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sexta-feira, 18 de abril de 2014

A PÁSCOA DE JESUS CRISTO

“Antes da festa da Páscoa, Jesus, sabendo que tinha chegado a sua hora da passagem deste mundo para o Pai, Ele, que amara os seus que estavam no mundo, levou o seu amor por eles até ao extremo.”
(Jo 13,1)




A “hora” de Jesus é o culminar da revelação e da própria obra salvífica de Deus. Esta é a “hora” que assimila a chegada da existência, em que ao ser vivida com os homens entra na “passagem” de Si mesmo ao Pai, na plenitude da consagração de si mesmo: Amor Maior dado em gratuidade aos homens.





“Se tem algum valor uma exortação em nome de Cristo, ou um conforto afetuoso, ou uma solidariedade no Espírito, ou algum afeto e compaixão, então fazei com que seja completa a minha alegria: procurei ter os mesmos sentimentos, assumindo o mesmo amor, unidos numa só alma, tendo um só sentimento, nada façais por ambição, nem por vaidade; mas com humildade, considerai os outros superiores a vós próprios, não tendo cada um em vista os próprios interesses, mas todos e cada um exatamente os interesses dos outros.
Tende entre vós os mesmos sentimentos, que estão em Cristo Jesus:
Ele, que é condição divina,
não considerou como uma usurpação ser igual a Deus;
no entanto esvaziou-se a si mesmo,
tomando a condição de servo.
Tornando-se semelhante aos homens
e sendo, ao manifestar-se, identificado como homem,
rebaixou-se a si mesmo,
tornando-se obediente até à morte e morte de cruz.
(Fl 2,1-8)


A “Kenose” de Jesus não O faz deixar a condição divina, no entanto é precisamente neste mistério que se apresenta “a nu” o amor de Deus por toda a humanidade. É nesta entendimento que sempre digo: “não foi o sangue de Cristo que nos salvou, mas sim o Seu amor que se deu até ao sangue”. Assim a Sua morte, cujo significado transmitiu na última ceia, culmina no ápice enquanto o próprio sacramento do Seu calvário.

Foi na Páscoa que Jesus se mostrará como o crucificado, agora é Ele o novo Templo, Nele encontramos a nossa identidade e coesão enquanto povo crente, que contempla o mais belo tesouro que nos abre a profundidade e proximidade mística entre nós e o divino... entre nós e Deus.

Foi na Páscoa que Jesus partiu e repartiu o pão, nessa repartição que se multiplicou pela multidão faminta (cf. Jo 6,4), realizando ali mesmo a antecipação da Nova Páscoa. Jesus homem com os homens, preparou os seus discípulos para o grande dia, para esse dia que se fez cordeiro, é Ele o cordeiro que Deus, esse que se apresenta a Abraão para se dar por Isaac (cf. Gn 22,10-14), é Ele o que sempre está e sempre esteve, é Ele o que realiza a presença eterna do criador com a criatura, é Ele que se fazendo homem, faz do homem reflexo dos seus olhos misericordiosos, é Ele que nos diz que amar o próximo é amar a Ele mesmo, é Ele que dando a tudo à vida apresenta-a como valor absoluto sobre tudo, é Ele o Verdadeiro cordeiro pascal, o cordeiro libertador e doador da vida definitiva, absoluta, inviolável e eterna.




A Última Ceia

Nessa caminhada livre e consciente para a morte, Jesus surge na última ceia antecipando-a e sacramentando-a através das palavras e dos gestos sobre o pão e o cálice.

Num contexto histórico, esta ceia vem na sequência de outras que muito preocupavam os seus opositores. Naquela altura, facto de “sentar-se” à mesa com alguém era encarado como um sinal de criação de uma comunidade de vida, comer o mesmo alimento era interpretado como comunhão e reconciliação. Sem dúvida que a partir da confissão de Césareia, a participação na refeição com Jesus aparecia como participação nos bens messiânicos, com Ele a salvação era oferecida a todos, sem existir distinções, porque na mesa do Senhor (como na mesa de casa de uma mãe) há sempre lugar para mais um.
A ceia foi assim vivida em ambiente, há mesmo que veja nesta ceia a própria ceia pascal de Jesus com os seus discípulos. Desta forma, e na linha da tradição judaica, o rito pascal era celebrado tendo em vista a libertação (cf. Ex 12,26; 14,8)

Purificai-vos do velho fermento, para serdes nova massa,  á que sois pães ázimos, Pois Cristo, nossa Páscoa, foi imolado.”
(1 Cor 5,7)

Mas algo de novo acontece nesta ceia, ela será o banquete definitivo até ao banquete final no Reino de Deus.

Quando Jesus pega o pão e abençoa, parte e reparte, aquele que é Seu corpo (que será entre até à morte), em seguida pega no cálice abençoa e diz que aquele é o Seu sangue (que será derramado). Jesus apresenta de uma forma penetrante a Sua morte, enquanto sacrifício pascal, do qual ele é o novo cordeiro, em que assenta a escatologia humana. A morte do Senhor remete para a aliança brutal que se tinha realizado no Sinai (cf. Ex 24,8).

Segundo o ritual judaico, a participação no pão partido e repartido e no vinho abençoado pelo pai de família, faz que todos se sentissem recebidos na família. A realidade sacramental atinge toda a sua dramatização no calvário.

Os discípulos tinham agora que viver enquanto atores de resposta ao apelo de Jesus. A sua existência terá a sua expressão ao longo dos tempos, assumido no sacrifício que torna Jesus presente: a Eucaristia.
A Eucaristia será a ligação da Igreja com o Seu Mestre, que renova sempre a Páscoa, na repartição de tarefas, sempre em anamnese. Jesus aceita o sacrifício, cuja morte são apontados em Is 53, como o “dom dos inocentes” (v9), suportados pelos inocentes e com as ciências (v8), voluntariamente (v10), queridos por Deus (v16).

Ele é a nossa Páscoa, a libertação do nosso povo com o pecado e da própria morte.    




Conclusão

Jesus personifica a Palavra e a revelação definitiva de Deus, esta incorporação eleva a “hora” suprema da Sua vida, realizando plenamente o desígnio salvífico de Deus. A Páscoa judaica, que realiza a recordação e fomenta a esperança é agora compreendida no expoente da singularidade divina.
Tornando-se na nova Páscoa, derramando o seu próprio sangue, Jesus leva consigo toda a humanidade cujos pecados irá assumir sobre Si mesmo. Jesus é o Sião, Nele está em oração toda a comunidade santa, que agora se levanta do pecado.


O sangue de Jesus personaliza a entrega e fidelidade que Deus dá ao seu povo, que agora se assume sem fazer distinções a ninguém. O sangue de Jesus simbolizado no cordeiro imolado, realiza definitivamente a Nova Aliança, inscrita na paz.





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