A fé consistente tem a marca da
confiança, no entanto não nos faz imunes a momentos de dúvida, até mesmo de uma
certa revolta..., mas são nestes momentos que entramos no processo de maturação
da capacidade de entrega. O Deus que acreditamos é um Deus de relação que se
expande na exata medida em que abraçamos a realidade a partir, não das nossas
experiencias, mas na disponibilidade em vermos a realidade a partir da experiencia
do outro.
Não se pode viver, tendo como
objetivo organizar a religião, a política, a cultura, a educação, sem que se
tenha em linha de conta o sofrimento que existe no mundo, é como se tudo o
resto deixasse de fazer sentido, aliás o que é que ganha sentido na vida
perante o grito angustiante da injustiça?
O mundo não se reconhece a
partir dos centros de poder, mas sim através da história concreta das massas
anónimas, daqueles que, paradoxalmente, têm vindo a perder a dignidade neste
mundo globalizado. Estamos perante a “tal aldeia global” que ironicamente
retira o que as aldeias tinham de melhor: a convivência entre todos. Milhões
são excluídos do “sistema” estabelecido, este teatro dos tempos confronta
diante dos nossos olhos a patética crueldade da justificação do homem sobre os
seus semelhantes. O “sistema” global atualmente em funcionamento, exprime-se na
tendência, em que cada vez mais os poderosos acumulam os recursos do mundo,
precisamente à custa da total e impune indiferença perante a autoridade dos
sofredores chegando a fazer destes instrumentos úteis para o alimento dos seus
impulsos materialistas, colocando o mundo num lugar em que para muitos até a
esperança já desapareceu.
Nenhum
valor ético é mais legitimo do que a atenção total e inequívoca perante as
vitimas do tempo.
Tanto se fala em conversão, no
entanto esta está inserida na nossa tomada de consciência do outro como
verdadeiramente irmão, na nossa resposta à interpelação permanente de Jesus que
nos chama à compaixão diante de toda a humanidade.
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