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quinta-feira, 31 de outubro de 2013

... Soltas ...




O homem de hoje não pára para  escutar a mesma “ladainha” do costume, só a nossa testemunha em gesto, dará para o outro, o exemplo de um caminho diferente em que o destino tenha a permanência humilde de se abrir a Deus.

Cada vez menos olhamos para a realidade de Jesus enquanto homem, Ele que no sofrimento da morte injusta foi capaz de rezar, não por Ele, mas por nós.
O significado da cruz está remetido para o enfeite...



Quem se emociona a olhar para uma cruz?


Quem é capaz de sentir o seu profundo significado?




Não percamos o respeito e recolhimento perante uma cruz, foi ali que Jesus deu a vida por nós, no mais profundo silencio, abandonado, rejeitado, humilhado... mas exaltado, porque no silêncio do Pai, Jesus não foi abandonado, Ele ressuscitou, Ele está vivo!






Notícias: Vaticano News: Homilia do Papa


Homilia do Papa: S. Paulo, exemplo de amor a Cristo


Sem o amor de Cristo, sem viver este amor, sem reconhecê-lo, nutrir-nos deste amor, não podemos ser cristãos. O cristão é aquele que se sente atraído pelo olhar do Senhor, se sente amado e salvo pelo Senhor até o fim”.


 

Sugestão: Musica









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quarta-feira, 30 de outubro de 2013

... soltas ...

O papel da família é assim essencial, ela deseja ser tocada pelo conhecimento, mas também (e em maior intensidade) pelo amor. Ao apresentarmos Jesus a uma criança é abrir-lhe a mente, também para o transcendente.
Desta a tarefa catequética é fundamental, só com persistência em abrirmos ao jovem o exercício espiritual teremos adultos apaixonados pela espiritualidade, em que o acolhimento de Deus se apresente como um desfrute do próprio espírito (cf. 1 Cor 2,4; 1 Tes 2,13).

A Verdade é a Liberdade, e só através de Deus atingiremos a Verdade que nos Liberta.




 
A Igreja para ter um verdadeiro significado de salvação, não poderá estar divida. Esta divisão vem em discordância com a pretensão unificadora de Jesus Cristo. Os próprios apóstolos tiveram no início certos conflitos que poderiam originar rupturas, no entanto foi no primeiro concílio de Jerusalém (Act. 5, 2) que Pedro, João, Tiago e Paulo viram que só através de uma união (“communio”) a doutrina de Jesus teria um sentido profundo e marcante nas comunidades.

A Igreja tem de estar sempre atenta ao mundo actual, e basear a sua resposta sempre a partir da acção do Espírito que na verdade se baseia no amor salvador do dom de Deus. Como a Igreja faz parte deste todo, também deverá “carregar a ovelha perdida” (cf. Lc. 15,4-7) e leva-la para casa. Amar é, antes de mais, saber amar, ou seja, agir na caridade, não excluir, não fugir dos desafios, não se ficar apenas pela palavra, a Igreja terá de ser capaz cada vez mais de amar a todos, porque ela é misericórdia, e terá pois de acolher sempre mais um no seu “banquete”. Ela terá de ter um “coração” de mãe, porque só num coração de mãe cabe sempre mais um, porque só um coração de mãe é capaz responder a uma falta com o perdão e amor. Tal como referiu o Papa João Paulo II na Encíclica – “Mulieris Dignitatem” - : “… a presença especial da Mãe de Deus no mistério da Igreja, nos consente pensar no vínculo excepcional entre esta “mulher” e toda a família humana”.
Só nesta atitude é que a Igreja tocará sempre em mais corações, tornando-se cada vez mais uma acção concreta e real de Jesus Cristo na Terra.

Quem deverá julgar não é a Igreja mas sim Deus, a função da Igreja deverá ser sempre a de acolher em misericórdia e amor, porque Deus estará no fim presente para fazer a “divisão entre do trigo e o joio” (cf. Mt. 13,24-30). Com isto não estou a referir-me a uma Igreja “cega”, antes pelo contrário, a Igreja terá de estar de olhos bem abertos para a verdade, deverá denunciar a injustiças e ter a coragem por lutar sempre para o bem comum. A sua função é bater-se para que todos sejam o “trigo”, em unidade com Deus, Cristo e Espírito Santo. O sofrimento dos homens terá de ser para a Igreja motivo também de sofrimento, mas ao mesmo tempo de união e coragem para agir. A sua principal missão terá de ser virada para uma acção em relação àqueles que mais sofrem.
Irmãos a Verdade que está em Jesus Cristo, remete-nos sempre para o bem comum – e este deverá ser sempre o primordial objectivo da Igreja -, lutar pela dignificação do ser humano em todas as suas vertentes, mas não só de alguns homens, mas de todos os homens, crentes e não crentes, só deste modo se concretiza a vontade do Senhor. A divindade de Deus é em favor dos homens, de todos os homens, e ao mesmo tempo de toda a Terra. A “consciência ecológica”, hoje tanto em voga, é também, obviamente, uma vontade de Deus.

Para quê que me interessa uma “verdade restrita” (só para alguns predestinados)?

