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sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

JESUS, UM IMPACTO PROFÉTICO ATUAL


Ainda hoje há um certo problema em debater o impacto profético de Jesus, Deus não encarnou nas elites (religiosas ou políticas), Ele não pertenceu ao “sábios” do templo nem aos mestres da lei mosaica. Jesus não veio grande, a sua chegada veio na humildade e pobreza da Galileia, composto por um povo sofrido com a ocupação romana e a conivência de Herodes.

“Responderam-lhe eles: “Também tu és da Galileia? Investiga e verás que da Galileia não sairá nenhum profeta””.
(Jo 7,52)


Nesta frase do evangelista João notamos que a Galileia não tinha qualquer relevância para os importantes, o próprio templo também os esqueceu. Jesus faz ouvir a sua voz absorvido totalmente pelo espírito profético, juntamente com uma grande astúcia e inteligência. Na realidade ao não fazer parte quer do sistema religioso, nem da estrutura política, Jesus não teria qualquer “autoridade”, no entanto a sua mensagem foi profunda e incisiva.




A “pax” romana do imperador Tibério era algo de inquestionável, o império impunha uma tributação implacável ao povo galileu. Assim, e com o silêncio de Herodes Antipas, estavam entregues à sua sorte, ninguém os defendia. Foi neste contexto difícil que Jesus surge, é ali e naquele jovem que Deus se revela. Submetendo-se à vontade do Pai, assume sobre Ele a invocação e a ação com o objetivo de instaurar o Reino de Deus.
A Sua vida pública é iniciada perante os últimos, aqueles excluídos e esquecidos quer do império quer da própria religião. Aquela gente estava condenada a viver na pobreza, em que a escuridão da vida lhes aniquilou a esperança de um “mundo novo”.

Tal como hoje, os que estavam fora do esquema do poder não tinham qualquer garantia senão a sua própria sorte.
Os próprios “senhores” da lei e do culto do templo estavam mais focados nas suas atividades rituais, do que na proteção e aproximação do seu povo.




“Quem se põe a caminho para praticar o bem, já se aproxima de Deus, já está sustentado pela Sua ajuda, porque é próprio da dinâmica da luz divina iluminar os nossos olhos, quando caminhamos para a plenitude do amor”
(Lumen Fidei, 35)

É precisamente no escuro daquela realidade histórica que Jesus trouxe a sua novidade profética, a luz que abre o caminho por entre o túnel da incerteza, da angústia e do medo. Como Nele, é esta audácia da verdade, a coragem contra a injustiça que nos deve inspirar a todos nós, cristãos de coração, nesta altura de profunda dificuldade e abandono.

É essencial notar que Jesus não vem com a intenção de condenar os pecados, mas sim para humanizar a vida e assim a própria história. No assumir a vontade do Pai, na Sua dimensão de “logos”  encarnado, é que O faz connosco (cf. Jo 14,6), nele transpira a dinâmica da força criadora de justiça de Deus, refletida no Amor pela criatura amada, enquanto promotor de uma vida plena, e não uma vida ferida pelo sofrimento, uma vida-não-vida.
Sem entrar na questão das experiencias religiosas de Jesus, podemos constatar que é a Sua condição profundamente humana que marca toda a ação, Ele na Sua humanidade é o paradigma de uma experiência intima com Deus, abrindo-nos a todos a possibilidade de a fazer possível nas nossas vidas concretas e singulares.
Infelizmente muitas vezes transmite-se uma noção de Jesus enquanto juiz castigador, no entanto Jesus não nos é dado para condenar e castigar, mas sim para ir ao encontro de todos, colocando como prioridade os que sofrem, os excluídos da história, os últimos. 
Jesus não se conforma com a injustiça, mostra de uma forma clara que esta é totalmente contra Deus, Ele é aquele que aposta como ninguém na valorização da vida, mas não apenas como existência, a sua aposta é numa vida digna em que os últimos são os primeiros (cf. Mt 19,30. 20,16; Mc 10 31; Lc 13,30), em que jamais um se deve sobrepor ao outro, porque o outro é igual aos “olhos de Deus”. O Reino de Deus que Jesus tanto busca, é do que o clímax da humanização da vida.

Jesus enquanto encarnação de Deus, vai na sua vida apercebendo-se da Sua condição, abrindo deste modo o horizonte para uma alternativa de convivência, seguindo a Deus, não num estilo como o que era feito no templo, mas como experiencia de Deus, que a todos atrai, para deste modo sermos os agentes na construção de um mundo mais justo e portanto mais humano. O Reino de Deus é uma forma nova de entender a vida, não é um lugar, mas uma condição de se entender e viver em Deus (cf. Gl 2,20), que no entanto se distanciava e ainda se distancia do conceito comum, do denominado “normal”. Não é Jesus que buscava uma utopia, somos sim nós que vivemos totalmente à margem do que deveria ser normal, somos nós que em vez de nos aproximarmos da “suavidade” da vida, vivemos na tormenta da existência.

