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terça-feira, 22 de outubro de 2013

A Entrega a Cristo




Mesmo aqueles que são agnósticos, não deixam de se impressionarem com provas claras de uma presença e acção da fé através de personagens marcantes da história da humanidade.
Só através da Fé é que entendermos o significado concreto do Senhor nas nossas vidas. Deus na sua infinita compaixão dá-nos sempre mostra do seu amor, mesmo nos momentos mais difíceis Ele indica-nos sempre um caminho, no entanto para o encontrarmos temos de estar atentos, de olhos bem abertos, mas acima de tudo de coração aberto, porque “Se Deus está por nós, quem será contra nós?” (Rom. 8,31).
A presença de Cristo na vida de tantos Santos, levou a que estes procurassem viver com a verdade de uma forma radical, mas este radicalismo estava longe de qualquer forma de fanatismo. 
Dar-se de uma forma completa a Deus é dar-se ao Amor, e esse amor torna aquilo que poderia ser radical na mais pura e singela beleza. Pormos Cristo como valor supremo das nossas vidas, é pormos a Verdade e a Vida no interior do nosso ser, como S. Paulo refere “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gl. 2,20)

Gostaria de referir uma personagem, que para muitos cristãos é desconhecida, já que não realizou nenhuma obra espantosa, no entanto, no meio da maior desgraça compreendeu bem que tal como precisamos de Deus, também Deus precisa de nós, e aguarda-nos sempre.
Etty Hillesum (Esther Hillesum) nasceu a 25 de Janeiro de 1914 em Middelburg na Holanda. A sua origem era judaica, no entanto nunca teve uma educação orientada para os preceitos religiosos. A sua juventude foi na burguesia de Amesterdão, no entanto a sua vida mudou aos 27 anos quando conheceu o psicanalista Julius Spier. Embora tivessem compromissos com outras pessoas, Julius e Etty tornaram-se não só amigos como amantes. Spier através da figura incontornável de S. Agostinho mostra-lhe quem é Deus. A partir daqui Etty Hillesum descobre que Deus lhe pedia algo, começou então a escrever (ao todo 8 diários). A sua história de conversão é verdadeiramente única, ela tendo passado por um sofrimento extremo, nunca abandonou Deus. Sem nunca perder a fé, e acima de tudo sabendo que são precisamente nos momentos mais difíceis que a nossa presença em Deus se torna mais autêntica.
Etty no meio do horror do holocausto, da mais profunda e inimaginável degradação humana, tal como a Samaritana que vai ao poço buscar água, também ela busca a “água “ no seu coração, e em vez de demonstrar revolta, mostra compaixão. Perante a loucura dos homens, tomou a consciência de pode ajudar a Deus e que cada um de nós será a sua morada: “Meu Deus, prometo-te que encontrarei para Ti um lar, um abrigo no maior número de moradas possíveis. Há tantas moradas inabitadas onde eu Te apresentarei como convidado de honra”. Mesmo no meio da crueldade nazi, ela não culpa Deus, encontrando sempre nele o refúgio e o consolo eterno.

Etty Hillesum morreu em Novembro de 1943, em Auschwitz, tinha 29 anos, e deixou-nos esta oração belíssima de compaixão e de amor a Deus:

São tempos de horror, meu Deus. Esta noite, pela primeira vez, fiquei acordada no escuro, os olhos ardentes, imagens de sofrimento humano desfilando sem parar à minha frente. Oh, meu Deus, vou prometer-te uma coisa, uma ninharia: vou proteger-te hoje, de tantos fardos, das angústias que o futuro me inspira; mas isto requer um certo tempo. Por agora, cada dia vale a pena. Vou ajudar-te, meu Deus, a não desvaneceres em mim, mas não posso garanti-lo à partida. Agora contudo, me aparece mais claro: não és Tu quem pode ajudar-nos, mas somos nós que te podemos ajudar – e, ao faze-lo, ajudamo-nos a nós próprios. É tudo o que o que podemos salvar neste momento e é também a única coisa que conta: um pouco de Ti em nós, meu Deus. Talvez possamos nós contribuir-Te para Te divulgar junto dos corações martirizados dos outros” Etty Hillesum (1914-1943)