A verdade para ser útil tem de estar ao alcance de todos, só desta forma torna-se razão (“logos”). Quando dizemos que não existem primeiros nem últimos, queremos também dizer que o que existem são homens com o mesmo grau de importância ao “olhos” de Deus. Aqueles que nas nossas cidades dormem nas ruas (e infelizmente cada vez mais em maior número) na mais profunda pobreza, deverão ser a nossa vergonha, a vergonha de um mundo ocidental “moderno”, mas que no entanto o tal progresso não teve também uma medida humanitária que se impunha. Quando sofre um homem, sofre o Senhor, foi isso que Ele sempre nos disse.
Quando digo que a fé não é razão única e singular para a salvação, o que quero frisar é que não basta “ser muito crente”, sem existir uma prática concreta, “ser crente” apenas na palavra não é mais do que hipocrisia, a fé só tem razão de ser se tiver uma acção em caridade, em que o Espírito Santo se manifeste como dom de vida em Cristo. É assim que a fé ganha sentido, agir na verdade, sem medo nem arranjando “desculpas” circunstanciais.

Foi esta coragem que tiveram as primeiras comunidades cristãs. S. Estêvão o primeiro mártir do Cristianismo, morreu quando falou com coragem acerca do fim da Antiga Aliança operada pela redenção de Cristo, mas fê-lo sem receio porque a sua fé concretizou-se em acção concreta. Claro que o exemplo de Estêvão é um exemplo extremo, no entanto serve de modelo para os dias de hoje, em que, no mundo ocidental, uma atitude concreta a partir da Palavra do Senhor não nos levará ao martírio, no entanto passamos os dias a lamentarmos as injustiças, os escândalos, a pobreza, a miséria, mas de concreto nada fazemos para alterar a situação, pior ainda pactuamos com ela, escondidos atrás de uma capa mentirosa de “impotência”, mas, na mais profunda hipocrisia, vamos à eucaristia todos os domingos como grandes crentes, mas no entanto durante a semana Deus fica na “gaveta”, ou melhor só nos lembramos Dele quando estamos perante uma aflição. 


Afinal que cristãos somos nós na realidade?


Ser é estar com…, ser é amar o próximo, ser é caminharmos juntos em direcção a Deus em prefeita comunidade de paz, sem descriminações, contra qualquer tipo de intolerâncias, combatendo sempre pela Verdade e a justiça. Ser é estar em comunhão com Jesus Cristo fazendo da Sua palavra modo de vida. Eu acredito numa Igreja como comunidade aberta, não a modas nem a tendências em voga, mas aos homens vistos como filhos de Deus, buscando-os onde quer que eles estejam, sejam eles quem forem, não impondo uma religião mas mostrando um caminho em que através dele serão tocados pelo dom do Senhor e entenderão então o que é Igreja. Impor algo não faz parte do sentido profundo da palavra de Jesus, a imposição provoca resistência e intolerância e foi contra isto que Cristo mais lutou, e que pela sua morte por crucifixão demonstrou a condição mais degradante do ser humano, mas ao redimir os nossos pecados através do seu sangue, foi precisamente na sua paixão e morte que nos mostrou o seu infinito amor, na sua mais suprema glória.
Sem caridade nada mas mesmo nada se realiza…

“Sit laus Deo Patri, summo Christo decus, Spiritui Sancto tributos honor unus. Amen”  

(Gloria seja a Deus Pai, glória a Cristo Rei, e ao Espírito Santo, seja toda a Trindade a mesma honra. Amén)







 






Notícias: Público


Habermas: partidos europeus optam pelo oportunismo perante um desafio histórico

"É possível alargar as fronteiras da legitimação democrática para lá das fronteiras do estado-nação? 

A transnacionalização da democracia oferece uma saída"
Jürgen Habermas, filósofo alemão


Habermas, 84 anos, atravessou o palco devagar até chegar ao púlpito, no canto esquerdo, e a sala seguiu em silêncio quase reverencial  a viagem, curta e lenta. Agradeceu o convite e os elogios com que foi apresentado (Artur Santos Silva, presidente da Fundação, descrevera-o como “um europeu como já não há”) e começou por se desculpar por não ter com a era digital a mesma familiaridade que tinha com o universo mediático dos anos 1960, quando escreveu A Transformação Estrutural da Esfera Pública.








Notícias: Radio Vaticano


Comunhão dos Santos é uma verdade consoladora da nossa Fé - o Papa Francisco na audiência geral


“Como é belo apoiarmo-nos uns aos outros na aventura maravilhosa da fé! 
Digo isto porque a tendência a fecharmo-nos no privado influenciou também o âmbito religioso e, assim, muitas vezes é custoso pedir ajuda espiritual aos que connosco partilham a experiência cristã. 

 


 Quem de nós não experimentou inseguranças, perdas e mesmo dúvidas no caminho da fé? 




Tudo isto não deve espantar-nos, porque somos seres humanos, marcados por fragilidades e limites.”


terça-feira, 29 de outubro de 2013

Notícias: acidigital


Lançado na Itália livro de Bento XVI sobre a ecologia em relação ao ser humano




Segundo a opinião do secretário do Bispo Emérito de Roma "este livro será uma contribuição à humanidade, que pode ser cada vez mais responsável por este dom que o Senhor nos deu, não como patrões, mas sim como custódios".


