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quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Nós os leigos


“Laos” – palavra grega que deu origem a leigos


Na realidade cada vez mais os leigos têm uma importância fundamental, não só para a Igreja (enquanto instituição), mas também para a própria divulgação da mensagem cristã no mundo. Eles através da sua experiência concreta na vida social têm como missão o testemunho da Palavra de Deus, são eles os grandes divulgadores da Pascoa do Senhor concretizada na vida de cada um. Nesta relação e interdependência entre leigos e religiosos reside o progresso e acção da Igreja no seio dos homens.
A instituição deverá estar sempre numa caminhada em conjunto com os leigos cristãos, sendo que nesta caminha é fundamental a escuta mútua. Ao contrário do passado, em que os leigos tinham pouco conhecimento acerca dos fundamentos e significados das Escrituras, hoje essa “ignorância” felizmente tem sido ultrapassada, daí que a colaboração dos leigos para o futuro da Igreja é mais do que fundamental, tornando-se mesmo num elemento essencial.

A expressão da Palavra só faz sentido através da sua concretização no seio do seu povo (“Laos” – palavra grega que deu origem a leigos), daí que a aproximação entre o clero e os leigos seja o factor para que esta concretização se dê na sua maior plenitude, o debate e a discussão tem um significado nos dias de hoje como nunca teve antes.

O afastamento entre clero e leigos teve uma expressão bem vincada após o séc. XVI com o surgimento do protestantismo. Ainda no séc. XIX, mais precisamente em 1834, este afastamento ainda era bem vincado fazia, como fica demonstrado na Bula do Papa Gregório XVI: “Ninguém pode duvidar que a Igreja está fundada sobre a desigualdade dos seus membros, na qual uns foram chamados por Deus para dominar e outros para obedecer, estes últimos são os leigos, aqueles são os eclesiásticos.”

Obviamente que este conceito já deixou de existir, no entanto temos ainda muito que progredir nesta abertura e neste dialogo. Ainda hoje somos confrontados com sacerdotes que baseiam o seu discurso (e até mesmo acção) numa certa atitude de “superioridade”, como “donos da verdade”, sendo mesmo muitas vezes os primeiros a descriminar, de uma forma profundamente injusta membros da sociedade e até mesmo da sua paróquia, em vez de os acolher em comunhão no caminho para a salvação.

Os Padres deverem ter a consciência que não são os donos do Cristianismo, eles são cristãos e pelo facto de seguirem a vocação eclesial não os torna superiores. Antes faz com que tenham uma obrigação acrescida de serem os primeiros a darem o testemunho, que não poderá ficar confinado a uma atitude de vida profissional, mas acima de tudo a uma atitude interna (de coração) para com a comunidade. Misericórdia, perdão e caridade, deverá ser neles uma forma concreta de vida. A Igreja tem nos Padres um ponto fundamental para a sua renovação e diálogo com a comunidade. Através do desenvolvimento da capacidade de olhar em redor (de escutar e entender), a acção eclesial torna-se actuante onde interessa - no coração dos homens.

Desta forma também os leigos têm de ter a consciência que pelo facto de não fazerem parte de uma vida totalmente religiosa também não é factor de superioridade, nem sequer de maior liberdade em relação àqueles que escolheram uma vida religiosa.



Uns e outros são irmãos os olhos de Deus e mesmo com as suas diferenças algo os une, o Amor a Deus, o Amor a Jesus Cristo. Só nesta relação de partilha mútua a Igreja terá sempre um sentido renovador, não só aos olhos da sociedade, mas também aos “olhos” de Deus.
A responsabilidade de um leigo é, nos dias de hoje, uma peça fundamental para a expressão e presença efectiva do Cristianismo no mundo. Mais uma vez digo: a grande manifestação de Deus será em primeiro lugar de partir de nós, nesse sim inequívoco e confiante. Daí que a ligação à Igreja seja fundamental para a vida de qualquer leigo cristão, esta comunhão é a pedra basilar para a vida da Igreja. A sua alma está sem dúvida nos leigos, porque serão eles que farão da Palavra acção das suas vidas em comunidade.

