imagem em tela de linho flutuando. A mulher reconheceu esta imagem como a imagem de Jesus, quando a retirou da água e deixou secar, a imagem começou a multiplicar-se.

Na realidade considerou-se como possível ver o rosto de Jesus, tendo a Igreja com estas imagens associado ao cumprimento da promessa: “Quem vê a mim, vê o meu Pai” (Jo. 14, 9). Portanto estes ícones seriam como a presença real da imagem Daquele que se ofereceu em carne para todos nós.

As “Acheropeitos” e as suas representações tiveram uma posição importante para a própria Igreja. Aqui, como é óbvio, surgiu um problema que se prendia com a falsa sacramentalização de imagens. Este problema fez com que surgissem movimentos contrários, recusando o uso de imagens – iconoclasmo – e a destruição destas. Esta atitude estava ligada à ideia da subversão que poderia acontecer na adoração e mesmo na fé, com esta devoção a “ídolos”. Juntamente com esta posição, existiu também um motivo político, os imperadores bizantinos não tinham interesse em provocar problemas nem com os Muçulmanos nem com os Judeus.
Desta forma Cristo deixou de ser representado, podendo somente ser usado o símbolo da cruz, mas no entanto, sem qualquer imagem.

Este conflito entre a Cruz e Imagem levou mesmo a uma batalha teológica entre os iconoclastas e os adeptos dos ícones.

Na realidade,
o ícone não tem como objectivo a representação da imagem no sentido empírico, ela deverá associar-se a uma representação e a uma abertura dos sentidos interiores, é aqui que assenta o verdadeiro sentido da Teologia dos Icones.

Portanto a própria arte sacra tem como caminho a oração, e é neste profundo sentido que as imagens aparecem, não como a forma real, mas como forma de visão interior e de apelo à concentração e à oração. “O ícone vem da oração e conduz à oração”, para tal os sentidos têm de estar libertos de aspectos empíricos, e sempre com uma ligação ao espírito.
Os homens devem ter a capacidade de se abrirem interiormente, não estando somente ligados ao mensurável, mas também ao divino. O olhar ensina-nos a ver Cristo principalmente segundo o espírito. Desde o Concílio de Niceia, passando pelos sínodos, as imagens eram sempre vistas como a encarnação de Deus no homem, e portanto o Iconoclasmo (a negação total das imagens) seria sempre a negação da própria encarnação. É na encarnação que o divino se faz um de nós, um homem concreto e nascido de um ventre, que nos envolve na sua própria ressurreição, através da Pascoa do Senhor.

Ao olhar para a cruz, não é a “feição” de Cristo que me interessa, mas sim a Totalidade do Senhor, que ao fazer-se homem se juntou a nós de uma forma definitiva e eterna. A cruz mostra-nos aquele que através do seu sofrimento, salvou-nos para a vida eterna.

Tal como afirma Bento XVI: “o iconoclasmo tem um efeito redutor da fé”. No entanto vemos que a luta contra as imagens é algo que é visto como um “progresso” para a própria sociedade! Numa sociedade democrática como a nossa, este “iconocolasmo”, vem em contraposição à própria liberdade de expressão. A democracia é também a expressão religiosa no espaço público, inibir a expressão religiosa é inibir a tomada de posições e convicções legítimas. Qualquer que seja a religião deverá ter a sua possibilidade de expressão, e sua expressão pública faz-se muitas vezes através também através de símbolos. Mesmo aqueles que se são ateus, antes de o serem deverão ter a possibilidade de conhecer o aspecto religioso. Esta não é uma questão que se prende somente com os crentes, esta é uma questão de cidadania. Mesmo aqueles que recusam a existência de Deus têm os seus símbolos. A luta contra os símbolos cristãos, não é uma expressão de maturidade social, antes pelo contrário, esta acção leva à “cegueira” da liberdade de escolha. A recusa da expressão simbólica religiosa, é algo que tem uma ligação directa com a cidadania, uma sociedade é tanto mais desenvolvida quanto maior for o seu conhecimento, tanto cientifico, como religioso.