Depois de destacar a continuidade que observa entre o Bispo Emérito de Roma e seu sucessor, o Papa Francisco, Dom Xuereb recordou também o gosto de Bento XVI pela natureza.
"Não tem sentido cuidar a natureza, as plantas e desprezar o homem. O respeito pelo homem, como
 consequência, leva a respeitar a natureza", concluiu
 Fonte: acidigital


Notícias: acidigital

Encontro de oração pelo Oriente Médio reúne principais líderes cristãos no vaticano




Imagem referencial. Foto: Grupo ACI
O encontro estará centrado em 5 temas: "As novidades do Concílio Ecumênico Vaticano II sobre o Oriente Católico", "o desenvolvimento das ideias conciliares no magistério, em particular a Orientale Lumen, e na normativa sucessiva, à luz dos Sínodos para o Oriente Médio e para a Nova Evangelização", "a crescente sensibilidade na Igreja universal a favor dos católicos orientais e recíproca interação na missão eclesiástica", "relações entre hierarquia oriental e latina no serviço pastoral", e "os orientais em diáspora".
Fonte: acidigital

Notícia: Agência Ecclesia









segunda-feira, 28 de outubro de 2013

O amor constante está também ligado ao conceito de união.



A partir da visão agostiniana a pneumatologia e espiritualidade estão conjugados. Estas realidades são não só estruturantes para o homem como também para a própria Igreja. Ela inspirada pelo “sopro” divino de Deus deverá espelhar Nele a sua acção em todas as suas vertentes.
É importante referir que a latinidade católica tem fundamentos essências ligados a S. Agostinho, já os nossos irmãos ortodoxos olham para esta acção de uma forma um pouco distinta. Eles evitam denominar o termo “pneuma”, assim, segundo a sua doutrina “pneuma” é o próprio Espírito Santo. Desta forma é o “nous” que se liga com a presença activa do Espírito em nós. Podemos concluir, de uma forma simplificada, que na ortodoxia o “nous” é a acção do Espírito de Deus no nosso interior, sendo que este interage com o corpo e com a alma.


Este amor constante está também ligado ao conceito de união.
“O pneuma não está onde se fala em nome próprio, onde se busca a glória própria e solitária, é que desta forma, como é óbvio, cria-se facções. O verdadeiro Espírito manifesta-se precisamente no recordar e no unir.”

Para S. Agostinho a palavra “amor”, que vem na Sagrada Escritura, tem um significado bem específico: Espírito Santo. Desta forma por um lado, o “amor é Deus”, por outro lado, “vem de Deus”, e juntando o alcance de Deus: “Deus” é “vindo de Deus” isto significa que aquilo que conhecemos por “Deus de Deus”, quer dizer  Deus é a Verdade e a Vida: Luz da Luz, Deus Verdadeiro de Deus Verdadeiro.
“Deus de Deus” é a força que leva ao nascimento do novo homem a partir da acção do Espírito, que está inserida na caridade.



Este dom do Espírito Santo é visto por S. Agostinho nitidamente na conversa de Jesus com a Samaritana (cf. Jo. 4,7-14), em que Ele através da água se revela com dador da “Água Viva”. Para S. Agostinho Cristo é a fonte de “Água Viva”, existe portanto uma verdadeira relação entre Cristologia e Pneumatologia. Assim cada Cristão, através d´Ele, também se pode tornar fonte de Espírito.
S. Agostinho acerca da relação entre Deus e Cristo conclui:





“Ele não vem de Deus como nascido, mas sim como doado” (non quomodo natur, sed quomod datus). “Não se chama Filho, porque nem nasceu como unigénito, nem foi “feito”… como nós” (neque natus… neque factus). Deste modo a procedência de Deus aparece da seguinte forma: nascido, doado, feito (natus, datus, factus).

Se a essência do Filho é visto como “gerar”, a essência do Espírito Santo está no “doar”. Deus é-nos concedido como um dom, é a partir deste dom que encontramos a salvação. No entanto também nós somos chamados a sermos levados nos seus braços para a salvação. O dom de Deus é portanto (e como referi atrás) o próprio Deus, daí Ele ser o verdadeiro conteúdo da oração cristã. A oração correcta não deve implorar uma coisa qualquer, ela deve implorar para que o verdadeiro dom de Deus se manifeste na essência que é Ele próprio. Para S. Agostinho isto está bem demonstrado no “Pai-Nosso” quando dizemos “o pão-nosso de cada dia nos dai hoje”, Deus é portanto o “nosso pão”, mas este “nosso” está posto como doado a nós, tal como o Espírito Santo e mesmo o próprio Jesus Cristo. A Santíssima Trindade é a expressão da doação total de Deus, através do Dele - que também nos foi doado - conseguimos alcançar e entender o Amor permanente e eterno de Deus por nós.

“O amor (caritas), é que faz a separação entre a esquerda e a direita (cf. Mt. 25).
O que ama está à direita, o que não ama está remetido para a esquerda. Sem amor nada “de bom” é realmente bom.”

Para S. Agostinho esta visão está assente de forma nítida em Paulo e Tiago. Eles são uma referência essencial da fé operante no amor, para S. Tiago a fé tem mesmo a capacidade de salvação, mas esta terá de ser inspirada pelo Espírito, porque a fé que é própria até dos demónios, mas esta que não pode salvar (Tg. 2, 9). A fé pode até existir mas não salva só por si, só através do amor posto na fé (acção do Espírito Santo) é que alcançaremos a verdadeira salvação.

