“Onde estás?” (Gn 3,9)
Esta
pergunta que Deus faz no Livro do Génesis, é a mesma que faria atualmente!
A
busca no facilitismo faz-nos aliar do inefável, “escondendo-nos” da exigência e
do compromisso, é sempre mais fácil optar por um new-age ateísta, pouco esclarecido e pretensioso.
Este
“novo” ateísmo torna presente conceitos positivistas, assumindo-se
primordialmente revestido com um carácter de “afronta”, colocando-se quase numa
postura maniqueísta. O principal alvo centra-se essencialmente, não no debate da
existência ou não de Deus, mas sim numa batalha (alimentada pelos média) contra
as expressões religiosas, e em particular o cristianismo católico. O espaço de
debate ficou extremamente reduzido, o ateísmo atual apresenta-se de uma forma
radical: ou se “está com ele”, ou se é “contra ele”. Isto
tem levado a um extremar de posições o que, tanto para crentes como para não crentes, em
nada contribui para o esclarecimento, a
aposta centra-se num exagero grotesco e de pouco valor intelectual.
É
importante salientar que estas barreiras não são exclusivas do ateísmo, há
também um número significativo de cristãos que em nada colaboram para a
abertura de pontes de diálogo!
A sabedoria não pode fechar-se somente em teorias, esta tem que se abrir a todos, numa profunda doação no ensino da vida, no saber viver. Os sábios, que já nas escrituras são mencionados (“maskkilîn” ) como aqueles que através da sua coragem e fidelidade dão testemunho da verdade. Como nos mostra o segundo Livro dos Macabeus, o sábio não cede à mentira (nem aos falsos deuses), foca-se na verdade e com ela vive. O sábio não foge à verdade em nenhuma circunstância, antes alimenta-a com o saber e com a praxis.
Neste contexto de coragem pela
verdade, é importante salientar que na passagem em que Jesus refere que não
trás a paz mas a espada (cf. Mt 10,34), esta frase prende-se com a luta pela
verdade, uma verdade que corta os laços com a hipocrisia e com a mentira. Da
mesma forma que o dar a outra face (cf. Mt 5,39; Lc 6,29) é também uma
exaltação da verdade. Por ela podemos ter que sofrer as consequências, por ela
somos muitas vezes obrigados a pegar na nossa cruz (cf. Mt 16,24; Mc 8,34; Lc
9,23); sendo que este dar a outra face
em nada entra em contradição com o facto de Jesus no julgamento não a ter dado (cf. Mt 26,67; Mc 14,65). Dar a outra face nada tem a ver com masoquismo, assim
como trazer a espada com violência, tudo isto se prende com o compromisso e a
consequência de se estar sempre com a Verdade.
Deus
não é comprovável ao nível científico, no entanto a sua presença é bem percetível,
a sua presença é verdadeiramente próxima, daí que o debate tem que se centrar
no posicionamento de cada um perante a vida e o outro. A expressão de Deus é
feita por nós (cf. Jo15,12), na relação com aquilo que está ao nosso redor; hoje
e que com as possibilidades tecnológicas que dispomos, o nosso redor
alargou-se ao mundo, no entanto, sentados em frente a um ecrã (horas e mais
horas), a proximidade física está a perder-se, o tempo para os outros é pouco e
controlado, chegamos ao ponto em que estar com os filhos faz parte das tarefas
colocadas nas agendas electrónicas.
É
interessante notar que muitas vezes “conhecemos” mais (ou assim pensamos) um “amigo”
das redes sociais, do que o nosso vizinho da frente…!
Toda a
realidade tem que ser analisada com o devido cuidado, muitas vezes as críticas
ateístas aparecem descontextualizadas do contexto bíblico para desta forma argumento se pareça mais forte, este procedimento, nada “científico”, aumenta
ainda mais a impossibilidade para a abertura a qualquer diálogo.
Nos
dias de hoje egoísmo corrompe o homem, abrindo-o para a indiferença perante o
seu redor e claro de Deus.
Este
abandono de Deus, mesmo por parte de muitos que se denominam crentes, leva a
uma atitude perante a realidade em que a tomada de consciência pelo outro
aparece, em muitos casos, camuflada por uma mentirosa piedade não passando, muitas vezes, da satisfação de um interesse particular e assim obter mais-valia, fica
sempre bem perante a sociedade mostrar que se ajuda... Tudo se quantifica em
perca ou ganho, o dar está a esvaziar-se de sentido, o outro tornou-se um meio para atingir um fim de satisfação
pessoal materialista, e não um fim em ação gratuita. Dar-se ao outro em
gratuidade não se prende exclusivamente com ajuda financeira, prende-se também
com a disponibilidade de estar com o outro, de usar as capacidades pessoais
para mostrar caminhos novos, sem jamais querer nada em troca, porque quem vier
por este caminho com a ideia de “status”, reconhecimento e outras ambições
pessoais, mude então o rumo (cf. Tg 2,18).
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