A imagem não é o fundamento de fé, ela remete-nos para a essência, e a essência, para nós cristãos, está na encarnação de Deus no homem, que através do amor deixou-se levar à morte, para a vencer, abrindo-nos assim a nova porta para Deus Pai. Esta é grandeza única do Cristianismo.
O Cristianismo nunca será uma facção política, nem uma tendência de pensamento, o Cristianismo é a revelação da Pascoa do Senhor, a ligação concretizada entre Deus e o homem, em comunhão (“communio”).
 Como católico, tenho a convicção que o Cristianismo, na sua vertente essencial, não nos prende, antes abre-nos para a liberdade. Uma liberdade responsável, em que o bem e o mal estão bem identificados deixando, no entanto, sempre que a escolha seja feita por nós, não a impondo, mas mostrando-a, porque a palavra final será sempre nossa. Esta é a liberdade que Cristo nos deu – “quem quiser sabe o caminho” -, sendo que Ele espera-nos até ao fim, estando sempre disponível para nos “dar a mão”, agora resta-nos fazer a opção…


No entanto e como salientou S. Agostinho: “Cristo não nos salvou através da pintura”.

A cruz de Cristo apresenta-se para toda a comunidade cristã como um símbolo do ressuscitado, sendo um elemento central para toda a Igreja.

Durante toda a história da arte, as várias épocas levaram a que a expressão da arte sacra tivesse também sofrido as suas alterações durante os séculos.
 

Muitos membros da Igreja vêm na actual crise ligada ao panorama de arte sacra actual como uma crise generalizada da arte. Eu não vejo as coisas desta forma, na realidade a Igreja deve estar aberta a outras formas e tendências de arte. Sendo ela forma de comunicação, terá de ser bem, observada com atenção e dedicação, já que a comunicação é missão da Igreja. Desta forma a arte é expressão criativa dada ao mundo, isto leva a que se tenha de ter uma abertura de espírito ao fenómeno artístico actual, procurando realizações de qualidade.
A acção criativa deverá ter uma atitude de inspiração para além das fronteiras reais, “buscando algo mais acima”, buscando no fundo Deus. É necessário olhar em volta, desprendendo-se das “paredes imóveis”, para assim compreender o mundo e saber comunicar com ele.

Claro que a falta de arte sacra deve-se também à forma como vemos o mundo, ou seja a realidade individual ultrapassou a concepção de conjunto, perdemos as respostas comuns.
A forma de se ver o mundo em nome da seriedade científica, obviamente traz consigo enormes benefícios para a humanidade, no entanto, nem tudo tem uma validação científica evidente, se quisermos provar ou comprovar tudo, o mundo torna-se “opaco”. Reparamos que na actualidade, acreditar em Deus é visto por muitos como uma forma imperfeita, e portanto menor, de posicionamento perante a realidade. Também na arte reparamos que o seu sentido de “transcendência” é posto num plano secundário. Ela aparece-nos como uma expressão muitas vezes ligada à experimentação simplicista, e não à criação do belo. A essência do “Creator Spiritus” não está tanto em voga, somos actualmente confrontados por uma “produção” criativa que se reduz em grande parte ao fútil e ao momentâneo.

Podemos pois concluir que o uso de imagens, é parte integrante à Igreja Católica levando-nos para a própria encarnação de Deus. As imagens do belo, que tornam visível o mistério invisível de Deus, fazem parte do culto cristão. O iconoclasmo não se prende com o cristianismo, tanto ao nível histórico, como ao nível de culto e adoração. A arte sacra tem a sua fonte na História da Salvação, tendo assim o seu epílogo no oitavo dia – no dia da Ressurreição -. Esta noção é fundamental, daí que os Santos também tenham uma ligação natural enquadrada nesta realidade, eles são a prova e o cumprimento real da promessa de Cristo. Neles, Cristo vive de uma forma perpétua, renovadora e inspiradora.

“A luta não é apenas contra os ícones, ela também é contra os Santos”.
Esta frase de João de Damasco (ligado ao início da Teologia Sistemática na ortodoxia oriental) foi dada ao Imperador Leão III (Bizantino/Síria) , que era um grande opositor das imagens. Dando uma resposta a este conflito, o Papa Gregório III (?-741), num sínodo em Roma em oposição aos iconoclastas,  instituiu no calendário litúrgico a Festa de Todos os Santos.