Esta é sem dúvida uma conclusão importante e valida, não basta acreditar para que a acção de Deus se concretize, sem a acção do dom do amor, através do Espírito Santo a transcendência não se manifesta. Não basta “dizermos” que acreditamos em Cristo, é necessário que este acreditar seja causa de adesão. Só desta forma a fé leva a que sejamos contemplados pelas maravilhas do Senhor, no entanto para encontramos o caminho na sua direcção muitas vezes implica renúncia de estilos de vida às quais abraçamos como as “mais correctas”, e isto leva a que nos falte a coragem, ficando o derradeiro passo sempre por dar.
Ao lermos o Evangelho (e como já se abordou atrás) notamos que o próprio demónio conhece bem quem é Jesus, daí que não basta sabermos quem é Jesus para que Ele viva em nós. Para que tal aconteça temos de ter uma atitude firme no amor para com Ele. A sede por Deus, é a sede do Amor, é no fundo estarmos sempre de coração aberto para recebê-lo, e esta atitude é revelada através da relação que temos perante os outros.

Jesus que é Deus deu a vida por nós, como acto mais supremo de amor, nós estamos hoje aptos para dar o quê aos nossos irmãos?

É nesta “caritas” que se vê o cristão, e a partir deste ponto que se liga os sacramentos a doutrina (Eclesiologia) à Pneumatologia.
Foi pois com base nisto que se levantou o confronto de S. Agostinho com o donatismo. Para ele os donatistas, que tinham os mesmos sacramentos que a Igreja Católica, falharam. Para S. Agostinho os donatistas quebraram o amor, e sem amor nunca se atinge a verdadeira salvação. A ideia de perfeição do donatismo eleva-se à própria unidade, renunciando desta forma ao próprio amor. Para S. Agostinho a Igreja é Caritas. A essência da Igreja deverá ser sempre conduzida pela fé, e esta fé terá de estar sob o comando do amor. Como tal e analisando de uma forma mais profunda esta noção, o amor não se insere em descriminar, o amor está contido no unir (communio).

”Enquanto criatura espiritual, enquanto corpo do Senhor edificado pelo “Pneuma”, que se torna corpo de Cristo, já que o “Pneuma” torna os homens capazes do “communio”, assim enquanto criatura do Espírito, a Igreja é o “dom” de Deus neste mundo, e este “dom” é amor”.

Um cristão nunca poderá ser visto como pertencer a uma seita separada dos outros. O Cristão tem de estar sempre ligado a todos (crentes e não crentes), com o objectivo de levar a todos a Pascoa do Senhor. Esta ligação à comunidade inteira terá de estar suportada na humildade e amor – temos de ser suporte e esperança para todos que buscam o sentido para as suas vidas – pois caso contrário ficará em falta o Espírito Santo, que é quem unifica. Nós cristãos temos pois a obrigação de juntarmo-nos na verdadeira comunidade dos crentes. Desta forma a afirmação “A Igreja é Caridade” não fica confinada a um âmbito puramente dogmático-académico, mas remete para o dinamismo que edifica a unidade que se demonstra na coesão mútua da Igreja. Desta forma para S. Agostinho, o cisma é uma heresia pneumatológica, já que confronta o princípio existencial. Esta virtude no pensamento de S. Agostinho, teve na sua execução um carácter extremo, que mais tarde abordarei, no entanto a essência do pensamento é fascinante e revestido de uma importância impar para todo o pensamento do Cristianismo. A noção de amor que S. Agostinho tem acerca da missão da Igreja, é algo que não se pode perder, o amor é a pedra basilar para a Salvação do mundo, sem ele nada é possível.
É importante salientar o seguinte, para S. Agostinho e também na linha do meu pensamento pessoal, a caridade não está automaticamente ligada àqueles que permanecem à Igreja, aliás esta noção é bem visível, o facto de se dizer que se pertence à Igreja não significa que se esteja, à partida, imbuídos pelo dom da caridade, a única certeza que podemos ter é que ao afastarmo-nos da Igreja, afastamo-nos também do sentido profundo da caridade. Através da Igreja temos uma via, que se utilizada no interior do ser humano, somos tocados pela caridade: “quanto mais a pessoa é da Igreja, tanto mais tem o Espírito Santo”. O sentido do Cristianismo está presente nesta denominação do espírito como amor, aliás é aqui que assenta todo o significado da Trindade, ou seja, o sentido de união acontece no amor – caridade.
Devido às divergências entre a Igreja Católica e o donatismo, levou a que passassem de pontos de vista diferentes ao nível verbal e conceptual, para a prática de actos violentos. No início houve por parte dos donatistas uma acção de grande violência contra a Igreja Católica, esta em resposta, agiu também com violência. Para muitos aqui se lançaram os primeiros passos para uma inquisição dura por parte da Igreja Católica…

