O Concílio Vaticano II trouxe
para os leigos horizontes aos quais não podemos ficar imóveis, sem confundir
realidades vocacionais distintas, a responsabilidades dos leigos crentes é
colocada numa dimensão nova e sobre a qual ainda há muito a fazer…
Enquanto batizados, somos
chamados a participar no ministério profético de Cristo, numa direção de
testemunho da verdade, fazendo-se presente em palavras e acções, numa busca da
centralidade de Deus na nossa vida, afim de um maior aprofundamento e
dinamização do anúncio da Pascoa do Senhor, enquanto artífices do bem em todas
as realidades concretas da vida. Deus que através do “Espírito da Verdade” (cf.
Jo 14,17; 15,26; 16;13), “falou aos nossos pais, nos tempos antigos, por meio
dos profetas. Nestes dias, que são os últimos, Deus falou-nos por meio do
Filho” (Heb. 1,1-2).
Na Constituição Dogmática Lumen Gentium (LG), no capítulo IV é
realçada a importância dos leigos na obra salvífica de Deus, em que “na função
sacerdotal, profética e real de Cristo, exercem, pela parte lhes toca, a missão
de todo o Povo cristão na Igreja e no mundo” (LG. 31). Neste mundo atual, em
que “consciência” (segundo alguns pensadores) passou de pós-modernidade para
meta-modernidade, tornando a própria realidade subjectiva, remetida para o aqui
e agora, fazendo com que o próprio espaço temporal seja retirado, ficando tudo
no mais puro relativismo; o conceito de Deus é cada vez mais contrariado, cabe
pois aos leigos não remeter o conceito de Deus apenas para os locais de culto,
fazendo-O assim a centralidade total da vida e razão da fé.
Afinal como vivemos a fé?
A Constituição sobre a
Revelação Divina, Dei Verbum (DV),
mostra-nos que a fé cristã ultrapassa a própria a própria dimensão humana, ou
seja, ela é dom de um Deus que se deu a revelar. Assim o crente como pessoa,
tem na sua acção livre uma adesão pessoal (é certo), mas simultaneamente uma
ação que provém do Espírito Santo, que a tudo oferece a sua “suavidade” (cf. DV
5; Conc. Orange, Canon 7) em aceitar e acreditar na Verdade.
Somos pois chamados a dar uma
resposta ao Deus que encarnou, e que nos é dada através na obediência de Jesus
ao Pai, tendo o seu ápice na paixão. Em Deus, causa última de todas as coisas,
podemos colocar todo o nosso ser, numa predisposição que justifica o ato de fé
cristão através da própria relação filial, entrelaçada na dinâmica de amor
entre Jesus e o Pai. Neste contexto as palavras de S. Paulo ganham um
significado sempre renovado: “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em
mim.” (Gl. 2,20). Sem dúvida que a vida cristã prende-se com o apostolado, em
que através das nossas diferenças e singularidades saibamos ter a consciência
de que temos por “irmão a Cristo, o qual apesar de ser Senhor de todos, não
veio para ser servido mas para servir (cf. Mt. 20,28)” (LG 32). Assim ao
servirmos a Deus, servimos o mundo, numa postura de verdade, justiça e paz,
fazendo da nossa ação exemplo para todos, mostrando que há um caminho
diferente, em que através da centralidade em Deus, agimos no bem comum
dignificando o homem em todas as suas dimensões, é isto que o Concílio espera
de nós, porque através do anúncio de Jesus, anunciamos ao mundo a luz que
brilha nas trevas (cf. 2 Cor. 4,3-5).
Claro que esta não é uma tarefa
fácil… encarnarmos nós mesmos este compromisso é muitas vezes não irmos pelo
caminho “mais fácil”, é ter que abdicar, dizer que não; no entanto esta é a
missão à qual estamos confiados pelo batismo, e que no nosso coração Deus nos
interpela, no entanto quantas vezes “fingimos” que não o “ouvimos”?
Também na própria Igreja os
leigos são cada vez mais necessários, do matrimónio sairão aqueles e aquelas
que através do chamamento serão os novos consagrados, no entanto quantos
crentes estão verdadeiramente disponíveis para aceitar que algum dos seus
filhos ou filhas queiram ir pelo caminho da vida consagrada (?), a Igreja
necessita da participação dos leigos, que através dos seus contributos à
vivência da fé eclesial, ajudam torna-la sempre atual, respondendo assim aos
anseios e às necessidades da humanidade, sendo que para um leigo ela é fonte
espiritual e “communio” entre todos
os crentes unidos pela fé em Cristo.
A encarnação do verbo tem que
se tornar na vida do crente a própria encarnação da palavra nas realidades
concretas do mundo. Jamais nos poderemos abstrair do mundo, ou pior ainda,
retirar Deus do mundo, antes pelo contrário, o homem de hoje tem de estar
preparado para assumir a vida enquanto dom, não imaginando que com isto se
retira os dramas e as tristezas da realidade, no entanto, tocados pelo Espírito
Santo e colocando o nosso “coração nas mãos do Senhor”, abrimo-nos realmente
para a fé, esperança e caridade, numa postura de olhos nos olhos com a vida,
porque tal como prometido:
“sabei que Eu estarei convosco até ao fim dos tempos”
(Mt. 28,20).
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