As imagens de Deus com os homens não têm somente um carácter de lembrança, elas são também um sentido para o futuro. Daí que as imagens estejam muito ligadas ao Sacramento da Eucaristia, no qual existe uma óbvia referência para o futuro. É por esta razão que a imagem de Cristo é o centro de toda a arte sacra, Ele é a promessa cumprida, a manifestação do amor divino, a incorporação do “verbo” na mais profunda e bela manifestação de Deus em toda a história da humanidade. Ao faze-lo não o fez como forma de mostrar a sua força, mas para mostrar a sua misericórdia e amor. Portanto a imagem de Cristo centrada na sua Pascoa é também o ícone principal da Eucaristia.
As imagens de Cristo e dos Santos não são “fotografias, a sua natureza é a de nos levar para além do terreno, do material, a sua função está no despertar dos nossos sentidos mais interior.


“Nós não rezamos às imagens, nós rezamos com as imagens”.


A arte é acima de tudo manifestação interior, a sua busca pelo belo tem um carácter de singularidade que se faz notar como um verdadeiro dom. Este dom, é a manifestação de Deus no interior do criador, a sua execução não é em sentido de “produção comum”, mas apontando para a singularidade, em que cada manifestação artística seja sempre renovada.
O encontro que Bento XVI fez no mês de Novembro de 2009 com vários artistas de áreas diversificadas, foi sem dúvida uma acção muito positiva, na realidade a Igreja esteve um pouco de “costas voltadas” para a comunidade artística nos últimos tempos, é assim necessário promover uma viragem neste aspecto.
 A Igreja quer mostrar que no interior do espaço católico os artistas encontrão uma casa e uma “pátria”. O chamamento interior para a arte como manifestação de vocação, faz com que a Igreja tenha a necessidade dos artistas, a beleza é uma necessidade para o universo cristão, o caminho terá de ser aberto e contínuo. Através da arte a mensagem atinge um significado de profundidade que ultrapassa muitas vezes qualquer discurso por mais elaborado e fundamentado que seja. Abrir-se aos artistas, é abrir-se à liberdade criativa, à essência da beleza e expressão de Deus.


 

 Cantiones sacrae, VII: Nunc loquar, Domine – Céline Scheen, Stephan Van Dyck, Dirk Snellings, Ensemble Clematis, Leonardo García Alarcón






terça-feira, 7 de outubro de 2014

Notícias: Educris - "O anjo da guarda caminha connosco"





O Papa Francisco afirmou hoje, na missa da Casa de Santa Marta, que todos temos um anjo sempre ao nosso lado, que nunca nos deixa sozinhos e que nos ajuda a não errar o caminho. 
Na festa dos anjos da guarda o Papa lembrou que devemos “ser como crianças” pois só deste modo “conseguiremos evitar a tentação da autossuficiência, que leva à soberba e ao carreirismo exasperado”. 
“Hoje - afirmou o papa – a Igreja apresenta-nos na liturgia duas imagens: o anjo e a criança”. O livro do Êxodo (23.20-23a), em especial, propõe-nos “a imagem do anjo” que “o Senhor oferece ao seu povo para o ajudar no seu caminho”. Neste trecho pode ler-se: “mando um anjo à tua frente para te preservar no caminho e para te fazer entrar no lugar que te preparei”. Portanto, “a vida é um caminho, a nossa vida é uma senda que termina naquele lugar que o Senhor nos preparou”, recordou o Papa.
No entanto, “ninguém caminha sozinho!”. E “se alguém de nós julgar que pode caminhar sozinho, cometeria um erro enorme, que é a soberba: pensar que é grande! e acaba por ter a atitude de suficiência que o leva a dizer a si mesmo: Eu posso, consigo sozinho”.
Para o papa a Sagrada Escritura apresenta duas formas de proceder perante o anjo que o Senhor coloca no nosso caminho: “Respeita a sua presença e ouvir a sua voz não se revolvendo com ele”.
No fundo, explicou o Papa, “é a atitude dócil, mas não específica, da obediência devida ao pai, própria do filho”. Trata-se da “obediência da sabedoria, de ouvir os conselhos e escolher o melhor, segundo os conselhos”. E é preciso “manter o coração aberto para pedir e ouvir conselhos”.
Na segunda imagem do dia, a da criança no trecho do evangelho de Mateus (18,1-5.10) o papa lembrou que “os discípulos perguntavam-se quem era o maior deles. Havia uma disputa interna: o carreirismo. Eles, que eram os primeiros bispos, sentiam a tentação do carreirismo” e diziam uns aos outros: «Quero ser maior do que tu!». A este propósito, o Papa Francisco realçou: “Não é um bom exemplo que os primeiros bispos tenham agido assim, mas é a realidade”.
Mas “Jesus ensina-lhes a atitude autêntica ao chamar uma criança e ao ensiná-los expressamente acerca da docilidade, a necessidade de conselho e de ajuda, pois a criança é o sinal de tais carências para ir em frente”.
Na parte final da sua reflexão o papa lembrou que na tradição da Igreja “todos nós temos um anjo, que nos preserva e nos dá conselhos”. “Devemos ouvir este nosso companheiro de viagem” uma vez que “ninguém caminha sozinho, nem pode pensar que está sozinho: este companheiro está sempre presente”.
Em conclusão, o Papa propôs uma série de perguntas a fim de que cada um possa fazer um exame de consciência: “Como é a minha relação com o meu anjo da guarda? Ouço-o? Digo-lhe bom dia, de manhã? Digo-lhe preserva-me durante o sono? Falo com ele? Peço-lhe conselhos? Ele permanece ao meu lado?». A estas perguntas, disse, “hoje podemos responder” para averiguar “como é a nossa relação com o anjo que o Senhor mandou para nos preservar e acompanhar, e que vê sempre o rosto do Pai que está nos céus”.

