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domingo, 27 de julho de 2014

Onde Estás? (2)



Perante a barbárie por que estamos confrontados, para muitos surge a questão:
Onde Estás Meu Deus?
Onde Está o Teu poder?

Na realidade perante o sofrimento dos inocentes, esta questão surge, inquietando decisivamente a nossa impotência... claro que muito se escreve sofre o sofrimento, mas perante o sofrimento inocente, podemos dar todos os argumentos, mas estes jamais nos conseguem sossegar. O sofrimento inocente é aquele que mais nos faz questionar.


 
“Assim fala o Senhor:
“Ouvem-se, em Ramá, lamentações e amargos gemidos.
É Raquel que chora, inconsolável, os seus filhos que já não existem””
Jr 31,15



Ao vivermos as guerras “in live”, chegamos ao absurdo de “olharmos” o sofrimento com uma naturalidade brutal e assustadora.


Se ainda houver dúvidas elas dissipam-se aí, nessa atitude distante, porque não é Deus que ausenta, mas sim nós Dele. Tal como no Eden, passamos a vida a escondermo-nos de Deus, chegando mesmo ao ponto de fazermos do Seu nome a justificação para nos alhearmos cada vez mais. Assim cegos pela soberba do orgulho egoísta, agimos no mal, justificando-o, atirando as culpas para o outro, dos inocentes alimentamos ainda mais “força da sede” de vingança, mas depois no fim, questionamos:
onde está Deus?
Sim Deus não está ali...

“Então, abriram-se os olhos aos dois e, reconhecendo-se nus, coseram folhas de figueira como se fossem cinturas, à volta dos rins.
Ouviram, então, a voz do Senhor Deus, que percorria o jardim pela brisa da tarde, e o homem e a sua mulher logo se esconderam do Senhor Deus, por entre o arvoredo do jardim.
Mas o Senhor Deus chamou o homem e disse-lhe: “Onde estás?””
Gn 3,7-9

Afinal onde estamos?

O mistério da encarnação do “logos” cruza, para a eternidade, Deus na própria humanidade, nas sua história, na sua vida. Jesus é em si mesmo o significado do tetragrama YHWH, o caminho do encontro, a resposta para as nossas questões.
Nele torna-se transparente que é na busca do nosso irmão que entramos no caminho para Deus, porque neste compromisso com a humanidade, fazemos o compromisso apostólico com o Senhor, tornando-nos de Deus, e por isso o chamamos de Nosso e de Meu Deus.
A nossa salvação está na nossa capacidade em ser humildes e assim aceitarmos a dádiva gratuita. Só tendo a consciência da nossa extrema fragilidade é que nos podemos colocar na posição de filhos, que nada merece e que tudo lhe é dado gratuitamente, até a vida. Meus irmãos, é esta a condição humana diante de Deus e dos outros!


No entanto o orgulho dificulta esta atitude, é por isso que Jesus usa o termo de “crianças”, porque elas são a pura abertura de si ao amor dos pais.

A História da Salvação está longe de ser um monólogo, muito mesmos uma forma de autorrealização de um deus, o que acontece na nesta história é um verdadeiro e dramático diálogo entre o Criador e a criatura amada.


Perante a loucura humana, anda-se no “ping-pong” das culpas! Chega a ser mordazmente revoltante... esquecem que, se o culpado é difícil de encontrar, já o inocente está escancarado aos olhos de toda humanidade. É por eles que devemos levantar a voz, porque muitos já nem voz têm, porque já nem sequer estão aqui...


Todos sabemos que a neutralidade é sempre difícil, mas perante o sangue inocente não pode existir silêncio comprometedor, este silêncio, esta inação é o pior dos pecados humanos. Por cada silêncio quantas mais mortes (?), por falta de ação quantas mais quantas mortes (?).




Deus não têm religião, o Seu amor é e será sempre a expressão da vida, da criação e da paz, qual é o deus em que “cremos”?
Toda e qualquer religião tem que ser um meio para uma comunidade se identificar e se rever no acolhimento por um Deus, que pede para O olharmos nos olhos dos que sofrem, em particular dos inocentes do mundo.

Porque é a eles que devemos pedir perdão... que eles nos perdoem.
Porque,
“o Reino dirá, então, aos da sua direita:
“Vinde, benditos, de meu Pai!
Recebei a herança do Reino que vos está preparado desde a criação do mundo.
Porque tive fome e deste-me de comer, tive sede e deste-me de beber, era peregrino e recolhestes-me, estava nu e destes-me de vestir, adoeci e visitaste-me, estive na prisão e fostes ter comigo””
Mt 25,34-36


Deus ao dar-se ao mundo mostra que O encontraremos no mundo, no compromisso livre pela verdade e justiça com o próprio mundo, num empenhamento de todos com cada um, porque sem isto a fé de pouco interessa.


“Mais ainda: poderá alguém alegar sensatamente: “Tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me então a tua fé sem obras, que eu, pelas minhas obras, te mostrarei a minha fé.”
Tg 2,18




“Não é na forma ou no modo que uma pessoa fala com Deus, que eu vejo que ela passou pelo fogo do Amor Divino, mas sim na forma como fala comigo sobre as coisas terrenas”. (Simone Weil)






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