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domingo, 23 de março de 2014

“ONDE ESTÁS?” (Gn 3,9)

“Onde estás?” (Gn 3,9)


Esta pergunta que Deus faz no Livro do Génesis, é a mesma que faria atualmente! 

A busca no facilitismo faz-nos aliar do inefável, “escondendo-nos” da exigência e do compromisso, é sempre mais fácil optar por um new-age ateísta, pouco esclarecido e pretensioso.

Este “novo” ateísmo torna presente conceitos positivistas, assumindo-se primordialmente revestido com um carácter de “afronta”, colocando-se quase numa postura maniqueísta. O principal alvo centra-se essencialmente, não no debate da existência ou não de Deus, mas sim numa batalha (alimentada pelos média) contra as expressões religiosas, e em particular o cristianismo católico. O espaço de debate ficou extremamente reduzido, o ateísmo atual apresenta-se de uma forma radical: ou se “está com ele”, ou se é “contra ele”. Isto tem levado a um extremar de posições o que, tanto para crentes como para não crentes, em nada contribui para o esclarecimentoa aposta centra-se num exagero grotesco e de pouco valor intelectual.

É importante salientar que estas barreiras não são exclusivas do ateísmo, há também um número significativo de cristãos que em nada colaboram para a abertura de pontes de diálogo!
  
A sabedoria não pode fechar-se somente em teorias, esta tem que se abrir a todos, numa profunda doação no ensino da vida, no saber viver. Os sábios, que já nas escrituras são mencionados (“maskkilîn” ) como aqueles que através da sua coragem e fidelidade  dão testemunho da verdade. Como nos mostra o segundo Livro dos Macabeus, o sábio não cede à mentira (nem aos falsos deuses), foca-se na verdade e com ela vive. O sábio não foge à verdade em nenhuma circunstância, antes alimenta-a com o saber e com a praxis.

Neste contexto de coragem pela verdade, é importante salientar que na passagem em que Jesus refere que não trás a paz mas a espada (cf. Mt 10,34), esta frase prende-se com a luta pela verdade, uma verdade que corta os laços com a hipocrisia e com a mentira. Da mesma forma que o dar a outra face (cf. Mt 5,39; Lc 6,29) é também uma exaltação da verdade. Por ela podemos ter que sofrer as consequências, por ela somos muitas vezes obrigados a pegar na nossa cruz (cf. Mt 16,24; Mc 8,34; Lc 9,23);  sendo que este dar a outra face em nada entra em contradição com o facto de Jesus no julgamento não a ter dado (cf. Mt 26,67; Mc 14,65). Dar a outra face nada tem a ver com masoquismo, assim como trazer a espada com violência, tudo isto se prende com o compromisso e a consequência de se estar sempre com a Verdade.



Deus não é comprovável ao nível científico, no entanto a sua presença é bem percetível, a sua presença é verdadeiramente próxima, daí que o debate tem que se centrar no posicionamento de cada um perante a vida e o outro. A expressão de Deus é feita por nós (cf. Jo15,12), na relação com aquilo que está ao nosso redor; hoje e que com as possibilidades tecnológicas que dispomos, o nosso redor alargou-se ao mundo, no entanto, sentados em frente a um ecrã (horas e mais horas), a proximidade física está a perder-se, o tempo para os outros é pouco e controlado, chegamos ao ponto em que estar com os filhos faz parte das tarefas colocadas nas agendas electrónicas. 



É interessante notar que muitas vezes “conhecemos” mais (ou assim pensamos) um “amigo” das redes sociais, do que o nosso vizinho da frente…!


Toda a realidade tem que ser analisada com o devido cuidado, muitas vezes as críticas ateístas aparecem descontextualizadas do contexto bíblico para desta forma argumento se pareça mais forte, este procedimento, nada “científico”, aumenta ainda mais a impossibilidade para a abertura a qualquer diálogo.

Nos dias de hoje egoísmo corrompe o homem, abrindo-o para a indiferença perante o seu redor e claro de Deus.

Este abandono de Deus, mesmo por parte de muitos que se denominam crentes, leva a uma atitude perante a realidade em que a tomada de consciência pelo outro aparece, em muitos casos, camuflada por uma mentirosa piedade não passando, muitas vezes, da satisfação de um interesse particular e assim obter mais-valia, fica sempre bem perante a sociedade mostrar que se ajuda... Tudo se quantifica em perca ou ganho, o dar está a esvaziar-se de sentido, o outro tornou-se um meio para atingir um fim de satisfação pessoal materialista, e não um fim em ação gratuita. Dar-se ao outro em gratuidade não se prende exclusivamente com ajuda financeira, prende-se também com a disponibilidade de estar com o outro, de usar as capacidades pessoais para mostrar caminhos novos, sem jamais querer nada em troca, porque quem vier por este caminho com a ideia de “status”, reconhecimento e outras ambições pessoais, mude então o rumo (cf. Tg 2,18).






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