A Fé enquadra-se num relacionamento perante e com o Senhor, esta não é uma relação de espera
imóvel, mas está sempre inserido no movimento da própria vida. Estar em Cristo, não é
fugir da realidade, estar em Cristo é encararmos a vida com responsabilidade
procurando agir sempre segundo a Palavra do Senhor, com coragem na verdade das
coisas, porque só na verdade encontramos Deus, fora da verdade há a ausência de tudo, até de nós mesmos.
Mesmo no
sofrimento, Ele estará sempre ao nosso lado. Não se esqueçam da ovelha perdida,
nunca percam a Fé, antes cultivam-na cada vez mais, Ele é o Bom Pastor (cf. Jo 10,11).
S.
Tomás de Aquino na década de 1260/70 refere-se à essência do acto de fé como a
grande fonte para o progresso do pensamento teológico. Para ele, e no
seguimento de S. Agostinho, a fé é “pensar com assentimento”. Este pensamento
de adesão que está presente na própria ciência faz com que a fé seja encarada
como decisão e determinação. A fé é “hipóstasis”
(realidade em verdade), com Ela somos levados ao mistério de Deus. Mas esta
adesão de pensamento é na fé diferente daquilo que se passa na ciência. Desta
forma a certeza inicial origina e determina todo o pensamento. O conhecimento
não entra em paragem (como muitos críticos dizem), é precisamente dentro da
certeza que buscamos o conhecimento. Logo a Teologia jamais poderá ser algo de
fechado (o que também tem obrigatoriamente acontecer com a Igreja enquanto
instituição). A Igreja está num contínuo progresso, tendo a certeza inicial
assente na Fé, no tal “crer verdadeiro”.
O
assentimento surge na fé de uma forma diferente daquele que acontece no acto de
conhecimento, ou seja, ele não surge pela evidência mas sim num acto de
vontade, e este acto está sempre em movimento. Mas para entendermos esta noção
temos de ter presente que para S. Tomás
de Aquino a vontade significa “coração”. Só no Amor fazemos esta ponte para a Fé e com ela surge o
assentimento que origina a busca do conhecimento e o próprio progresso tanto da
Teologia como mesmo da Igreja.
Desta
forma podemos afirmar que o futuro da Igreja, o futuro do Cristianismo e o
futuro da humanidade estará sempre assente nas mãos de Deus, nas mãos do Seu amor
por nós. Através da encarnação de Jesus Cristo, que se deu a nós até à morte,
Deus mostrou-nos o Seu eterno amor, no entanto o amor para dar frutos tem de
ser recíproco, o Seu amor tem de ser correspondido com o nosso.
Esta é
a realidade que os cristãos estão confrontados: para que a Igreja responda aos
anseios das comunidades, antes de mais as comunidades têm de amá-La. Se a
Igreja é a manifestação concreta da vontade do Senhor, amar a Igreja é Amar a
Deus, Ajudar a Igreja é ajudar a Deus.
Nós cristãos temos de ter uma Fé esclarecida, uma Fé que não
seja uma mera hipótese... certeza responsável em que se baseie
na acção concreta e nunca na “preguiça” à espera que Deus actue. Só através
desta Fé - o coração – é tocado por Deus, e por ele atraído.
Deus toca a todos de uma forma particular; a nossa obrigação é estarmos bem atentos a esse
toque, não devemos ter medo, antes pelo contrário devemos sentir a mais
profunda alegria. Portanto a nossa responsabilidade e exigência tem de ser
encarada com alegria, confiança, vontade e disponibilidade. O sacrifício da
Palavra, se for realizado através de um amor profundo, ultrapassa todos os
obstáculos, e no fim encontraremos a paz e a alegria, porque Ele estará sempre
ao nosso lado.
São por
estas razões que digo que os cristãos terão de compreender a profundidade que
lhes está inerente, para que juntos possamos construir um verdadeiro mundo novo
e nos prepararmos para aquilo que há-se vir. Esta é a grande beleza do
Cristianismo, esta busca do bem para todos, é algo que me toca profundamente. A
nossa liberdade tem de ser aproveitada para que juntos possamos encontrar o
caminho na sua direcção, sem excluir ninguém, envolvidos pela fé e pela mais
profunda confiança, já que a salvação só está Nele…
Através
de tudo isto, a Verdade torna-se clara na Fé, a Verdade a que a Teologia chama
de “Verdade da Salvação”. Para tal temos de deixar que o nosso coração se ligue
ao “Logos” de Deus, a Palavra que se
fez carne. Um cristão não pode sair de uma eucaristia como se saísse de um
qualquer sítio, a Palavra tem de se entrelaçar nos nossos corpos e atingir o
coração, para que deste modo Ela se torne, com a ajuda do Espírito Santo, forma
de vida, dia a dia, todos os dias…
É difícil eu sei, mas é através da fé (nesse acreditar
verdadeiro e profundo) que encontraremos a força infinita de Deus. A nossa vida
tem de ser vista, numa certa forma como uma peregrinação, como uma caminhada.
Nessa caminhada encontraremos obstáculos, esses têm de ser encarados de frente
e com coragem e nunca como elementos justificadores para a fuga, só assim
seremos cristãos responsáveis. Muitas vezes, durante esta caminha, surgirão
perguntas, surgirão passos atrás, não tenham medo isso está inerente à nossa
natureza, o que nós temos de saber é que com a fé chegaremos onde realmente
interessa...
A fé é uma antecipação, que se torna possível através da
vontade, e pela capacidade de nos deixarmos tocar por Deus.
Só Ele é capaz de antecipar aquilo que ainda não sentimos
nem vemos, é isto que nos põe em movimento, que nos coloca na busca do saber,
na busca da Palavra, na busca da perfeição. É por isso que a Teologia nunca
pode acabar, ela faz parte de tudo isto, e portanto também ela caminha na
direcção de Deus.
A Busca
do saber é inerente à fé.
A busca
de Deus, o entendimento da sua Palavra, a forma de a passar, é uma necessidade
e um elemento para o reforço da fé.
Amar a Igreja implica movimento, abrindo das portas a todos,
buscar os que ainda não a encontraram, enfim um pensamento do Todo e não apenas
do eu.
O Cristianismo está ligado à comunidade, o encontro é
pessoal e íntimo, mas a sua manifestação só tem sentido em grupo, porque para o
Cristianismo o conceito de salvação está ligada a todos os seres humanos, todos
nós somos iguais aos olhos de Deus. Ele espera-nos com paciência e
misericórdia, as portas do seu Reino estão abertas à nossa espera, a nossa
missão é não nos enganarmos no caminho, e o caminho tem um nome: Amor.
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