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sexta-feira, 13 de março de 2015

A quem iremos nós Senhor?” (Jo. 3,68)

Esta sensação de finitude é para todos motivo de inquietação, somos pois chamados a enfrentar novas realidades políticas, económicas, sociais e ecológicas. Não podemos jamais ficar presos nos “obstáculos”, assentando as soluções em bases imediatistas (“soluções possíveis”), mas sim na busca de respostas consistentes para a harmonia da civilização. O mundo ocidental, tão orgulhoso de si, está num sobressalto constante, ultrapassar dificuldades não pode jamais fazer da acção humana fator de injustiça, mas sim fazer que todos sejam sujeitos ativos, fazendo da existência fator verdadeiramente aglutinador do ideal fundamental da vocação humana: a vida.

A vida não pode só ser posta na primeira pessoa, a vida tem que ser vivida com os outros, é aí que os problemas terão a sua solução.

Viver é conviver…

A vida fechada em si mesma faz dos problemas barreiras enormes, tornando-a “sufocante” e mesmo “insuportável”. É através do processo de relação que a esperança se faz realidade, notemos que quando uma pessoa desiste de viver é (muitas vezes) quando a sociedade desiste de viver com ela, a dignidade do ser humano (em todas as suas realidades concretas) deverá ser sempre encarada como aspecto fundamental. A desistência não passa somente pela dimensão pessoal, passa também para a dimensão comunitária.

O homem autónomo está a tornar-se num homem autista.

Deus como qualquer pai quer que o seu filho se faça autónomo, que busque o seu caminho. No entanto esta autonomia está a tirar-nos a noção filial perante Deus, a liberdade está a ser colocada como fuga da nossa própria condição, tal como nos mostra o Evangelista S. Lucas em relação à parábola do filho pródigo (cf. Lc 15,11-32). Também nós estamos muitas vezes numa posição de filhos em busca de uma suposta liberdade, no entanto o que encontramos é a prisão e o desespero. Em Deus encontramos a nossa morada e o nosso consolo, ao querer libertar-nos Dele, caímos no labirinto do mundano, em que a vida se torna superficial, em que nos deixamos corromper pelo orgulho e a vaidade, em que tudo é feito na busca de um retorno, imperando fatalmente a satisfação pessoal e egoísta.

Perdemos a capacidade de escutarmo-nos, cada um tenta colocar a sua posição como “verdade universal”, deixamos de utilizar o silêncio e a solidão, enquanto fator para o encontro com Deus. Estamos a fazer da nossa solidão não a “fonte ” para uma abertura espiritual, mas sim de “terra seca”, tornando-nos “secos” por dentro, não existindo qualquer solução “cosmética” que mascare esta triste realidade. Só em Deus e perante Deus, a nossa vida é relativizada perante os horizontes que Ele nos dá, colocando-nos na direção correta (“oriens”), nesse caminho que Ele também faz na nossa direcção e que nem nos apercebemos. Deus não olha para os homens na aparência, mas sim no coração (cf. 1 Sm 17,7). Infelizmente na condição em temos vivido na atualidade, também Deus aparece como peça descartável, em que só o buscamos quando nos é útil, vivemos uma vida na mais pura ausência de Deus (1). Mais do que um abandono de Deus, o homem em muitas circunstâncias tem-se abandonado de si mesmo.


Da mesma forma que Deus nos procura (cf. Gn. 3,9), nós ficamos muitas vezes retidos na procura, perdidos no meio de um oceano de incertezas, em que não sabemos para onde vamos.

“A quem iremos nós Senhor?” (Jo. 3,68), uma questão colocada por Pedro apresenta-se completamente atual, entramos numa espiral de incertezas, de medos e inseguranças perante futuro. Temos que ser capazes de nos desprender das correntes que nos prendem, olhemos na direção do Deus Vivo, não nos percamos em exercícios de justificação do maligno, quando nem nos abrimos para a beleza inserida na manifestação de Deus como homem, que se abriu à convivência e abitou no meio de nós. Muitas vezes procuramos saber mais de Santos do que do próprio Jesus, quando os mesmos passaram a vida a procurar o Senhor. Não inventemos “cristos” que contradizem a pessoa de Jesus de Nazaré, na realidade concebermos cristo segundo a nossa vontade não é exercício difícil, agora entender Cristo na pessoa concreta de Jesus é que se torna um exercício mais exigente. No entanto foi naquele homem concreto, que conviveu, que chorou, que voltou atrás com a sua palavra, que teve medo... que Deus encarnou e viveu no meio de nós, sendo um com os outros e para ou outros, e não um e os outros.

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