Esta ligação da Igreja e amor, por mais profunda e compreensível que seja, acarreta também os seus perigos. Esta visão, se deturpada, poderá levar a restrições perigosas. A Igreja vista como amor para ter uma expressão de verdade e de ligação a Jesus Cristo, nunca poderá desligar-se do Espírito, esta ligação terá estar presente não só enquanto existência concreta para os féis, como na sua vertente institucional.
Irmãos, não basta afirmarmos que a Igreja é Amor, ela tem de o ser na sua verdadeira forma, ou seja, através do Espírito Santo. O próprio S. Agostinho para concretizar esta noção, levou a pactuar com algumas práticas perigosas, que iram marcar a história da Igreja da Idade Média e da Idade Moderna.
Como já referi atrás, no final deste capítulo vou procurar aprofundar um pouco mais a vida e pensamento de S. Agostinho, no entanto gostaria de referir o seguinte: S. Agostinho é uma das figuras mais importantes na formação do pensamento cristão, a sua acção foi, e é ainda hoje, uma grande referência inspiradora para toda a Igreja, e também fonte de inspiração e força orientadora do meu pensamento, no entanto, e na linha de grandes pensadores do Cristianismo, com o passar dos anos as suas ideias tornaram-se mais radicais, caindo por vezes numa certa contradição com a essência belíssima do seu pensamento. Infelizmente não poderemos esquecer que ele com a sua posição mais radical, levou a que nunca se opusesse a uma inquisição violenta, chegando mesmo a entendê-la e em certa medida a apoiá-la. Devemos pois estar bem atentos quando abordamos a ligação entre o homem e o divino, o risco entre o bem e o mal fica muitas vezes confinado um “traço fino”, em que o calcamos sem termos de imediato uma percepção concreta desta acção. Muitas vezes julgamos que estamos a actuar segundo a Palavra do Senhor, mas se reflectirmos com atenção, estamos a impor regras e preconceitos que desvirtuam a essência da Palavra, chegando mesmo a contradizê-la, ou a tirarmos conclusões que efectivamente não existem no Evangelho… Isto é um dos grandes perigos, e que para os quais teremos todos de estar atentos. É importante denunciar sempre que tal aconteça, esta é uma obrigação de todos os crentes perante a Igreja e perante a Verdade. É neste ponto em que a comunidade cristã leiga poderá dar um contributo importante à Igreja.

Só no Amor é que o Senhor se revela como Verdade e Vida. Para aqueles que duvidam e que chegam mesmo a por à prova a acção de Deus, alegando para isso as tragédias que acontecem à humanidade fica esta pequena reflexão:

Deus não é o responsável dos males que os homens comentem entre si. Jesus Cristo manifestou como grande ensinamento: o respeito que deveremos ter pelo próximo é igual ou maior àquele que damos a nós mesmos. A sua existência não assenta na nossa posição de o pormos à prova, mas sim na nossa postura de o seguirmos em fidelidade e amor, para deste modo alcançar a glória. Ninguém conhece Deus de uma forma completa e total, no entanto sem caridade, nunca mas mesmo nunca chegaremos a Ele, portanto se aderirmos de coração aberto à proposta de Deus seremos tocados pela sua divindade, e em comunhão com todos em Jesus Cristo encontraremos o caminho rumo à Vida Eterna. Só poderemos entender Deus se entendermos Jesus, Ele que é a presença do Verbo feito carne, é também o caminho da razão e da salvação. Ele que é Deus feito homem, indica-nos como alcançar a salvação, segui-Lo é entendê-Lo, segui-Lo é no fundo estarmos no caminho do encontro com a essência primeira e última de todos as coisas. Desta forma o progresso científico, só tem ligado a si o desenvolvimento se tiver como foco o homem em toda a sua totalidade. Daí que sem caridade nada se alcança, só na caridade estaremos no caminho da verdade, que se expressa no próprio Deus.

Claro que ao concluir o sentido da Igreja enquanto instrumento do amor (caridade) e salvadora, com isto não estou a afirmar que ela não tenha um caminho bem definido, mas por outro também não me estou a referir a uma Igreja que “não olhe para os lados” e que com isto se torne instrumento de intolerância. O intolerante torna-se intolerável, e isso fará com que se desvie na essência da caridade comandada pelo Espírito Santo e que lhe foi concedida como dom através de Jesus Cristo. Tendo os “olhos” sempre focados em Jesus, a Igreja estará sempre no caminho correcto, porque só através Dele a salvação e a verdade estará ao alcance do homem. É assim que a Igreja deverá ser sempre…
A Igreja terá de ter uma consciência que não se pode fechar no empirismo, ela que administra os sacramentos e transmite a Palavra de Deus nunca poderá dividir-se entre “Igreja de Espírito” e “Igreja instituição”.
Daí que para S. Agostinho a busca do Espírito não poderá ser realizada a partir do exterior, para ele ao fazer-se isto fica-se sem entender a obra da Pneuma: o amor que une para o permanecer. O grande mistério cristológico liga-se à noção que Cristo não é somente Aquele que ascende, mas é também Aquele que desceu. Ele portanto está simultaneamente ao lado de Deus (que nos dá), e ao nosso lado (que recebemos). Desta forma voltamos à Eclesiologia e à Cristologia: A Igreja está ligada a Cristo como Aquele que desceu, ou seja, Ela deverá ser sempre a continuação da humanidade de Jesus Cristo.

“Em todos os dons, é dado o dom – Espírito Santo”.