Fonte : EDUCRIS


quarta-feira, 24 de setembro de 2014

# Frei Bento Domingues # 80 anos

Como forma de assinalar os 80 anos de Frei Bento Domingues, o blog "No Encontro..." publica hoje:

. uma das crónicas que mais gostei, publicado no Jornal O Público em 12 de setembro de 2011.
. entrevista concedida à TSF no passado domingo 21 de setembro de 2014.




in Jornal o Público, 12 de setembro de 2011.

Despediu os ricos de mãos vazias


1. Há muitos anos, um rapaz, a quem entreguei o Livro das Horas para participar na oração de Vésperas da minha Comunidade, ao devolvê-lo, segredou-me: então sempre é verdade que Nossa Senhora é a padroeira da UDP!
As Vésperas terminam com um hino revolucionário, cantado ou rezado, atribuído por S. Lucas a Maria de Nazaré quando, grávida de Jesus, foi visitar a sua prima Isabel, grávida de João Baptista. Deste encontro a quatro resultou um poema conhecido, na tradução latina, como o Magnificat. A Bíblia de Jerusalém chama-lhe a esperança dos pobres, mas apresenta-se também como a desgraça dos ricos: “derrubou os poderosos de seus tronos/ e exaltou os humildes. // Aos famintos encheu de bens/ e aos ricos despediu de mãos vazias”.

Charles Mauras (1868-1952), de quem Salazar recebeu alguma influência, apreciava a Igreja Católica pela sua constituição hierárquica e por ter conseguido esconder do povo muitos dos ensinamentos perigosos da Bíblia. Desconfiava dos evangelhos - escritos por 4 obscuros judeus - e detestava, de forma especial, o Magnificat. Manifestava-se agradecido à Sagrada Liturgia do seu tempo por ter mantido essa peçonha em latim, envolvida em sons musicais que lhe disfarçavam o veneno.

Será, no entanto, este hino a voz de uma mulher ressentida que transfere para Deus uma insaciável vontade de vingança? Ricos, escutai: até hoje foi a vossa vez, agora é a nossa!

2. Este poema inquietante, amortecido pela repetição diária, faz parte do Evangelho de Jesus Cristo que é uma boa notícia, precisamente porque anuncia não só aquilo a que é urgente dizer sim e aquilo que é preciso recusar, mas, sobretudo, porque mostra como é possível a todos começar já a mudar a vida.

Os ricos podem salvar-se consentindo em libertar-se do seu poder de humilhar os pobres. Tanto o caminho da felicidade das vítimas da pobreza imposta, como o da felicidade dos ricos, descobre-se no processo da conversão do desejo. Mudar o desejo de dominação em vontade de trabalhar por um mundo de irmãos, um mundo de mãos dadas - contribuindo cada um com os seus talentos para cuidar sobretudo daqueles que nasceram “sem unhas nem viola” – significa encontrar o tesouro escondido da vida verdadeira. Zaqueu, ao encontrá-lo, foi pronto em confessar-se como corrupto profissional e em tornar-se o exemplo perfeito da libertação alegre, interior e exterior, que a conversão operou na vida de um grande rico (Lc.19).