Esta noção de ajuda a Deus, está assente na nossa disponibilidade, na nossa real adesão a Deus, fortificada através de uma Fé verdadeira. Jesus ao dizer “a tua fé curou-te” está a demonstrar isto mesmo, Deus manifesta-se sempre, no entanto e com a liberdade que nos foi concedida por Jesus Cristo, mostra-nos não um Deus de imposição, mas um Deus de adesão, ou seja: quem quiser que entre… a porta está sempre aberta. É por esta razão que Deus necessita da nossa colaboração, da nossa ajuda, porque ele acima de tudo manifesta-se em nós e a partir de nós. É necessário ter esta consciência; encontrar Deus não é estar parado à espera que ele se manifeste, encontrar Deus requer movimento interior e exterior.
Através da Fé sabemos que, mesmo nos momentos mais difíceis, se agirmos com determinação, de coração manso, mas firmes e corajosos na verdade, Deus não nos faltará.
Elly Hillesum é na realidade um exemplo de uma actuação concreta de uma fé profunda, que surge mesmo como instrumento para servir (ajudar) a Deus.

Como cristão sofri ao ver, em Janeiro de 2009, o Bispo britânico Richard Williamson negar a existência do holocausto, segundo ele as câmaras de gás nunca deverão ter existido, e o próprio número de vítimas dos campos de concentração não ultrapassaram as trezentas mil pessoas, mesmo assim foi-lhe revogado a excomunhão. Tal atitude é verdadeiramente incompreensível, e a Igreja como primeira seguidora de Cristo, deverá ser sempre a primeira seguidora da verdade. O holocausto é uma verdade historicamente confirmada negá-la é opor-se ao próprio Jesus Cristo, ofendendo-o e sacrificando-o ainda mais com as nossas ofensas, negar o holocausto, é negar o sofrimento de milhões de seres humanos que morreram perante uma das mais nítidas presenças do mal na nossa história. Existem muitos que se dizem seguidores de Cristo mas no entanto são os primeiros a ofendê-Lo. Aquilo que Elly nos mostra é algo de grandioso, ela mostra-nos que mesmo no meio do maior horror poderá existir sempre misericórdia e um amor profundo a Deus. A Igreja na figura do Santo Padre deveria ter atenção que ao acolher novamente seguidores de Marcel Lefebre, estará a abrir novamente um caminho a um pensamento totalmente oposto à palavra de Deus. A tentação e o maligno estão muitas vezes escondidos por trás de uma mascara de bondade. Nós católicos temos o dever de ser firmes na verdade, a Igreja somos nós, e como tal deveremos opor-nos sempre a tais manifestações. A essência da Igreja é o que realmente interessa, esta está assente na Palavra do Senhor e na figura dos primeiros Apóstolos, que na sua maioria foram mesmo mártires da verdade, dessa verdade que está em Deus. Só aquele que segue a verdade sabe perdoar, só aquele que segue Cristo sabe o que é a caridade e o amor. Tal como a Igreja não deve ir atrás de tendências efémeras só porque estão na “moda”, Ela deverá também opor-se de uma forma bem firme aos radicalismos e às mentiras que surgem, e esta atitude deverá ser mais corajosa quando tais praticas surgem no seu seio.



Gostaria de deixar esta pequena reflexão, que para muitos será óbvia, no entanto muitas são as vezes em que não se tem a coragem de se colocar as questões de uma forma límpida:

Quem está mais próximo de Jesus, a jovem Elly Hillesum que morreu em Auschwitz, e que se entregou, no mais profundo sofrimento e degradação da condição humana, ao Amor de Deus, estando mesmo disposta em contribuir para a sua glória, ou o Bispo Richard Williamson, que pôs em causa o próprio holocausto?

Meus Irmãos, que a Igreja, enquanto instituição, nunca perca a Luz do Senhor na sua caminhada em direcção a Cristo.

Claro que a Igreja não está isenta de pecado, no entanto deverá sempre procurar a via da verdade e da justiça, e nunca outra via, senão Ela em vez de perder fiéis deixa de os merecer. Rezo e peço a todos para que rezem todos os dias para que a Santa Igreja viva sempre segundo a imagem do Senhor, que demonstre a sua autoridade através do seu exemplo, não via decretos, mas sim via atitudes de compaixão, de perdão, de coragem, de justiça e de caridade para todos, esperando e acolhendo toda a humanidade no seu seio, porque a Verdade e a Vida está com Cristo. Uma Igreja nunca poderá ser sectarista, nem divisionista, a Igreja como expressão do Cristianismo terá sempre de se apresentar como uma via para a união, pondo o ser humano (na sua plenitude) em primeiro lugar, principalmente aqueles que estão perdidos e aqueles que mais sofrem.

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