Claro que com esta afirmação S. Agostinho que referir que este dom está ligado sempre a Jesus Cristo (demonstrado na Santíssima Trindade), portanto a meta final de todos os dons chama-se: “Unidade”. Esta unidade deverá ter um carácter constante e persistente, e a Igreja deverá ser o espelho concreto desta união. Na sua eterna unidade com Deus, Jesus Cristo deu-nos o dom do Espírito Santo, portanto o dom é também o próprio Jesus Cristo, a Trindade tem na realidade esta forma de dom – Deus, Jesus e Espírito Santo. É neste permanecer na unidade do amor, que através do Espírito Santo somos libertados.
Para S. Agostinho, o cativeiro aprisionado, que antes impedia a construção, é o diabo, ou seja, o diabo é o cativeiro, o exílio, o ser retirado de si mesmo, aquele que se encontra no vazio, sem pátria – é exactamente nesta aparente liberdade que estamos verdadeiramente exilados e presos. S. Agostinho nesta conclusão, não se apoia apenas numa teoria dogmática ou filosófica, mas também a partir da sua experiencia concreta de vida pessoal.



A vitória está portanto no “regresso a casa” (Lc. 15,11-32), edificando-a e tornando-a “Igreja”. A liberdade tem aqui um sentido espiritual, que poderá colidir com o sentido actual. A liberdade aqui está em tornar-se parte da casa, em ser-se inserido na sua construção. Claro que temos aqui de ter uma noção que o conceito antigo de liberdade estava ligado ao sentido de quem tem pátria é livre. No entanto ele supera este conceito social de liberdade a partir da fé cristã: “a liberdade está numa relação indissolúvel com a Verdade, que é a verdadeira pátria do homem”.



Hindus e Cristãos a favor de relações de respeito e solidariedade


Hindus e Cristãos a favor de relações de respeito e solidariedade com todos: Mensagem do Conselho para o Diálogo Inter-religioso, numa festividade hindu



Publicações: “Homilias da manhã”


sábado, 26 de outubro de 2013

Reportagem: A História de Deus (3/3)










Sugestão de Leitura: Filosofias (José Luís Nunes Martins)




Título: Filosofias
Autor: José Luís Nunes Martins
N.º Páginas: 248
Edição: 1.ª
ISBN: 9789723017304
Edição: Paulus Editora









José Luís Nunes Martins escreve todas as semanas no jornal i. Este livro condensa as suas melhores crónicas semanais. 
É uma verdadeira reunião de “filosofias”, com reflexões, sempre belas e profundas, sobre temas variados como o amor e o ódio, a vida e a morte, a alegria e a tristeza, a sociedade e a esperança. Todas as crónicas são ilustradas.

O Espírito Santo é a unidade de Deus a Si mesmo


Um dos temas que se prende de uma forma fundamental com o conceito cristológico tem a ver com o Espírito Santo. O Espírito Santo torna-se real a partir da forma concreta do ser humano tendo como referência principal a fé. Já que a própria fé faz uma ligação ao Espírito Santo.
Efectivamente o Espírito Santo, que para muitos está ligado a um sentido puramente oculto, é muito mais real e concreto do que parece à primeira vista. A fé consistente, fora de qualquer conceito de “cegueira”, leva a um encontro concreto com o Espírito Santo, deste modo Ele fará parte do nosso corpo enquanto seres humanos. Ele não é algo que nos está ausente, que nos é exterior e inatingível, Ele acontece na nossa atitude de fé perante a vida e perante a nossa condição humana. O ser humano ao ser “tocado” e reagindo de uma forma positiva e afirmativa (dizendo sim…) encontra-se com o Espírito Santo. Desta forma torna-se necessário reconhecê-lo, para tal temos de O ver Naquele que nos foi concedido: Jesus Cristo.

Evidentemente que este conceito não é fácil de aceitar, esta visão da amplitude do Espírito Santo, pode levar a que Ele seja visto como uma especulação da vida humana, uma fantasia desligada da realidade. Claro que esta análise do Espírito Santo presente e actuante nas nossas vidas é algo de difícil explicação, no entanto, é aqui que reside muito daquilo que sustenta a nossa crença e o nosso profundo amor a Cristo. É importante falar de uma forma aberta e sincera do Espírito Santo, ou seja, abordá-lo e analisá-lo não somente numa base meramente teórica. Esta análise deverá ter como base a realidade experimentada e interpretada no pensamento. Ela terá que ser bem reflectida e comprovada para que não exista uma confusão entre “espírito próprio” e “Espírito Santo”.
Este é um aspecto importante, temos de ter uma noção de que quando falamos por nossa própria conta, muitas vezes leva a que se entre em contradição com o Espírito Santo. O Espírito Santo, como refere S. João não toma o que é seu.

Este Espírito age na nossa pessoa com uma influência directa do Salvador. Daí que é importante olhar para a Igreja enquanto essência, fundada pelos apóstolos guiados pelo Senhor através da acção do Espírito Santo. Muitas vezes fazer uma análise puramente pessoal (sem ter esta noção bem presente), poderá levar a desvirtuamentos da essência do próprio culto. No entanto também é importante salientar que a Igreja, enquanto instituição, tem muitas vezes se esquecido esta importantíssima noção. A Igreja só estará no caminho correcto se tiver sempre na sua génese de acção e de pensamento a acção do Espírito Santo.
Infelizmente verificamos que há um alheamento deste Espírito redentor, daí que é dever dos católicos (sejam leigos ou religiosos) enquanto membros da Igreja, estarem atentos para que não se deixem apoderar pela tentação, o que infelizmente aconteceu várias vezes na sua história…

Como diz o evangelista João “Deus é Espírito” (Jo. 2,24), logo aquilo que define Deus é necessariamente ser Espírito e ser Santo, aqui reside verdadeiramente a essência de Deus, e expressão verdadeira do Espírito Santo.

