Perante a barbárie por que estamos confrontados, para muitos
surge a questão:
Onde Estás Meu Deus?
Onde Está o Teu poder?
Na realidade perante o sofrimento dos inocentes, esta
questão surge, inquietando decisivamente a nossa impotência... claro que muito
se escreve sofre o sofrimento, mas perante o sofrimento inocente, podemos dar
todos os argumentos, mas estes jamais nos conseguem sossegar. O sofrimento
inocente é aquele que mais nos faz questionar.
“Assim fala o Senhor:
“Ouvem-se, em Ramá, lamentações e amargos gemidos.
É Raquel que chora, inconsolável, os seus filhos que já não existem””
Jr 31,15
Ao vivermos as guerras “in live”, chegamos ao absurdo de
“olharmos” o sofrimento com uma naturalidade brutal e assustadora.
Se ainda houver dúvidas elas dissipam-se aí, nessa atitude distante, porque não é Deus que ausenta, mas sim nós Dele. Tal como no Eden, passamos a vida a escondermo-nos de Deus, chegando mesmo ao ponto de fazermos do Seu nome a justificação para nos alhearmos cada vez mais. Assim cegos pela soberba do orgulho egoísta, agimos no mal, justificando-o, atirando as culpas para o outro, dos inocentes alimentamos ainda mais “força da sede” de vingança, mas depois no fim, questionamos:
onde está Deus?
Sim Deus não está ali...
“Então, abriram-se os olhos aos dois e, reconhecendo-se nus, coseram
folhas de figueira como se fossem cinturas, à volta dos rins.
Ouviram, então, a voz do Senhor Deus, que percorria o jardim pela brisa
da tarde, e o homem e a sua mulher logo se esconderam do Senhor Deus, por entre
o arvoredo do jardim.
Mas o Senhor Deus chamou o homem e disse-lhe: “Onde estás?””
Gn 3,7-9
Afinal onde estamos?
O mistério da encarnação do “logos” cruza, para a eternidade,
Deus na própria humanidade, nas sua história, na sua vida. Jesus é em si mesmo
o significado do tetragrama YHWH, o caminho do encontro, a resposta para as
nossas questões.
Nele torna-se transparente que é na busca do nosso irmão que
entramos no caminho para Deus, porque neste compromisso com a humanidade,
fazemos o compromisso apostólico com o Senhor, tornando-nos de Deus, e por isso
o chamamos de Nosso e de Meu Deus.
A nossa salvação está na nossa capacidade em ser humildes e
assim aceitarmos a dádiva gratuita. Só tendo a consciência da nossa extrema
fragilidade é que nos podemos colocar na posição de filhos, que nada merece e
que tudo lhe é dado gratuitamente, até a vida. Meus irmãos, é esta a condição
humana diante de Deus e dos outros!
No entanto o orgulho dificulta esta atitude, é por isso que
Jesus usa o termo de “crianças”, porque elas são a pura abertura de si ao amor
dos pais.
A História da Salvação está longe de ser um monólogo, muito
mesmos uma forma de autorrealização de um deus, o que acontece na nesta história
é um verdadeiro e dramático diálogo entre o Criador e a criatura amada.
Perante a loucura humana, anda-se no “ping-pong” das culpas!
Chega a ser mordazmente revoltante... esquecem que, se o culpado é difícil de
encontrar, já o inocente está escancarado aos olhos de toda humanidade. É por
eles que devemos levantar a voz, porque muitos já nem voz têm, porque já nem
sequer estão aqui...
Deus não têm religião, o Seu amor é e será sempre a
expressão da vida, da criação e da paz, qual é o deus em que “cremos”?
Toda e qualquer religião tem que ser um meio para uma
comunidade se identificar e se rever no acolhimento por um Deus, que pede para
O olharmos nos olhos dos que sofrem, em particular dos inocentes do mundo.
Porque é a eles que devemos pedir perdão... que eles nos
perdoem.
Porque,
“o Reino dirá, então, aos da sua direita:
“Vinde, benditos, de meu Pai!
Recebei a herança do Reino que vos está preparado desde a criação do
mundo.
Porque tive fome e deste-me de comer, tive sede e deste-me de beber,
era peregrino e recolhestes-me, estava nu e destes-me de vestir, adoeci e
visitaste-me, estive na prisão e fostes ter comigo””
Mt 25,34-36
Deus ao dar-se ao mundo mostra que O encontraremos no mundo,
no compromisso livre pela verdade e justiça com o próprio mundo, num
empenhamento de todos com cada um, porque sem isto a fé de pouco interessa.
“Mais ainda: poderá alguém alegar sensatamente: “Tu tens a fé, e eu
tenho as obras; mostra-me então a tua fé sem obras, que eu, pelas minhas obras,
te mostrarei a minha fé.”
Tg 2,18
“Não é na forma ou no modo que uma pessoa fala com Deus, que eu vejo que ela passou pelo fogo do Amor Divino, mas sim na forma como fala comigo sobre as coisas terrenas”. (Simone Weil)
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