No documento pós-sinodal – “Christifidelis Laici” – notamos a grande importância dada aos fiéis leigos como parte estruturante e fundamental para a Igreja. Nas iniciativas levadas a cabo por organizações e movimentos leigos, notamos sem dúvida a influência do Espírito Santo no seu seio.
“No entanto os leigos não se podem substituir à comunidade religiosa, é necessário que não se fechem num interesse exclusivo pelos serviços eclesiais, isto pode levar a um alheamento das suas funções essenciais no mundo profissional, social, económico, cultural e político.” (Papa Bento XVI)

A escuta de Deus tem de se mostrar na “praxis” da vida laical, através de uma atitude honesta na vida, em que a figura do outro seja sempre o fundamento da acção. A coragem dos leigos é algo fundamental, daí que a oração e a busca da Eucaristia seja uma necessidade para a vida comunitária. Num mundo em que a acção cristã aparece quase como desconexa da realidade, o exemplo concreto dado pelos cristãos leigos é sem dúvida a força para que continuemos no caminho em direcção ao Senhor. A resposta e a manifestação de Deus, vista nesta acção dos homens, agrada a Deus, fá-Lo estar mais perto de nós, ajudando-nos a superar as dificuldades e as contrariedades da vida.

É um erro propor aos leigos uma opção de vida semelhante aos religiosos, esta diferença é positiva, porque cada um terá de actuar perante situações e realidades diferentes, no entanto estamos sempre unidos pelo Baptismo e pela acção do Espírito Santo. É nesta comunhão de experiencias e realidades de vida que a Igreja acontece e com isto a própria consciencialização cristã do séc. XXI.
Daí que esta junção de saberes seja essencial para dar uma resposta útil aos anseios do ser humano. A colaboração é fundamental, no entanto para que tal se aconteça cada um deve saber qual é o seu papel e nunca substituir ou sobrepor um em relação ao outro.

Todos somos chamados à santidade, a busca de Deus é a razão primordial da nossa vida, no entanto a busca não nos pode alienar das nossas vocações e obrigações. O cristão é um primeiro lugar uma pessoa responsável que nunca foge da realidade, encarando-a com o entusiasmo, apoiando-se no dom da fé em Jesus Cristo. A fé nunca poderá ser factor de satisfação de anseios meramente pessoais e egoístas, a fé deverá ser o impulsionador de uma vida em busca do bem comum em todas as realidades que nos são apresentadas. É pois necessário que os cristãos retomem sempre o caminho da renovação evangélica, acolhendo com generosidade o convite apostólico de “ser santos em todas as acções”. A caridade é portanto uma acção cristã na busca por uma vida plena de e com Deus. Só assim a vida dará frutos, sendo que desta forma cumpriremos de uma forma total o nosso Baptismo, vivendo sempre à imagem de Jesus Cristo.

Com isto não estou afirmar que Deus resolva o que nós podemos e devemos resolver, a presença de Deus na nossa vida é precisamente a força para que sejamos nós mesmos a resolver.

Uma vida cristã é inseparável da fé, por mais diferentes e improváveis que sejam as circunstâncias da vida esta fé deverá ser sempre acolhida por nós como um dom de Deus. Através do sofrimento de Cristo abriu-se-nos a porta da salvação, em que a própria morte é vencida pela vida eterna. Cristo deu-nos vida em abundância, por mais difíceis que sejam as situações, por mais que nos revoltemos contra Deus, deveremos sempre ter bem presente que Ele nos ama, e o Amor é sempre o que resta em qualquer das circunstâncias, porque Ele é antes tudo: Amor Eterno. Negar isto é negar a essência e a razão primordial da nossa vida e da própria concepção divina de Deus.  





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