Se o Espírito Santo designa o que Deus tem de mais divino, e se existe uma correlação existencial entre Pai e Filho, o Espírito Santo é na realidade a essência primordial da verdadeira união entre Pai e Filho – “ser communio do Pai e do Filho”. Na realidade o Espírito Santo é comum ao Pai e ao Filho, a sua expressão reside precisamente nesta correlação entre os dois, deste modo, a grande especificidade do Espírito Santo é de ser a unidade de Deus que é Pai, e que é o Filho que por sua vez é a expressão de Deus entre os homens. Ambos têm o mesmo Espírito, estão unidos por Ele e com Ele. É assente nesta noção que afirmamos que “Jesus Cristo é Deus na Terra, é Deus encarnado, feito homem como nós”.
É com o entendimento desta noção que deciframos claramente as palavras de S. Paulo ao referir-se ao nosso corpo como templo do Espírito Santo (1 Cor. 6, 19) que actua em nós tanto individualmente como em comunidade, em Igreja.
O Espírito Santo actua em cada um para nos levar à unidade (communio). E ao levar transforma-nos em novos homens – “todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar noutras línguas…” (cf. Act. 2, 1-4)
A própria mediação de Pai e Filho para a unidade plena terá de ser entendida neste “communio”, de uma forma concreta, ou seja a partir das pessoas. A acção de Deus é feita primeiramente através de uma mediação pessoal, o Espírito Santo, que nos foi dado por Cristo, está presente entre os homens de uma forma real e concreta através da unidade verdadeira a Deus. A unidade se não tiver um carácter pessoal acabaria por eliminar o diálogo enquanto diálogo, a acção do Espírito Santo sobre nós não nos tira a liberdade, antes pelo contrário liberta-nos do efémero, e do inútil, já que nos leva a Deus. Na união nunca perderemos o nosso ser individual - a nossa singularidade -, a união assenta na comunhão entre nós e Deus, entre nós e a Verdade. Não é uma unidade a um pensamento ou ideologia, mas sim uma unidade em volta de Deus, e esta união é realizada a partir do Espírito Santo. O Espírito Santo é portanto a verdadeira unidade, personificada e identificada enquanto pessoa. Toda a doutrina da Igreja deverá apontar sempre para o Salvador, daí que a acção do Espírito Santo enquanto terceira entidade da Trindade é o intermediário para a unidade cristã, originada a partir do Amor eterno de Deus.

“O Espírito Santo é a unidade de Deus a Si mesmo, na qual e através do qual Pai e Filho se dão a Si mesmos um ao outro, tornando-se um no outro em Espírito e ao mesmo tempo Pessoa”.

Cristo na realidade é a própria personificação de Deus, personificando deste modo o próprio Espírito Santo, no entanto este Espírito não se fechou e esgotou Nele mesmo. Ele foi-nos dado, daí que a sua própria personificação pode também ser feita através de nós mesmos. Esta adesão é que torna Deus vivo em nós e no meio de nós; o Cristianismo não é apenas uma adesão espiritual, é também uma adesão corporal. Do mesmo modo que Cristo nos foi dado a nós mesmos, também nos foi dado o Espírito Santo, já que tudo converge para o “communio”, para a verdadeira unidade, concreta, real, feita pessoa.
A partir deste acontecimento, foi-nos dado, através Dele próprio, a capacidade de transformar algo de transcendente em algo de concreto, em algo que acontece, que se toca. Tal como Deus nos deu a tocar a Si mesmo através de Seu Filho, também nós poderemos sentir o toque do Espírito Santo, ou seja, o dom de Deus atinge-nos, mesmo que estejamos perdidos e desesperados Ele toca-nos; Ele está sempre bem perto, porque está dentro de nós…

Na visão de S. Agostinho, o “espiritual” tem de ter uma capacidade de unir e de comunicar. S. Agostinho conseguiu uma importante revisão do conceito de espírito enquanto tal. A partir da frase “Deus é Espírito” (Jo. 4, 24) não faz uma divisão entre espírito e matéria, mas sim entre Deus e o mundano: o contrário de espírito não se chamaria matéria, mas antes “este mundo”.
Para ele a dinâmica do espírito está ligada à acção Pai-Filho. A partir desta visão de “communio”, se pode começar a saber o que é Deus e Espírito Santo.

Para S. Agostinho “Espírito Santo” está ligado a “amor” (caritas) e “dom” (domus). Para ele o amor liga-se à própria Santíssima Trindade força vinculante à união. O Espírito Santo é o Amor que une a essência de Deus personificada no Filho, e que nos foi dado como “cordeiro de Deus que tira todo o pecado do mundo”, através do amor infinito que nos tem.
 
“O Espírito Santo, do qual Ele nos deu, faz-nos permanecer em Deus e Deus em nós, mas é no amor que isso opera. Ele próprio, o Espírito, é, portanto, Deus como Amor”.

“O grande dom de Deus é o Espírito Santo, e este tem a sua grande expressão no amor, assim comunica-se no Espírito Santo como amor.”