No domingo passado, S. Paulo recomendava aos cristãos: “ não devais nada a ninguém, a não ser o amor de uns para com os outros”. Para ele, todos os mandamentos podem ser resumidos em poucas palavras: amarás o próximo como a ti mesmo. Isto, porém, só é possível, de forma consciente ou inconsciente, com o olhar do coração divinamente transfigurado. Admitir que qualquer ser humano é nosso irmão - e deve ser tratado como tal - é mais difícil do que admitir, neste mundo caótico, a presença de Deus.

3. Os fariseus, amigos do dinheiro, riam-se do lirismo das propostas paradoxais de Jesus sobre as relações entre felicidade e riquezas. Não podiam, por isso, entender as razões e o sentido da sua dureza com os ricos, os abençoados da divindade. Jesus não suportava uma cultura e uma religião que tinham como bênção divina um sistema de privilégios que mantinha e alimentava um abismo entre criaturas humanas. Enunciou um princípio para a religião em que cresceu que pode ser universalizável para todas as instituições: o Sábado é para o ser humano e não o ser humano para o Sábado. A economia e a finança são para o ser humano e não o ser humano para os impérios dos mercados.

Hoje, ainda com mais razão, devido à distância de tempo e cultura, podemos pensar que, do Novo Testamento, nada há que nos possa ajudar a ser felizes nesta civilização suicida.

No entanto, no passado domingo, Jeffrey D. Sachs, professor de economia e director do Earth Institute na Universidade de Columbia, mostra precisamente o contrário, num artigo publicado no EL PAÍS, intitulado “La economia de la felicidad”. Segundo ele, nos EUA, e não só, uma ampla maioria dos cidadãos crê que o país está no caminho equivocado. O pessimismo disparou. Importa, por isso, “voltar a considerar os motivos básicos da felicidade na nossa vida económica”. A procura implacável de maiores proventos está a conduzir a uma desigualdade e a uma ansiedade sem precedentes e não a uma maior felicidade e satisfação na vida. O progresso económico é importante e pode melhorar, de forma marcante, a qualidade de vida, mas só no caso de ser um objectivo que se procura juntamente com outros. A felicidade só se consegue com uma estratégia equilibrada, tanto por parte dos indivíduos como das sociedades. Como indivíduos, não somos felizes se nos privam das nossas necessidades elementares, mas também não somos felizes se a procura de maiores proventos substitui a nossa dedicação à família, aos amigos, à comunidade, à compaixão e ao equilíbrio interior. Como sociedade, uma coisa é organizar as políticas económicas para que os níveis de vida aumentem e outra, muito diferente, é subordinar todos os valores da sociedade a ter cada vez mais.


Entre nós, a obsessão financeira, em nome da troika, acaba por deixar os pobres sem nada e os ricos com as mãos cheias. Nossa Senhora perdeu.


Público, 12 de Setembro de 2011



in Jornal TSF, 21 de setembro de 2014.


clicar.... Entrevista à TSF






segunda-feira, 22 de setembro de 2014

~ soltas ~

O silêncio que nos beneficia,
trás consigo o bem em mim.
No silêncio, o somos levados pela contemplação do que me rodeia,
do universo de que faço parte,
de toda a imensidão que me acolhe na profundeza o inaudível.

A minha existência torna-me parte de um todo, em que tudo se liga naturalmente entre si, incluindo o meu pequeno e insignificante "eu".

Páro e fico no silêncio, numa profunda introspeção, em que me surge a consciência do belo em toda a existência.

A beleza extrema do silêncio não nos ausenta do som da vida, mostra-nos, isso sim, aquilo que o som nos trás e que nos mostra. Daí que a distinção entre entre o som que interessa e o ruído que cansa o interior seja essencial.
Um pensamento débil resulta, muitas vezes, da ausência de convivermos com o silêncio.

É no silencio que abrimos a predisposição para escutar aquilo que Deus nos transmite.



