“Laos” – palavra grega que deu origem a leigos
Na
realidade cada vez mais os leigos têm uma importância fundamental, não só para
a Igreja (enquanto instituição), mas também para a própria divulgação da
mensagem cristã no mundo. Eles através da sua experiência concreta na vida
social têm como missão o testemunho da Palavra de Deus, são eles os grandes
divulgadores da Pascoa do Senhor concretizada na vida de cada um. Nesta relação
e interdependência entre leigos e religiosos reside o progresso e acção da
Igreja no seio dos homens.
A
instituição deverá estar sempre numa caminhada em conjunto com os leigos
cristãos, sendo que nesta caminha é fundamental a escuta mútua. Ao contrário do
passado, em que os leigos tinham pouco conhecimento acerca dos fundamentos e
significados das Escrituras, hoje essa “ignorância” felizmente tem sido
ultrapassada, daí que a colaboração dos leigos para o futuro da Igreja é mais
do que fundamental, tornando-se mesmo num elemento essencial.
A
expressão da Palavra só faz sentido através da sua concretização no seio do seu
povo (“Laos” – palavra grega que deu origem a leigos), daí que a aproximação
entre o clero e os leigos seja o factor para que esta concretização se dê na
sua maior plenitude, o debate e a discussão tem um significado nos dias de hoje
como nunca teve antes.
O
afastamento entre clero e leigos teve uma expressão bem vincada após o séc. XVI
com o surgimento do protestantismo. Ainda no séc. XIX, mais precisamente em
1834, este afastamento ainda era bem vincado fazia, como fica demonstrado na Bula
do Papa Gregório XVI: “Ninguém pode duvidar que a Igreja está fundada sobre a
desigualdade dos seus membros, na qual uns foram chamados por Deus para dominar
e outros para obedecer, estes últimos são os leigos, aqueles são os
eclesiásticos.”
Obviamente
que este conceito já deixou de existir, no entanto temos ainda muito que
progredir nesta abertura e neste dialogo. Ainda hoje somos confrontados com
sacerdotes que baseiam o seu discurso (e até mesmo acção) numa certa atitude de
“superioridade”, como “donos da verdade”, sendo mesmo muitas vezes os primeiros
a descriminar, de uma forma profundamente injusta membros da sociedade e até
mesmo da sua paróquia, em vez de os acolher em comunhão no caminho para a
salvação.
Os
Padres deverem ter a consciência que não são os donos do Cristianismo, eles são
cristãos e pelo facto de seguirem a vocação eclesial não os torna superiores.
Antes faz com que tenham uma obrigação acrescida de serem os primeiros a darem
o testemunho, que não poderá ficar confinado a uma atitude de vida
profissional, mas acima de tudo a uma atitude interna (de coração) para com a
comunidade. Misericórdia, perdão e caridade, deverá ser neles uma forma
concreta de vida. A Igreja tem nos Padres um ponto fundamental para a sua
renovação e diálogo com a comunidade. Através do desenvolvimento da capacidade
de olhar em redor (de escutar e entender), a acção eclesial torna-se actuante
onde interessa - no coração dos homens.
Desta
forma também os leigos têm de ter a consciência que pelo facto de não fazerem
parte de uma vida totalmente religiosa também não é factor de superioridade,
nem sequer de maior liberdade em relação àqueles que escolheram uma vida
religiosa.
Uns e
outros são irmãos os olhos de Deus e mesmo com as suas diferenças algo os une,
o Amor a Deus, o Amor a Jesus Cristo. Só nesta relação de partilha mútua a
Igreja terá sempre um sentido renovador, não só aos olhos da sociedade, mas
também aos “olhos” de Deus.
A
responsabilidade de um leigo é, nos dias de hoje, uma peça fundamental para a
expressão e presença efectiva do Cristianismo no mundo. Mais uma vez digo: a
grande manifestação de Deus será em primeiro lugar de partir de nós, nesse sim
inequívoco e confiante. Daí que a ligação à Igreja seja fundamental para a vida
de qualquer leigo cristão, esta comunhão é a pedra basilar para a vida da
Igreja. A sua alma está sem dúvida nos leigos, porque serão eles que farão da
Palavra acção das suas vidas em comunidade.