Claro que o amor supera tudo, no entanto estar aberto ao conhecimento em nada enfraquece o amor, antes pelo contrário, ele é fortificado e solidificado cada vez mais. O essencial do amor assenta no Espírito Santo, na sua capacidade de permanecer eterno.
O cristão deve ter esta noção bem presente, a sua fé é “alimentada” pelo dom que Deus nos deu através do Espírito Santo. Este assenta na sua maior expressão de amor, Jesus Cristo. A nossa aplicação do dom terá de ser feita através da nossa vida e na relação que temos com todos os que nos rodeiam, já que todos “beberam da mesma água”.
Infelizmente para muitos amar o próximo como a nós mesmos “é uma loucura”, mas esta é a “bela loucura” da mensagem de Cristo, e sendo Ele Deus, sendo Ele a Verdade, a “loucura” passa a ser salvação e vida eterna. A assumir as nossas culpas na Paixão, Cristo levou ao extremo o seu amor por todos nós. Mas através do seu sofrimento venceu a morte e fez com que a sua agonia na cruz fosse símbolo da verdadeira vitória e esperança. A nossa realização e felicidade estão Nele. Termos uma vida realizada não está no estatuto social, nem na posse de grandes quantias de bens materiais; a realização completa está na capacidade de proporcionarmos ao próximo o bem-estar e dignidade material e espiritual que merece enquanto ser humano e filho de Deus, enfim, enquanto nosso irmão. É essencial olharmos para o próximo como para nós mesmos, porque Deus está presente no próximo. O próximo somos no fundo nós mesmos, e quem agrada ao próximo, agrada ao Senhor, e ser-lhe-á dada a recompensa, esta é uma Verdade Absoluta.

A fé só por si não é garantia de salvação, a certeza contida na fé, só tem um sentido de salvação se tiver uma manifestação interna e externa perante Deus, e esta faz-se na nossa acção perante o mundo. A acção do Espírito Santo dentro de nós é peça fundamental para atingirmos a glória junto de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Afinal quem já não se sentiu bem consigo mesmo ao ajudar o próximo?

Tenho a certeza que todos nós sabemos o caminho, no entanto este pode levar a certas abdicações que não somos capazes de abandonar… No entanto esta é a grande mentira que nos acompanha, senão vejamos: afinal o que é que abdicamos se realmente ganhamos o amor dos outros? Afinal não somos todos iguais aos olhos do Senhor? Não somos também nós os próximos?
Por isso não existe abdicação mas sim ganho. Este encontro com o próximo, é o encontro com a Verdade, com Vida, e com o Caminho, já que este é o encontro com Deus. Existe maior felicidade do que estarmos na glória do Senhor?
Poderão considerar-me que sou um utópico, então que seja…
Amar Jesus é amar a verdade acima de todas as coisas, ama-Lo é, portanto, amar tudo o que nos rodeia (mesmo aqueles que se apresentem como nossos inimigos), ama-Lo é amar o todo, ama-Lo é amar o Universo, ama-Lo é amar a Deus, porque Ele é Deus. Tirar esta noção da nossa vida é a torna-la efémera, a vida deixa de ter um sentido pleno, torna-se um acumular de sensações passageiras, sem significado profundo. Sem amar a Deus, é impossível amar o próximo.
É pois perante esta realidade que podemos criar uma verdadeira comunidade. O equilíbrio e a busca pela perfeição comunitária só se atinge através do amor de uns pelos outros. Desta forma assumimos plenamente a responsabilidade perante todos, numa acção de elevação espiritual através da acção de Deus em cada um.

O amor verdadeiro terá pois de existir de uma forma permanente e constante, “a obra principal do Espírito Santo” está exactamente no amor unificador em sentido eterno.
Hoje fala-se muito que o “amor não é eterno”, no entanto, para nós cristãos o amor a Deus tem de ser permanente, mesmo nos momentos mais difíceis o amor terá sempre de estar presente. Deus na sua eternidade ama-nos de uma forma tão profunda, que concedeu-nos o Seu Filho, daí que, embora o mistério de Deus seja na sua plenitude inalcançável para a nossa consciência, podemos no entanto ter a certeza num aspecto: só no amor O encontraremos na sua glória eterna, e atingiremos a vitória sobre todas as coisas, até mesmo em relação à morte. Como referiu S. Anselmo: “Deus situa-se além das capacidades humanas, Deus está além do pensamento – do pensável”. Daí que na confiança da razão (em que a fé se apoia) teremos de colocar a nossa vida, sempre dispostos a aceitar os desígnios que Deus nos concede. Segundo esta atitude perante o Senhor S. Anselmo declarou: “Prefiro estar em desacordo com os homens que, de acordo com eles, estar em desacordo com Deus”. Este permanecer em Deus é estar com a verdade, com a razão tendo sempre o amor (caridade) como linha central que sustenta a nossa existência.

Amar verdadeiramente é o sentimento mais belo que nos foi dado, dai que não percam a coragem de se amarem uns aos outros, só assim seremos justos para com o próximo, a caridade na vida é sabermos estarmos numa ligação entre o mundo e o divino, o dom que Deus nos deu é como referia S. Agostinho “Ele próprio”. A vitória não está nas armas, nem no poderio económico, ela está na nossa capacidade de amar, e de amar constantemente, porque através deste amor verdadeiro sem hipocrisias nem sentimentalismos estaremos com Deus, fazendo da nossa vida um banquete, uma vida “em abundância” (cf. Jo. 10, 10).