“Jesus disse: “Porque me chamas de bom? Ninguém é bom senão um só: Deus.””
(Mc 10,18)

Ele não apresenta uma mensagem enquadrada nos interesses tanto do império romano, como do templo, ele caminha na margem, com os da margem, são neles que Jesus coloca a sua prioridade de ação, é com eles que quer seguir na sua missão.
Aquela gente descartada e sofrida, que nada valia, é onde Deus se revela à humanidade, abrindo-lhes o horizonte para um novo futuro, não “olhando para trás”, mas avançando para a realização plena do Reino de Deus.
A Boa Nova está assente na dinâmica em que todos caminhem para a santidade (cf. 1 Pe 1,16), a “luz da fé é capaz de valorizar a riqueza das relações humanas, a sua capacidade de perdurarem, serem fiáveis, enriquecerem a vida comum”. E fé não nos torna ausentes do mundo, leva-nos sim a entrarmos nas “suas entranhas”, vivemos e deveremos viver a atualidade sempre confiantes na ação interpelativa e renovadora de Cristo.



O Reino de Deus que Jesus projeta, concebe Deus (esse mistério último) como uma presença que se faz próxima, que acolhe a todos no seu banquete (cf. Mt 22,2), que se abre ao mundo. O encontro com Deus é sempre uma contínua ação do crente, encontramo-Lo no Texto Sagrado, nas ações de culto, no Sacrário, no entanto paradoxalmente Jesus buscava Deus entrando profundamente nas coisas do mundo.
Seguir Jesus, o Deus encarnado, é assumir em plenitude a incansável missão para a construção de uma vida comunitária mais justa e mais humana.




Perante realidade concreta com que estamos confrontados, não podemos ficar parados, a inação diante da injustiça, justificada com absurdas justificações (pseudo-caridosas) para a justificação do sofrimento e humilhação das pessoas, não se idêntica com a “praxis” concreta de Jesus, antes pelo contrário, Jesus é mesmo o paradigma da ação; assim e perante um sistema injusto, à custa principalmente dos que não têm voz, dos mais fracos, dos últimos, teremos de ser nós, enquanto cristãos, a dar voz a quem não tem, em fazer do seu grito o nosso grito, em desprendermo-nos do nosso “casulo religioso” e colocarmo-nos ao lado deles, já que eles são a prioridade de Jesus, e quanto a isto não pode jamais existir qualquer dúvida. Na inação, aí sim, reside o pecado porque aí ausentamo-nos da vontade de Deus.
Muitas vezes discutirmos, questões menores (como por exemplo a ideologia política do Papa) enquanto ao nosso lado pessoas não têm como colocar comida na casa...!

Não tenhamos dúvidas:
a maior oração ao Senhor, está na pratica da verdadeira caridade com os que mais necessitam, esta é a atitude mais incisiva e concreta para a implementação do Reino de Deus.


Consciência ~ Compaixão ~ Humanidade

A ciência não tem consciência
a economia não tem nem sabe o que é compaixão,
os dogmas do capitalismo neo-liberal são inumanos.

Jamais a realização do Reino de Deus é possível sem termos bem presente as três palavras (consciência, compaixão, humanidade) como prioridades em todas as ações por nós realizadas. Não fiquemos passivos à espera de uma intervenção divina, sejamos testemunho e imagem de Deus na construção e promoção de uma nova convivência pacifica mundial, assente no valor da pessoa como o tesouro a ser promovido. Neste compromisso Deus jamais nos abandonará, porque nós não o abandonamos (cf. Mt 28,20).
Nada é irremediável, os fatalismos não têm qualquer razão de ser perante o sofrimento injusto, o que é verdadeiramente impossível é tudo aquilo leva ao sofrimento, à exclusão e à humilhação das pessoas. Enquanto crentes, a atração marcante de Deus tem que levar a que a palavra “irmãos” nos faça aperto no coração. Nas nossas paróquias não fiquemos entretidos na vida religiosa, e surdos perante o grito e o clamor daqueles que sofrem, não podemos jamais abandonar à sorte todos aqueles que desesperam por justiça, sejamos testemunhas comprometidas com Jesus, sentinelas ativas na concretização do bem comum. Não podemos deixar que outros escrevam a nossa história, sejamos nós os protagonistas da história, a “fé é una, porque se dirige ao único senhor, à vida de Jesus, à história concreta que Ele partilha connosco” (nº ... Lumen Fidei, nº 47).




Assim é essencial termos presente na nossa consciência a raiz verdadeira da crise que nos atinge. Pensar que tudo se resolverá com o tempo é um erro, já que as bases do império capitalista neo-liberal continuam bem vivas e ativas, e estas são completamente antagónicas com aquilo que Jesus denomina como Reino de Deus (mais à frente abordaremos novamente este assunto).
Não nos tornemos pessoas apenas viradas para o aspecto religioso convencional, não desprezemos a dimensão do problema que hoje enfrentamos, não fiquemos remetidos a uma filantropia de ocasião, mas façamos da mensagem profética de Jesus a concretização de um caminho renovado de esperança para todos.





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