Moisés
A revelação divina centra-se nas diversas alianças que Deus faz: Noé, Abraão, Moisés..., esta ligação do divino com o humano atinge o seu ápice com Jesus. A Páscoa é a época especial desta aliança, que com Jesus ultrapassa e torna-se comunhão plena. A memória da Paixão, Morte e Ressurreição, é para todos uma renovação que se oferece e que para a qual nos deveremos preparar. Toda a ação a Deus manifesta o “ser orgânico da Bíblia” em conjugação “anatomia própria da escritura”.
A unidade que no nota no Antigo Testamento não pode
restringir-se a um princípio organizador, nem tão pouco a uma formula; na
realidade “é a natureza e o ser de Deus Uno que estabelecem uma unidade no
Antigo Testamento” (Clements)
Da combinação do princípio histórico e do princípio da aliança aparecem três categorias no Antigo Testamento às quais tudo se desenvolve:
. Deus e o povo;
. Deus e o mundo;
. Deus e o ser humano.
Moisés – “Porque o tirei das águas” (Ex 1,2) (מֹשֶׁה) – é
das figuras fundamentais da História da Salvação. De um ponto de vista
arqueológico e até literário, não temos nenhum elemento, tudo o que sabemos
dele é-nos apresentado na Bíblia. Mesmo assim “tudo nos permite supor que era
um hebreu de origem egípcia que desempenhou um papel importante no processo de
saída de alguns hebreus do Egito, nos séculos XIII-XI aC” (Xavier Pikaza)
Moisés não surge apenas ligado ao Êxodo, é ele que revela o
dom da Lei de Deus, através dele Deus revela-se em identidade (cf. Ex 1,6)
A presença de hebreus no Egito remonta por volta do ano de
1720 aC, altura em que os Hycsos (pertencentes à mesma etnia semítica) migraram
para esta região. A presença deste foi importante, já que dominaram e reinaram
o território durante um século e meio entre 1720 aC e 1550 aC, altura em que
foram destronados. Com fim domínio hycso
começa uma nova era do império egípcio com a dinastia XVIII. Assim tudo leva a
crer que devido ao domínio hycso proporcionou-se à entrada dos hebreus no
Egito.
Com o tratado de paz com os Hititas (1271 aC) o Egito começa
uma grande atividade construtora. O antecessor de Ramsés II, Seti I (1290-1303
aC) tinha começado a reconstrução da capital Avaris, no entanto será Ramsés II
(1303-1234) que finalizará a construção, dando assim o nome à cidade de Ramsés.
Com o faraó Menaphat (XIX dinastia, 1234-1225 aC) começa um
período de declínio e anarquia. Aliás será com ele que se fala de Israel em
documentos extra-bíblicos, devido à batalha perdida na Palestina em 1229 aC.
“A existência de um homem chamado Moisés, e cujo nome tem
origem egípcia, ou o vestígio de uma estada no Egito, que desempenhou o papel
fundamental nas crenças da sua tribo e do seu ciclo, dificilmente pode ser pura
invenção (...) Entretanto, permitam-me observar que o número dado pela Bíblia,
seiscentos mil homens mais as famílias (cf. Ex 12,37-39), ou seja, cerca de
dois milhões de indivíduos é de uma total inverosimilhança demográfica.” (JeanYoyotte, Egiptólogo).
Assim surge a questão, em que data se deu o Êxodo?
Os hebreus terão sofrido dificuldades, sendo mesmo usados na
reconstrução das cidades de Pitom e Ramsés (cf. Ex 1,11). A IXI dinastia teve
que fortificar o delta do Nilo devido ao problema com a Palestina, este clima
de insegurança justificaria o medo do faraó (cf. Ex 1,10) Temos elementos que
nos comprovam que a reconstrução das cidades (Ramsés e Pitom) foi iniciada por
Seti I e terminada por Ramsés II.
Surgem assim duas possibilidades:
. O faró da opressão
foi Ramsés e o da libertação Menaphat.
.O faraó da opressão
foi Seti I e o da libertação Ramsés II (como surge no filme “os DezMandamentos” de Cecil B. DeMille, 1956).
A chave de que revela que o faraó da opressão não é o mesmo da
libertação é nos dada por:
“E aconteceu que,
decorrido muito tempo, morreu o dei do Egito”.
