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domingo, 2 de fevereiro de 2014

Caminhos para Deus (2): Independência (SNPC)

Caminhos para Deus (2): Independência | Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura



Aqueles que trilham o caminho da independência tomaram a decisão consciente de se separar da religião organizada, mas continuam a acreditar em Deus. Talvez considerem que as celebrações e serviços oferecidos nas igrejas não fazem sentido, são ofensivos, maçadores, ou tudo isto ao mesmo tempo. Talvez tenham sido magoados. Talvez tenham sido insultados (ou abusados) por um padre, pastor, rabino, ministro ou imã. Ou então sentem-se ofendidos por certos dogmas da religião organizada. Ou pensam que os líderes religiosos são hipócritas.


Ou então estão apenas aborrecidos. Acredite-me, ouvi muitas homilias que me puseram a dormir, por vezes literalmente. Como o padre e sociólogo católico Andrew Greely escreveu, às vezes a questão não é a de saber porque é que há tantos católicos a deixar a Igreja, mas porque é que ficam.
Os católicos podem desligar-se por causa dos ensinamentos da Igreja sobre uma questão moral em particular, ou devido à sua posição acerca de determinado tema político, ou ainda por causa do escândalo dos abusos sexuais por parte do clero. Assim, ainda que continuem a acreditar em Deus, já não se consideram parte da Igreja. Como um amigo me disse após a crise causada pelos abusos sexuais, «não fui eu que me afastei da Igreja, foi ela que se afastou de mim».
Ainda que mantenham a distância de igrejas, sinagogas ou mesquitas, muitas pessoas deste grupo são crentes firmes. Encontram frequentemente conforto nas práticas religiosas que aprenderam em crianças, e muitas vezes anseiam por maneiras mais formais de rezar a Deus.
Um ponto forte das pessoas que percorrem este caminho é a sua saudável independência, que os torna aptos a ver as coisas de maneira nova e refrescante, algo que por vezes as suas antigas comunidades de fé necessitam desesperadamente. Quem está do lado de fora, quem não está preso aos condicionamentos daquilo que é "próprio" ou "impróprio" dizer dentro da comunidade, pode falar mais honestamente.

O principal perigo deste grupo, contudo, é um perfecionismo que rejeita qualquer tipo de religião organizada.
Não há muito tempo, um amigo meu deixou de ir à igreja que a família frequentava. O meu amigo é um homem inteligente e compassivo que acredita em Deus, e cujos pais tinham profundas raízes na Igreja Episcopal. Mas ele achava que a sua comunidade local estava demasiado alinhada com os ricos. Então decidiu procurar uma comunidade que reconhecesse o lugar dos pobres no mundo.
Depois de deixar a sua Igreja, brincou com a ideia de juntar-se à comunidade católica, porque tinha notado que muitos pobres iam à missa ao domingo. Mas o meu amigo discordava com a proibição de ordenar mulheres, e por isso rejeitou o catolicismo. A seguir, experimentou o budismo, mas viu que era impossível conciliar a sua crença num Deus pessoal e a sua relação com Jesus Cristo com a conceção budista.

Por fim, aderiu à Igreja Unitária local, que inicialmente lhe parecia ser a mais apropriada. Gostava da abertura da espiritualidade cristã e do compromisso em favor da justiça social, bem como do acolhimento às pessoas que não se sentiam bem noutras Igreja. Mas, por fim, o meu amigo defrontou-se com um problema: o sistema de crenças do Unitarismo não era suficientemente claro para ele. Assim, decidiu que não pertenceria a nenhuma Igreja. Agora fica em casa aos domingos.
A experiência do meu amigo lembra-me que a busca por uma comunidade religiosa perfeita é vã. O monge trapista Thomas Merton escreveu um dia: «O primeiro e mais elementar teste do chamamento de alguém à vida religiosa - seja como Jesuíta, Franciscano, Cisterciense ou Cartuxo - é a disposição para aceitar a vida numa comunidade na qual todos são mais ou menos imperfeitos». Este ponto de vista aplica-se a qualquer organização religiosa.

Isto não desculpa todos os problemas, imperfeições, e mesmo pecados das organizações religiosas, mas é uma aceitação realista de que seremos imperfeitos enquanto formos humanos. E é também um alerta para quem percorre o caminho da independência - crentes que deixaram a religião organizada: a procura por uma comunidade religiosa perfeita pode ser interminável.

James Martin, SJ
Trad.: rjm
(Fonte: SNPC)


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