Notícias - Filipinas: Povo está sedento de "misericórdia e compaixão"

Bispos abordaram visita do Papa ao arquipélago, agendada para o início de 2015





Cidade do Vaticano, 22 set 2014 (Ecclesia) 
A Conferência Episcopal das Filipinas abordou hoje a visita pastoral do Papa Francisco ao país, agendada para o início de 2015, entre 15 e 19 de janeiro.
Em declarações veiculadas pela Rádio Vaticano, o presidente da Comissão Episcopal para a Comunicação Social e os Media, porta-voz dos bispos, apontou que a iniciativa será “uma grande bênção” para a comunidade católica que vive naquele arquipélago asiático.
D. Mylo Vergara, bispo de Pasig, sublinhou ainda que o povo filipino está sedento de “misericórdia e compaixão”.
Os bispos filipinos querem fazer destas duas palavras as linhas mestras da visita de Francisco e convidam as comunidades a “utilizarem os ensinamentos do Papa como forma de reflexão, oração e ação”.
“Que os media possam ser um meio poderoso para o incentivo à prática das obras de misericórdia, de visita aos doentes, idosos e reclusos, da difusão da compaixão, sobretudo junto dos mais desfavorecidos”, exortou ainda D. Mylo Vergara.
JCP    
(Fonte: Agência Ecclesia)


domingo, 31 de agosto de 2014

A LÓGICA DO MUNDO E A LÓGICA DA CRUZ (resumo)



“Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz, e siga-me.”
Mc 8,34


“Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me.”
Lc 9,23

“Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me”
Mt 16,24




O apego ao mundano retira-nos a capacidade de olhar para o mundo com os olhos do desprendimento, com os olhos cobertos pela luz do amor de Deus. O importante reside no encarar a nossa existência enquanto agentes concretos para a realização do Reino de Deus, propósito central da ação de Jesus, sem nos subjugar ao hedonismo que nos condena e nos leva a ficar remetidos ao pavor da finitude, passando assim,  ao lado o sentido eterno da vida.



Hoje, num mundo confuso e sem rumo, em que as injustiças reinam e a justiça tarda, torna-se fundamental nos posicionarmos, enquanto comunidade crente, como pessoas comprometidas com o valor de todos e de cada um, assumindo o mundo nas mãos para sermos todos com ele, sem nos vendermos às tentações, optando pela santidade...



A Palavra de Deus não se inventa, a sua vitalidade e interpelação é incrivelmente  atual, seria pois, bom que não existisse o receio de nos expormos a Ela, e através Dela encontrarmos o significado total da nossa relação amorosa com Deus. O “Ágape” de Deus é mais forte do que a própria morte, este Amor está na potência de nos olharmos, e assim contemplarmos luz que ilumina o mundo e a vida, porque a luz de Deus reside prioritariamente no olhar sincero, na limpidez com que Ele nos abarca a vida. Porque, e como refere Jean-Luc Marion, o dom explica-se por si mesmo, assim o amor só pode ser verdadeiramente sentido, se for praticado...



A cruz não é a obrigação para seguir a Jesus, ela é sim, a consequência de O seguir em verdade, sem desvirtuar a mensagem, incorporando a palavra e fazendo dela ação.
O que Jesus quer dizer pode ser dito da seguinte forma: “se me queres seguir, prepara-te já que nunca será fácil, porque como o mundo está vão encontrar a “crucifixão””.

A cruz não é o mal e o destino penoso da vida..., mas sim o sofrimento que resulta (ou pode resultar) unicamente pelo facto de estarmos vinculados a Jesus. Na realidade seguir a Jesus não é buscar cruzes ou sofrimentos, mas aceitar a “crucifixão” quando ela aparecer.
Isto não se enquadra com uma pessoa que se vitimiza na existência, mas aquela que vai na vida na busca de Jesus exibindo o seu sofrimento enquanto parte integrante desta entrega.
Daí que é errado aquele jeito (aliás bem português), de se não estamos mal, não podemos estar bem.



Infelizmente muitos procuram a “mortificação”, as cruzes, como forma de expressar a sua fé. Tudo o que é ascética eu valorizo, agora buscar cruzes para estarmos mais próximos de Cristo, não. Jesus não quis o sofrimento para nada, os seus sinais são claros, ele veio para tirar o sofrimento de quem sofria, de dar justiça a quem estava relegado à exclusão, etc.
Tudo isto Jesus fez, não negando ao Pai “bateu-se” por implementar uma forma renovada de convivência, e com isto obteve as consequências, não fugindo delas. Não foi o sangue que nos salvou, mas o amor gratuito que se deu até ao sangue, não porque o quisesse mas porque nós quisemos.