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domingo, 6 de julho de 2014

“EMANUEL”, UM DEUS QUE É CONNOSCO.


Depois de Jesus Cristo, certamente só podemos dizer algo de autêntico e concreto acerca de Deus, recorrendo sempre a “Emanuel”, a um Deus que é connosco. Este ao fazer-se carne, assumiu de modo extraordinário a nossa própria natureza.
É bom que não esqueçamos, que é este o Cristo que está nos nossos sacrários, é este que a Igreja apresenta nos sacramentos como presença efetiva. Um Deus encarnado através do SIM de Maria Santíssima, criado como homem nos meio dos homens, mas sendo homem jamais perdeu a sua identidade divina.

Uma teologia que não saiba exaltar o homem, não exalta a Deus, porque só através da humanidade de Jesus encontramos a beleza da Sua divindade.

O homem é realmente capaz de receber o amor infinito de Deus, que é o próprio Deus. Saibamos pois estar preparados para esta graça, para este sopro divino e assim acolhermos o verdadeiro milagre eterno do Amor Maior.

Esta capacidade de Deus em se dar ao próprio amor pessoal, entregando-se assim ao mundo, tem em si mesmo uma presença existencial e permanente, que nos é dada através da pessoa humana, inserida na sua realidade pessoal, comunitária e histórica.

Sendo o homem escolhido por Deus como Seu “interlocutor”, tem também toda a capacidade em O receber enquanto dom. A sobrenaturalidade, embora se possa pensar muitas vezes o contrário, não reside aqui, o que aqui está é a existência e a permanência da própria natureza de Deus Trino, numa dinâmica de criação que atua eternamente.
Assim e partindo de um conceito de Rahner – Teologia da “Natureza” - chegamos à conclusão a nossa natureza reside neste dom permanente doado de Deus em nós.

Desta forma, e partindo da liberdade, podemos ser também capazes, através da ação contra a ordem natural das coisas, de nos desviar de Deus e odiá-lo profundamente.

Tanto através da Palavra do Evangelho e própria ação do Espírito Santo, o homem torna-se capaz de se abrir e entregar ao Amor de Deus.
O sobrenatural não vem do amor (per si), mas sim daquilo que se origina através dele.

A nossa vivência, muitas vezes dolorosa e fatigada pela monotonia dos dias, faz com que sejamos, não raramente, pessoas a aguardar pelo dia da morte (!), tornando-nos estranhos e ausentes a beleza da existência.

 Por mais que nos esforcemos, não podemos determinar a plenitude da natureza (amorosa) de Deus. Obviamente que nos é dado a saber que Deus é Amor, sendo que Nele age, Nele permanece e Nele nasce; no entanto toda a sua amplitude e capacidade ultrapassa as nossas formas de medição e entendimento.
A transcendência, surge pois, a partir da ação do amor, ou seja, naquilo que este Amor Maior é capaz de realizar e que se encontra além das nossas capacidades... 


Assim, e devido à liberdade criadora, em toda a sua dimensão, não somos jamais impedidos de construir a nossa realidade e experiencia pessoal através da total “independência” e mesmo ausência de qualquer crença ou culto religioso. Aliás, e partindo da liberdade, podemos ser também capazes, através da ação contra a ordem natural das coisas, de nos desviar de Deus e odiá-lo profundamente.


Como ser humano muitas vezes me indigno profundamente com a capacidade humana para realizar a crueldade, para se entregar ao caminho do mal. Por natureza somos criados no bem e para o bem, no entanto o sadismo diabólico revela-se assustadoramente no homem. Impressiona-me ainda mais quando vejo nestas praticas destruidoras e implementadoras de sofrimento e medo, a mão criminosa de homens que se consideram “tementes” a Deus e “seus” discípulos, portanto não que não existam dúvidas: a barbaridade não tem uma morada definida no mundo...
Fico também atónito com certos “arautos da verdade” que se apegam mais à religião do que ao próprio Deus, apostando em fechar a crença em grupos “certamente iluminados” em que não há, nem pode haver lugar à diferença. Tantas vezes me vem ao intimo a primeira carta de João:

“Quem diz: “Eu conheço-o”, mas não guarda os seus mandamentos é um mentiroso e a verdade não está nele...”
(1 Jo 2,4)

Na minha humilde opinião, a ausência de Deus em nós não reside, tão somente, numa total falta e interesse em conhecer o Evangelho, nem na não participação nos ritos da Igreja, nem mesmo no fato em não se acreditar em Deus.
A ausência está no pecado, naquele ato que massacra e traz dano, interior e exterior, a quem o comete, estendendo-se muitas vezes aos que lhe são próximos e mesmo à própria comunidade em que se insere.
O pecado é desamor, e onde há desamor não há lugar para Deus. A salvação de Deus dirige-se aos pecados, não se dirige à morte, à doença ou ao sofrimento, já que estes, embora sejam difíceis de aceitar, não rompem a relação com Deus; o que quebra a relação é o pecado.

Deus sendo Amor mostra que não é a liberdade que leva ao amor, mas sim o amor é que se abre totalmente à liberdade.

Este dom do amor pode pois ser acolhido por qualquer pessoa, crente ou não crente, que viva a vida de uma forma verdadeiramente digna e justa, é nesta vida concreta e fecunda que se apresentam os que realmente “obedecem ao Senhor e andam nos seus caminhos”, é nesta retidão que o salmista vê os que terão paz (cf. Sl 128).
Claro que a missão evangelizadora da Igreja, apresenta a todos a alegria da Boa Nova, o Cristo que está vivo e que vive em nós (cf. Gl 2,20). Ele que sendo o caminho (cf. Jo 14,6), percorre-o connosco (cf. Lc 24), fazendo com que abandonemos o orgulho egocêntrico, a cegueira da soberba e a indecência da exclusão.

Vivamos, enquanto crentes, firmes na fé, centrados no dom da vida, no sinal que cada um é para o outro, e saibamos retirar da existência a luz da alegria e da paz para todos.  Olhemos com os olhos de ver, olhemos como “heôraka” (cf. Jo 20,18), um olhar que permanece vendo, e que vendo testemunha o que vê. Sejamos inspiradores para o mundo em que vivemos,  sejamos como sinais não alheios, mas presentes no mundo, porque o “Logos” ao encarnar não se ausentou do mundo, mas fez-se história dentro da história, mostrando à história que uma nova história pode nascer: o Reino de Deus.




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