(Ex 2,23)
Como Ramsés governou 67 anos, hoje é consensual que o faraó
da libertação terá sido Menaphat.
Deste modo aconteceu pelo sec. XIII aC, entre os anos de 1290 aC e 1220 aC.
A saída do Egito foi para o povo judeu a sua própria
primavera, Páscoa da Libertação, que coincidirá com festa nómada dos pastores,
ficando deste modo o símbolo do cordeiro imolado profundamente ligado a este
acontecimento (cf. Ex 3,18; 5,3; 7,6; etc.).
Deus trabalho através dos homens, será assim através de
Moisés que Deus fará a sagrada Aliança (“Berith”)
com os homens. A presença divina não é estática, muito menos previsível a
ninguém a controla. Esta imprevisibilidade é abrasadora, arrebatando os
corações dos homens transformando-os, abrindo assim uma nova vida.
Na Bíblia vários são os relatos deste acontecimento, um
acontecimento profundo e intimo a que ninguém é capaz de resistir.
Antes de continuar é necessário entender que muitas das
passagens contidas no Êxodo não terão acontecido como nos aparecem nos relatos.
Temos que notar que o género literário é importante para conhecer o
acontecimento, neste caso e dado a importância fundamental em toda a História
da Salvação, o Êxodo tem na sua linha literária a exaltação do herói, uma epopeia
os acontecimentos fazem parte tem a sua elaboração final mais tarde do que as
datas a que os acontecimentos se referem, no séc. X.
De Moisés não temos uma biografia, aliás nem era isso o
pretendido. O centro ("mitte") da
mensagem assenta na concretização da Aliança, assim o povo é libertado para com
Deus fazer a aliança.
Este tema irá abranger o pensamento religioso do Antigo
Testamento, sendo mesmo um conceito refletido na narrativa veterotestamentária;
juntamente com este temos também o conceito do Povo Eleito que se efetiva
definitivamente no Sinai (que na tradição coincide com o Pentecostes cristão).
Por aquilo que a Bíblia nos apresenta, Moisés teve um
envolvimento na corte do Faraó. Nos seus primeiros anos de vida a educação de
Moisés foi dada por sua mãe, terá aprendido os costumes e a tradição do seu
povo, bem como o conceito de Deus. Moisés ainda jovem irá viver na corte onde
recebe a educação destinada aos altos funcionários: matemática, história,
religião e lei (não podemos esquecer que será das suas mãos que a Lei de Deus
será dada ao povo).
Moisés na corte irá de constatar que os seus irmãos não só
são mal tratados, como entre eles existiam problemas. A sua reação perante o
mal-estar não foi a melhor, acabando por matar um egípcio.
Desta forma foge para Madian. Madiam que eram tribos nómadas
habitavam a Este da Palestina Em Gn 25,2 verificamos que que Madiam faz parte
dos “filhos” de Abraão.
Após a experiência marcante da “Sarça Ardente”, Moisés
assume a responsabilidade da libertação do seu povo, aliás uma leitura atenta
às escrituras é possível ter acontecido ou uma fuga ou uma expulsão, daí os
diferentes termos bíblicos usados para o acontecimento.
"Barah"……………... Fuga
"Halak" e "Shillah"…. Libertação
"Garash"...………….. Expulsão
"Hôtsi"....……………. Saída
A saída não é uma libertação sem mais, esta tem um sentido,
o povo vai ao encontro de Javé para realizar a aliança eterna. Os 40 anos no
deserto prende-se com o período de preparação, de purificando purificação, para
receberem o dom da Lei, na realidade este período não terá sido tão longo, mas
a simbologia do número é, como sabemos, fundamental.
O tempo do deserto, para lá de ser uma passagem geográfica,
liga-se também ao profundo significado que se dá de “escravo” a “livre.
Tudo tem o seu ápice no Sinai, com as tábuas da Lei.
Os textos que sucedem ao Êxodo (Juízes, Josué) apresentam o
tempo da fidelidade total a Deus, sendo a altura da pedagogia divina, sendo que
a Lei é apresentado como concretização da liberdade, mas também da própria
constituição de um povo.
No Salmo 119 é colocado o louvor à lei enquanto dom de Deus,
estas são as linhas que marcam que na Aliança o povo é na realmente parte
integrante no “Projeto de Deus”.
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