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sábado, 22 de fevereiro de 2014

FELICIDADE 3/5

Paz, Justiça, Mansidão, Afetividade

“O caminho do justo é reto;
é o Senhor quem prepara o caminho do justo.”
(Is 6,7)

Estar em paz com a vida depende da dignidade com a qual diariamente assenta o sustento da pessoa humana.

Nesta frase resume-se onde deveria assentar a preocupação daqueles que dirigem o nosso futuro.
Dentro dos diversos sistemas sócio-económicos, o capitalismo deu-nos muitas coisas, mas dentro de todas a que ficou “à tona” foram as ilusões utópicas, fazendo com que se encare a realidade num permanente egoísmo e competitividade. Hoje nas nossas escolas o incentivo circunscreve-se na competição, para tudo se constrói rankings, colocando tudo centrado num objetivo único: ser o primeiro; fazendo do sentido positivo da superação e progresso pessoal, uma mesquinhez que assenta na soberba.
As escolas, enquanto locais de promoção do saber, deveriam dar uma especial atenção na formação dos jovens alertando-os para o seu papel na comunidade, em que, ao serem agentes da história e esperança do mundo, a eles competem fazer das suas futuras competências realidades ao serviço do bem e não ao serviço dos anseios egocêntricos da atualidade. Tenho notado que as escolas têm apostado mais na valorização da nota, do que na valorização da pessoa..., sendo que só estas duas componentes juntas formarão futuros homens e mulheres com consciência coletiva, em que a liberdade seja acolhida na atitude responsável perante as escolhas.
Conceber o trabalho tendo em vista o amontoar não dá dignidade, e muito menos felicidade.

“Disse-lhe, então (Jesus), esta parábola:
“Havia um homem rico, a quem as terras deram grande colheita. E pôs-se a discorrer, dizendo consigo: “Que hei-de fazer, uma vez que não tenho onde guardar a minha colheira?”
Depois continuou: “Já sei o que vou fazer: deito abaixo os meus celeiros, construo uns maiores e guardarei lá o meu trigo e todos os meus bens, Depois, direi a mim mesmo: Tens muitos bens em deposito para muitos anos; descansa, come, bebe e regala-te.”
Deus, porém disse-lhe: “Insensato! Nesta mesma noite, vai ser reclamada a tua vida; e o que acomulas-te para quem será? Assim ao que amontoa para si, não é rico em relação a Deus.”
(Lc 12,16-21)

“Vendei os vossos bens e dai-os de esmola. Arranjai bolsas que não envelheçam, um tesouro inegostável no Céu, onde o ladrão não chega e a traça não roi. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.
(Lc 12,33-24)

Ao escrever estas duas belíssimas passagem do Evangelho de S. Lucas, só me surge uma pequena frase, quem quiser entender que entenda... (“quem tem ouvidos que ouça”, cf. (Mt 11,15.13,9; 13,43; Mc 4,9.4,23.7,16; Lc 8,8.14,35).


Qual o trabalho que dá dignidade?

“O cristão que está atento em ouvir a Palavra de Deus vivo, unindo o trabalho à oração, procure saber que lugar ocupa o seu trabalho não somente no processo terreno, mas também no desenvolvimento do Reino de Deus, para o qual todos somos chamados pela potência do Espírito Santo e pela palavra do Evangelho”
(Laborem exercens, 27) (1981)


O trabalho digno separa-se do egoísmo da possessão, devendo ser encarado como um forte elemento na construção da felicidade profunda. Vivacidade, dedicação, persistência, superação, estratégia, que não coloquem em causa a honestidade e a retidão, são adjetivos que operam em “mansidão”, contrapondo-se à agressividade na busca do ganhar a qualquer custo...
A ganância leva à cegueira e à indiferença perante a fragilidade alheia. Ás vezes parece que as pessoas não têm a verdadeira consciência de que quando a morte nos levar todas as mãos se abrem, ficamos na nudez espiritual, em que aguardamos pela misericórdia divina. Como tão bem nos mostra a parábola do Evangelho de S. Lucas,  a riqueza do homem não está no acumular material, mas sim na riqueza abundante dos afetos. O equilíbrio na vida é que origina a “mansidão” em relação à que nos rodeia.

O que deixamos de importante e marcante, não é a riqueza material, mas o testemunho prático da honradez, absorvida pela beleza dos afetos, que irão influenciar a toda a nossa existência e a dos descendentes.


O dinheiro vai e vem... o que fica é o nosso exemplo, e que este seja bom.



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