Mesmo
aqueles que são agnósticos, não deixam de se impressionarem com provas claras
de uma presença e acção da fé através de personagens marcantes da história da
humanidade.
Só através
da Fé é que entendermos o significado concreto do Senhor nas nossas vidas. Deus
na sua infinita compaixão dá-nos sempre mostra do seu amor, mesmo nos momentos
mais difíceis Ele indica-nos sempre um caminho, no entanto para o encontrarmos
temos de estar atentos, de olhos bem abertos, mas acima de tudo de coração
aberto, porque “Se Deus está por nós, quem será contra nós?” (Rom. 8,31).
A
presença de Cristo na vida de tantos Santos, levou a que estes procurassem
viver com a verdade de uma forma radical, mas este radicalismo estava longe de
qualquer forma de fanatismo.
Dar-se de uma forma completa a Deus é dar-se ao
Amor, e esse amor torna aquilo que poderia ser radical na mais pura e singela
beleza. Pormos Cristo como valor supremo das nossas vidas, é pormos a Verdade e
a Vida no interior do nosso ser, como S. Paulo refere “Já não sou eu que vivo,
mas é Cristo que vive em mim” (Gl. 2,20)
Gostaria
de referir uma personagem, que para muitos cristãos é desconhecida, já que não
realizou nenhuma obra espantosa, no entanto, no meio da maior desgraça
compreendeu bem que tal como precisamos de Deus, também Deus precisa de nós, e
aguarda-nos sempre.
Etty
Hillesum (Esther Hillesum) nasceu a 25 de Janeiro de 1914 em Middelburg na
Holanda. A sua origem era judaica, no entanto nunca teve uma educação orientada
para os preceitos religiosos. A sua juventude foi na burguesia de Amesterdão,
no entanto a sua vida mudou aos 27 anos quando conheceu o psicanalista Julius
Spier. Embora tivessem compromissos com outras pessoas, Julius e Etty
tornaram-se não só amigos como amantes. Spier através da figura incontornável
de S. Agostinho mostra-lhe quem é Deus. A partir daqui Etty Hillesum descobre
que Deus lhe pedia algo, começou então a escrever (ao todo 8 diários). A sua
história de conversão é verdadeiramente única, ela tendo passado por um
sofrimento extremo, nunca abandonou Deus. Sem nunca perder a fé, e acima de
tudo sabendo que são precisamente nos momentos mais difíceis que a nossa presença
em Deus se torna mais autêntica.
Etty
no meio do horror do holocausto, da mais profunda e inimaginável degradação
humana, tal como a Samaritana que vai ao poço buscar água, também ela busca a
“água “ no seu coração, e em vez de demonstrar revolta, mostra compaixão. Perante
a loucura dos homens, tomou a consciência de pode ajudar a Deus e que cada um
de nós será a sua morada: “Meu Deus, prometo-te que encontrarei para Ti um lar,
um abrigo no maior número de moradas possíveis. Há tantas moradas inabitadas
onde eu Te apresentarei como convidado de honra”. Mesmo no meio da crueldade
nazi, ela não culpa Deus, encontrando sempre nele o refúgio e o consolo eterno.
Etty
Hillesum morreu em Novembro de 1943, em Auschwitz, tinha 29 anos, e deixou-nos
esta oração belíssima de compaixão e de amor a Deus:
“São
tempos de horror, meu Deus. Esta noite, pela primeira vez, fiquei acordada no
escuro, os olhos ardentes, imagens de sofrimento humano desfilando sem parar à
minha frente. Oh, meu Deus, vou prometer-te uma coisa, uma ninharia: vou
proteger-te hoje, de tantos fardos, das angústias que o futuro me inspira; mas
isto requer um certo tempo. Por agora, cada dia vale a pena. Vou ajudar-te, meu
Deus, a não desvaneceres em mim, mas não posso garanti-lo à partida. Agora
contudo, me aparece mais claro: não és Tu quem pode ajudar-nos, mas somos nós
que te podemos ajudar – e, ao faze-lo, ajudamo-nos a nós próprios. É tudo o que
o que podemos salvar neste momento e é também a única coisa que conta: um pouco
de Ti em nós, meu Deus. Talvez possamos nós contribuir-Te para Te divulgar
junto dos corações martirizados dos outros” Etty Hillesum (1914-1943)
Esta
noção de ajuda a Deus, está assente na nossa disponibilidade, na nossa real
adesão a Deus, fortificada através de uma Fé verdadeira. Jesus ao dizer “a tua
fé curou-te” está a demonstrar isto mesmo,
Deus manifesta-se sempre, no entanto e com a liberdade que nos foi concedida
por Jesus Cristo, mostra-nos não um Deus de imposição, mas um Deus de adesão,
ou seja: quem quiser que entre… a porta está sempre aberta. É por esta razão
que Deus necessita da nossa colaboração, da nossa ajuda, porque ele acima de
tudo manifesta-se em nós e a partir de nós. É necessário ter esta consciência;
encontrar Deus não é estar parado à espera que ele se manifeste, encontrar Deus
requer movimento interior e exterior.
