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segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

BUSQUEMOS A LUZ PALAVRA PARA ILUMINAR A "PRAXIS"


Os primórdios das comunidades cristãs foram sempre muito sensíveis ao conceito de resgatar todos os seres humanos, no entanto hoje, somos levados a constatar que a Igreja não conseguiu introduzir no mundo o princípio da compaixão, como a grande herança deixada por Jesus.
A Igreja, enquanto Corpo de Cristo, deverá apresentar-se como lugar de antecipação de um futuro renovado, que não faça exceções a ninguém, trazendo consigo a para todos os que vivem no escuro da desesperança.

Não podemos fazer ouvidos surdos a teólogos como Metz e outros, que apostam numa “praxis” mais ativa por parte de todos na busca de um futuro melhor, sendo que a eclesiologia tem que concentrar a sua reflexão, de uma forma mais vincada, na ação de Jesus.
Esta opção mais pratica não retira de forma alguma o sentido transcendental e místico que o encontro com Cristo desencadeia, uma completa a outra. Rahner e Metz não se desligam, não há cristianismo sem misticismo,  mas também não há cristianismo sem “praxis”, estes dois elementos completam-se mutuamente.
Concordo com Metz quando refere que a doutrina cristã relativizou a própria questão do sofrimento, focando-se, talvez em exagero, na problemática da culpa (do pecado).

Aquilo que a sociedade global nos apresenta, é uma enorme surdez perante casos concretos, como por exemplo, a morte atroz de crianças devido a guerras, a doenças (perfeitamente curáveis no mundo ocidental), daquelas que são sujeitas à escravatura, trabalhando muitas vezes para marcas de prestigio!
Temos que nos levantar contra esta mentalidade embriagada de livros de autoajuda, repetitivos e pouco abertos à ajuda ao outro, somos os eucaliptos da história, vivemos centrados em nós, sobre os nossos problemas e angústias. É habitual escutarmos dizer “que o importante é o ser em vez do ter”, sendo no este ser é colocado no eu e os outros e não no eu com os outros.
Mesmo no ambiente religioso, gostamos de fazer pelos outros, mas adoramos o reconhecimento pessoal da ajuda, assim na na mínima contrariedade entregamos “em bandeja” a fatura da “ajuda”, é um ser que se engana a si próprio, já que somos para os outros com a ambição pessoal de vir a ter. Somos, quer queiramos ou não, avessos à ideia de caridade enquanto expressão de um amor gratuito, de um dar sem esperar retorno.



Somos influenciados por um secularismo que se coloca sempre como limpo e puro, como eticamente mais elevado, um secularismo que tresanda de sobranceria. O mundo ao caminhar de “braço dado” com o neoliberalismo, faz com que a própria democracia desapareça, já que o poder verdadeiro provém de um rosto anónimo que tudo comanda, que tudo influencia, que tudo faz, mas que não sabemos quem é e quem são. Esta espécie de força anónima, sem rosto humano, é o presente do secularismo atual, que se acha que acima de tudo e todos, agindo no tempo e com o tempo, esperando que este se encarregue de fazer esquecer... Tudo se tornou relativo, até mesmo realidades como o sofrimento e a vida entraram na abrangência do relativismo, a vida tornou-se relativa (!), tudo depende da conveniência da altura.


Nós cristãos, inseridos nesta realidade, estamos alheados da compaixão, vivendo numa ilusão religiosa de que somos os inocentes. Fugimos do “olhar” compassivo de Deus, preferindo o negocio, alimentado pelo culto de circunstância. Esquecemos que a “economia da Salvação” não é regido por regras de mercado (cf Mt 20,1-16).





Peço a Deus que o “olhar para o Crucificado” não se feche dentro do nosso egoísmo, cegando-nos perante os crucificados de hoje.
A Igreja não pode ser memória de Jesus ignorando as vítimas, temos de ser Igreja enquanto realidade vocacionada permanentemente.
Em vez de “abraçarmos” complacência casemos com a nostalgia de um mundo mais humano. 



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