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sexta-feira, 18 de outubro de 2013

O acolhimento de Deus


Em Deus encontramos o abrigo e as respostas para as nossas angústias. O amor de Deus é persistente, faz-se presente na nossa capacidade em O acolhermos, nessa atitude em deixarmos que Ele penetre em nós. Somos filhos de Deus numa filiação, que ao contrário da biológica, à qual nada podemos fazer, implica passividade na acção de Deus em nós, em deixarmos Deus ser Deus, numa atitude espiritual em que nos fazemos morada e expressão do amor gratuito de Deus. 

É nesta “fonte” e nesta grandiosidade amorosa de Deus, que a nossa vida ganha razão de ser, em que a realidade passa a ser encarada de forma diferente, porque o essencial dela muitas vezes não está naquilo que focamos, mas naquilo que deixamos entrar (naquilo que acolhemos como dom). 


O ser humano não se faz por ele próprio, a nossa própria existência (biológica) remete ao outro. Nessa relação do outro para o outro (e assim para o Outro), notamos que é no Senhor que tudo assenta e que tudo se realiza. Na nossa vivência filial, a resposta ao amor paternal (dado em gratuidade e acolhido na intimidade), liga-se também à busca do outro como irmão, é portanto numa atitude de acolhimento, de fraternidade e de caridade que deve visar a nossa atitude moral na civilização. Esta postura perante o que nos rodeia, faz-nos responsáveis na vida, negando o “erro” e o mal de uma forma consciente. 
Acolhermos o outro não significa estarmos remetidos ao silêncio, o acolhimento pressupõe que a nossa “estrutura” seja forte, já que ao sabermos para onde queremos ir, podemos propor outra forma de ver a vida e de vivê-la perante as atribulações da existência terrena. Este ato de nascer para Deus encontra-se o “redamo”: dar e receber. A existência humana está precisamente contida naquilo que lhe foi dado. 
Esta doação está presente na encarnação do Verbo, assim a divindade do Pai é acolhida, em todo o seu esplendor, na humanidade de Jesus Cristo, que sendo Deus, nunca deixou de ser verdadeiramente homem. 

Deus no mistério da encarnação, em que o “logos” se fez carne, abre-se ao homem na sua plenitude, este é um Deus “humanissimus”, em que na sua divindade acolhe a si toda a existência sem se distanciar do mundo, estando nele, agindo com ele, fazendo-se homem nele. 

Jesus Cristo ao nascer do ventre de uma mulher (cf. Mt 2,18; Lc 1,31) exalta a humanidade, sendo que a expressão mais extrema e única é realizada na Páscoa do Senhor. O que nos salvou não foi o sangue de Jesus, mas sim o Seu amor, que se deu até ao limite da própria condição humana (cf. Jo 15,13). No dom gratuito, Deus busca a glorificação do homem, enquanto criatura amada, não há assim como esconder que a nossa existência está sempre ligada a Deus (cf. Sl 100,3), assim, e no exercício da própria consciência, ao buscar as razões últimas da nossa vida, é em Deus que nos deparamos. Através do Unigénito, somos desafiados à santidade (cf. 1 Cor 1,2), numa vida de permanente resposta ao Pai. Neste caminho de verdade, em que a vida nos é apresentada como dom, ao dignificarmos o nosso irmão, estamos a dignificar o Senhor. Todos sabemos isto, mas quantos de nós o fazemos?

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