Através
da Fé sabemos que, mesmo nos momentos mais difíceis, se agirmos com
determinação, de coração manso, mas firmes e corajosos na verdade, Deus não nos
faltará.
Elly
Hillesum é na realidade um exemplo de uma actuação concreta de uma fé profunda,
que surge mesmo como instrumento para servir (ajudar) a Deus.
Como
cristão sofri ao ver, em Janeiro de 2009, o Bispo britânico Richard Williamson
negar a existência do holocausto, segundo ele as câmaras de gás nunca deverão
ter existido, e o próprio número de vítimas dos campos de concentração não
ultrapassaram as trezentas mil pessoas, mesmo assim foi-lhe revogado a
excomunhão. Tal atitude é verdadeiramente incompreensível, e a Igreja como
primeira seguidora de Cristo, deverá ser sempre a primeira seguidora da
verdade. O holocausto é uma verdade historicamente confirmada negá-la é opor-se
ao próprio Jesus Cristo, ofendendo-o e sacrificando-o ainda mais com as nossas
ofensas, negar o holocausto, é negar o sofrimento de milhões de seres humanos
que morreram perante uma das mais nítidas presenças do mal na nossa história. Existem muitos que se dizem seguidores de
Cristo mas no entanto são os primeiros a ofendê-Lo. Aquilo que Elly nos
mostra é algo de grandioso, ela mostra-nos que mesmo no meio do maior horror
poderá existir sempre misericórdia e um amor profundo a Deus. A Igreja na
figura do Santo Padre deveria ter atenção que ao acolher novamente seguidores
de Marcel Lefebre, estará a abrir novamente um caminho a um pensamento
totalmente oposto à palavra de Deus. A tentação e o maligno estão muitas vezes
escondidos por trás de uma mascara de bondade. Nós católicos temos o dever de
ser firmes na verdade, a Igreja somos nós, e como tal deveremos opor-nos sempre
a tais manifestações. A essência da Igreja é o que realmente interessa, esta
está assente na Palavra do Senhor e na figura dos primeiros Apóstolos, que na
sua maioria foram mesmo mártires da verdade, dessa verdade que está em Deus. Só
aquele que segue a verdade sabe perdoar, só aquele que segue Cristo sabe o que
é a caridade e o amor. Tal como a Igreja não deve ir atrás de tendências
efémeras só porque estão na “moda”, Ela deverá também opor-se de uma forma bem
firme aos radicalismos e às mentiras que surgem, e esta atitude deverá ser mais
corajosa quando tais praticas surgem no seu seio.
Gostaria
de deixar esta pequena reflexão, que para muitos será óbvia, no entanto muitas
são as vezes em que não se tem a coragem de se colocar as questões de uma forma
límpida:
Quem está mais próximo de Jesus, a jovem
Elly Hillesum que morreu em Auschwitz, e que se entregou, no mais profundo
sofrimento e degradação da condição humana, ao Amor de Deus, estando mesmo
disposta em contribuir para a sua glória, ou o Bispo Richard Williamson, que
pôs em causa o próprio holocausto?
Meus
Irmãos, que a Igreja, enquanto instituição, nunca perca a Luz do Senhor na sua
caminhada em direcção a Cristo.
Claro que a Igreja não está isenta de pecado, no entanto deverá sempre procurar a via da verdade e da justiça, e nunca outra via, senão Ela em vez de perder fiéis deixa de os merecer. Rezo e peço a todos para que rezem todos os dias para que a Santa Igreja viva sempre segundo a imagem do Senhor, que demonstre a sua autoridade através do seu exemplo, não via decretos, mas sim via atitudes de compaixão, de perdão, de coragem, de justiça e de caridade para todos, esperando e acolhendo toda a humanidade no seu seio, porque a Verdade e a Vida está com Cristo. Uma Igreja nunca poderá ser sectarista, nem divisionista, a Igreja como expressão do Cristianismo terá sempre de se apresentar como uma via para a união, pondo o ser humano (na sua plenitude) em primeiro lugar, principalmente aqueles que estão perdidos e aqueles que mais sofrem.
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