No
documento pós-sinodal – “Christifidelis
Laici” – notamos a grande importância dada aos fiéis leigos como parte
estruturante e fundamental para a Igreja. Nas iniciativas levadas a cabo por
organizações e movimentos leigos, notamos sem dúvida a influência do Espírito
Santo no seu seio.
“No entanto os leigos não se podem substituir
à comunidade religiosa, é necessário que não se fechem num interesse exclusivo
pelos serviços eclesiais, isto pode levar a um alheamento das suas funções
essenciais no mundo profissional, social, económico, cultural e político.”
(Papa Bento XVI)
A escuta
de Deus tem de se mostrar na “praxis”
da vida laical, através de uma atitude honesta na vida, em que a figura do
outro seja sempre o fundamento da acção. A coragem dos leigos é algo
fundamental, daí que a oração e a busca da Eucaristia seja uma necessidade para
a vida comunitária. Num mundo em que a acção cristã aparece quase como
desconexa da realidade, o exemplo concreto dado pelos cristãos leigos é sem
dúvida a força para que continuemos no caminho em direcção ao Senhor. A
resposta e a manifestação de Deus, vista nesta acção dos homens, agrada a Deus,
fá-Lo estar mais perto de nós, ajudando-nos a superar as dificuldades e as
contrariedades da vida.
É um
erro propor aos leigos uma opção de vida semelhante aos religiosos, esta
diferença é positiva, porque cada um terá de actuar perante situações e
realidades diferentes, no entanto estamos sempre unidos pelo Baptismo e pela
acção do Espírito Santo. É nesta comunhão de experiencias e realidades de vida
que a Igreja acontece e com isto a própria consciencialização cristã do séc.
XXI.
Daí que
esta junção de saberes seja essencial para dar uma resposta útil aos anseios do
ser humano. A colaboração é fundamental, no entanto para que tal se aconteça
cada um deve saber qual é o seu papel e nunca substituir ou sobrepor um em
relação ao outro.
Todos
somos chamados à santidade, a busca de Deus é a razão primordial da nossa vida,
no entanto a busca não nos pode alienar das nossas vocações e obrigações. O
cristão é um primeiro lugar uma pessoa responsável que nunca foge da realidade,
encarando-a com o entusiasmo, apoiando-se no dom da fé em Jesus Cristo. A fé
nunca poderá ser factor de satisfação de anseios meramente pessoais e egoístas,
a fé deverá ser o impulsionador de uma vida em busca do bem comum em todas as realidades
que nos são apresentadas. É pois necessário que os cristãos retomem sempre o
caminho da renovação evangélica, acolhendo com generosidade o convite
apostólico de “ser santos em todas as acções”. A caridade é portanto uma acção
cristã na busca por uma vida plena de e com Deus. Só assim a vida dará frutos,
sendo que desta forma cumpriremos de uma forma total o nosso Baptismo, vivendo
sempre à imagem de Jesus Cristo.
Com isto não estou afirmar que Deus resolva
o que nós podemos e devemos resolver, a presença de Deus na nossa vida é
precisamente a força para que sejamos nós mesmos a resolver.
Uma
vida cristã é inseparável da fé, por mais diferentes e improváveis que sejam as
circunstâncias da vida esta fé deverá ser sempre acolhida por nós como um dom de
Deus. Através do sofrimento de Cristo abriu-se-nos a porta da salvação, em que
a própria morte é vencida pela vida eterna. Cristo deu-nos vida em abundância,
por mais difíceis que sejam as situações, por mais que nos revoltemos contra
Deus, deveremos sempre ter bem presente que Ele nos ama, e o Amor é sempre o
que resta em qualquer das circunstâncias, porque Ele é antes tudo: Amor Eterno.
Negar isto é negar a essência e a razão primordial da nossa vida e da própria
concepção divina de Deus.
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