A
Igreja para ter um verdadeiro significado de salvação, não poderá estar divida.
Esta divisão vem em discordância com a pretensão unificadora de Jesus Cristo.
Os próprios apóstolos tiveram no início certos conflitos que poderiam originar
rupturas, no entanto foi no primeiro concílio de Jerusalém (Act. 5, 2) que
Pedro, João, Tiago e Paulo viram que só através de uma união (“communio”) a doutrina de Jesus teria
um sentido profundo e marcante nas comunidades.
A
Igreja tem de estar sempre atenta ao mundo actual, e basear a sua resposta
sempre a partir da acção do Espírito que na verdade se baseia no amor salvador
do dom de Deus. Como a Igreja faz parte deste todo, também deverá “carregar a
ovelha perdida” (cf. Lc. 15,4-7) e leva-la para casa. Amar é, antes de mais,
saber amar, ou seja, agir na caridade, não excluir, não fugir dos desafios, não
se ficar apenas pela palavra, a Igreja terá de ser capaz cada vez mais de amar
a todos, porque ela é misericórdia, e terá pois de acolher sempre mais um no
seu “banquete”. Ela terá de ter um “coração” de mãe, porque só num coração de
mãe cabe sempre mais um, porque só um coração de mãe é capaz responder a uma
falta com o perdão e amor. Tal como referiu o Papa João Paulo II na Encíclica –
“Mulieris Dignitatem” - : “… a presença especial da Mãe de Deus no mistério da
Igreja, nos consente pensar no vínculo excepcional entre esta “mulher” e toda a
família humana”.
Só
nesta atitude é que a Igreja tocará sempre em mais corações, tornando-se cada
vez mais uma acção concreta e real de Jesus Cristo na Terra.
Quem
deverá julgar não é a Igreja mas sim Deus, a função da Igreja deverá ser sempre
a de acolher em misericórdia e amor, porque Deus estará no fim presente para
fazer a “divisão entre do trigo e o joio” (cf. Mt. 13,24-30). Com isto não
estou a referir-me a uma Igreja “cega”, antes pelo contrário, a Igreja terá de
estar de olhos bem abertos para a verdade, deverá denunciar a injustiças e ter
a coragem por lutar sempre para o bem comum. A sua função é bater-se para que
todos sejam o “trigo”, em unidade com Deus, Cristo e Espírito Santo. O
sofrimento dos homens terá de ser para a Igreja motivo também de sofrimento,
mas ao mesmo tempo de união e coragem para agir. A sua principal missão terá de
ser virada para uma acção em relação àqueles que mais sofrem.
Irmãos
a Verdade que está em Jesus Cristo, remete-nos sempre para o bem comum – e este
deverá ser sempre o primordial objectivo da Igreja -, lutar pela dignificação
do ser humano em todas as suas vertentes, mas não só de alguns homens, mas de
todos os homens, crentes e não crentes, só deste modo se concretiza a vontade
do Senhor. A divindade de Deus é em favor dos homens, de todos os homens, e ao
mesmo tempo de toda a Terra. A “consciência ecológica”, hoje tanto em voga, é
também, obviamente, uma vontade de Deus.
Para
quê que me interessa uma “verdade restrita” (só para alguns predestinados)?
A
verdade para ser útil tem de estar ao alcance de todos, só desta forma torna-se
razão (“logos”). Quando dizemos que
não existem primeiros nem últimos, queremos também dizer que o que existem são
homens com o mesmo grau de importância ao “olhos” de Deus. Aqueles que nas
nossas cidades dormem nas ruas (e infelizmente cada vez mais em maior número)
na mais profunda pobreza, deverão ser a nossa vergonha, a vergonha de um mundo
ocidental “moderno”, mas que no entanto o tal progresso não teve também uma
medida humanitária que se impunha. Quando sofre um homem, sofre o Senhor, foi
isso que Ele sempre nos disse.
Quando
digo que a fé não é razão única e singular para a salvação, o que quero frisar
é que não basta “ser muito crente”, sem existir uma prática concreta, “ser
crente” apenas na palavra não é mais do que hipocrisia, a fé só tem razão de
ser se tiver uma acção em caridade, em que o Espírito Santo se manifeste como
dom de vida em Cristo. É assim que a fé ganha sentido, agir na verdade, sem
medo nem arranjando “desculpas” circunstanciais.
Foi esta
coragem que tiveram as primeiras comunidades cristãs. S. Estêvão o primeiro
mártir do Cristianismo, morreu quando falou com coragem acerca do fim da Antiga
Aliança operada pela redenção de Cristo, mas fê-lo sem receio porque a sua fé
concretizou-se em acção concreta. Claro que o exemplo de Estêvão é um exemplo
extremo, no entanto serve de modelo para os dias de hoje, em que, no mundo
ocidental, uma atitude concreta a partir da Palavra do Senhor não nos levará ao
martírio, no entanto passamos os dias a lamentarmos as injustiças, os
escândalos, a pobreza, a miséria, mas de concreto nada fazemos para alterar a
situação, pior ainda pactuamos com ela, escondidos atrás de uma capa mentirosa
de “impotência”, mas, na mais profunda hipocrisia, vamos à eucaristia todos os
domingos como grandes crentes, mas no entanto durante a semana Deus fica na
“gaveta”, ou melhor só nos lembramos Dele quando estamos perante uma aflição.
Afinal que cristãos somos nós na realidade?
Ser é
estar com…, ser é amar o próximo, ser é caminharmos juntos em direcção a Deus
em prefeita comunidade de paz, sem descriminações, contra qualquer tipo de
intolerâncias, combatendo sempre pela Verdade e a justiça. Ser é estar em
comunhão com Jesus Cristo fazendo da Sua palavra modo de vida. Eu acredito numa
Igreja como comunidade aberta, não a modas nem a tendências em voga, mas aos
homens vistos como filhos de Deus, buscando-os onde quer que eles estejam,
sejam eles quem forem, não impondo uma religião mas mostrando um caminho em que
através dele serão tocados pelo dom do Senhor e entenderão então o que é
Igreja. Impor algo não faz parte do sentido profundo da palavra de Jesus, a
imposição provoca resistência e intolerância e foi contra isto que Cristo mais
lutou, e que pela sua morte por crucifixão demonstrou a condição mais
degradante do ser humano, mas ao redimir os nossos pecados através do seu
sangue, foi precisamente na sua paixão e morte que nos mostrou o seu infinito
amor, na sua mais suprema glória.
Sem
caridade nada mas mesmo nada se realiza…
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