Breve Introdução
O tema da felicidade, claro que só por si haveria muitíssimo a
dizer, no entanto centrar-me-ei em alguns pontos que pessoalmente considero
importantes.
“Todos nós, sem dúvida queremos ser felizes, e não há entre
os homens quem não dê o seu assentimento a esta afirmação, mesmo antes de ela
ser plenamente enunciada.”
(S. Agostinho, “De moribus eccleasiae catholicae”)
Ao estarmos inseridos
numa lógica extramente materialista, a noção de felicidade fica cada vez mais
limitada, porque ao fechar-se no “suposto” conceito do ser individualista, ela
jamais se preenche, isto porque nunca nos daremos como felizes, na realidade o
materialismo leva a que o “alcançar de algo”, suscite quase em imediato o
“outro algo” mais contemporâneo, mais atual, mais na moda.
Obviamente que a
felicidade necessita sempre do essencial (ao nível material) para que a vida se
torne digna, a falta da dignidade potencia o desequilíbrio, fazendo com que a
ausência perante outras realidades jamais se abram aos “olhos”, “sem pão o
homem não pode viver”.
A busca do progresso é
claramente essencial, no entanto é necessário saber o que é o ideal para o
progresso, hoje estamos sujeitos à massificação de bens de consumo, originando
com isto que para muitos a felicidade se centro totalmente no ter, para eles o
ser só se posiciona na felicidade perante o ter. Uma vida centrada nesta noção
torna-se angustiante, já que a ansiedade por obter o que não se tem coloca a
existência colocada nas “ondas” momentâneas de uma felicidade que preenche num
sentido estreito, tanto na abrangência da existência, como a do próprio tempo.
A felicidade que
preenche a existência tem que ser perfeitamente concretizável, existe uma
ideia, há qual me oponho, que somente após a vida terrena é que encontraremos a
verdadeira felicidade. Esta noção além de ser derrotista e inquietante faz com
que a esperança, essencial para a vida, fique renegada para uma dimensão para a
qual desconhecemos, sendo no entanto que não é a que neste momento estamos. A
felicidade tem que ser construir no agora e não deixá-la para o conceito
abstrato, do que imaginamos ser mas que não sabemos..., a vida não pode ser um
“fardo” o um “peso” uma “cruz”. É importante salientar que quando Jesus se
refere para pegarmos na nossa cruz (cf. Mc 8,34), está a referir-se à opção de
vida - nem sempre fácil mas sempre vida - em segui-Lo e assim em assumirmos a
“batalha” pela sua dignificação; o sentido de cruz nesta frase não se prende à
vida como sacrifício de destruição, mas aquele que por opção podemos fazer
tendo em vista precisamente a sua dignificação e exaltação.
Desta forma, deixar as
decisões importantes para um futuro incerto, faz-nos esvaziar enquanto pessoas
humanas, é pois necessário promover a vida enquanto patamar fundamental na
hierarquia de valores, tornando-nos assim nos verdadeiros discípulos do Senhor,
identificados e visíveis perante todos o que nos circundam no mundo.
Uma vida imbuída na fé
no Deus Trinitário só tem validade se esta for fecunda, deste modo ao deixarmos
o Espírito Santo trabalhar em nós, abrimos o coração para a Sua interpelação e
para a beleza da criação, presente em nós e no mundo.
Felicidade assenta
também, e obviamente, na liberdade. Daí que a necessidade de a cultivar em
todas as circunstâncias é fundamental na própria vivência cristã.
“A vida só pode ser compreendida olhando para trás, mas só
pode ser vivida olhando-se para a frente”
(Soren Keikegaard)
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