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quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Como comunicar neste mundo que quase não tem tempo para pensar?


Como então encarar a realidade?



Antes de mais teremos de ter bem presente o ponto de partida: tal como Jesus Cristo, a Igreja não se pode fechar sobre si mesma, a sua acção de busca pelo próximo implica uma permanente acção missionária e pastoral que se insere na própria palavra. Tal como Cristo, a Igreja tem que se movimentar, indo ao encontro para abrir o coração, acolhendo a todos, mesmo aos que não acreditam, porque também neles está o Senhor.
O “communio” é algo que tem de ser enquadrado por toda a comunidade cristã como ponto em que tudo tem que convergir, esta é uma noção que tem de estar bem na Igreja, tanto enquanto instituição como em todas as suas expressões organizativas.

A definição de uma “política de comunicação”, não só é necessária, como um imperativo para a Igreja.

O pensamento intuitivo nas instituições/empresas, tem a sua importância, mas, se aplicarmos o conceito de Inteligência Empresarial ao universo da comunicação, acabamos por descobrir que a instituição só por si não resolve os problemas. As coisas não se resolvem apenas a partir de uma suposta estética, a comunicação atinge todo este universo, agregando-o num pensamento dirigido às pessoas.
Para tal é necessário pesquisas, avaliações permanentes, dimensionar sistemas de trabalho, porque queiramos ou não, as pessoas e as organizações experimentam mudanças bruscas no seu comportamento e perfil.

É óbvio que a comunicação da Igreja não se restringe aos meios propriamente ditos, como: televisão, rádio, jornais, folhetos, livros… A sua comunicação é também realizada nos meios de reflexão das comunidades pastorais, grupos, movimentos, etc, a comunicação realiza-se em diversas áreas e com diversos veículos, sendo que as acções são levadas a cabo a partir das pessoas que têm como grande inspiração os verdadeiros valores que estão presentes no Evangelho.

No entanto a comunicação é para a Igreja um processo ligado directamente à missão de Jesus, Ele foi o grande e legítimo comunicador da Verdade. Sem esta ligação ao Senhor a Igreja não acontece.

A primeira missão da Igreja é a Comunicação.

Reparamos também que um dos pontos fundamentais para que este movimento entre a palavra e os crentes se realize, está ligado à figura de quem preside à Eucaristia e ministra a liturgia, isto quer se queira quer não, é um dado objectivo. Figuras do passado como o Padre António Vieira são exemplos concretos de como a acção comunicativa, sempre em ligação ao Evangelho pode levar a que a realidade da caridade e da justiça se manifeste na sua plenitude. A comunicação cristã, é a comunicação ligada ao “logos” encarnado, a sua mensagem terá não só que tocar consciências, mas acima de todo o coração.

Um dos meios de comunicação muito usado na acção cristã, prende-se com a comunicação visual. Fico muitas vezes atónito com a falta de gosto gráfico em muitos suportes ligados à comunicação da Igreja e isto muitas vezes não está ligado a restrições orçamentais, mas sim com mau gosto e com uma grande falta de conhecimento de conceitos actuais no que respeita à comunicação visual e não só. A força da imagem não é apenas nos dias de hoje um elemento de grande relevância, sempre o foi, daí que a Igreja tenha de ter uma grande atenção nesta área. Na grande maioria das paróquias os suportes gráficos que são postos em circulação têm uma concepção visual fraca (de gosto muito duvidoso) levando a que a informação seja de difícil compreensão para os fieis. Esta atitude vem em contraposição à própria história da Igreja que sempre buscou o belo como forma de expressão visual, daí que o cuidado gráfico é uma obrigação. A atenção também se faz pelos olhos, a expressão visual ajuda à interiorização da mensagem e é factor de inegável importância para a Igreja actual enquanto veículo da mensagem de Deus.
Os representantes da Igreja têm cada vez mais de ter presente os factores actuais da comunicação, é fundamental que esta recorra a profissionais. É necessário ter uma comunicação perceptível maior número de pessoas. Assim para que tal aconteça de uma forma correcta, é necessário que quem colabore na comunicação da Igreja (nos seus diversos meios) seja também cristã, para que, ao aplicar o processo de comunicação, a doutrina da Igreja e acima de tudo a mensagem de Cristo, seja passada de uma forma correcta, soltando assim os sentidos. Na realidade uma interligação de conhecimentos é um factor decisivo nos dias de hoje.

Noto que muitas vezes há um desvirtuamento da mensagem por partes de muitos crentes e não crentes, isto acontece, não por ignorância, mas pelo uso errado de processos, levando não só a um alheamento de muitos fiéis como também a um afastamento cada vez maior de vocações. Não basta pedir para que os fiéis “rezem pelas vocações”, é necessário abrir o coração a novas vocações, e é precisamente aqui que a Igreja Católica falha (principalmente no mundo ocidental), no que diz respeito às metodologias de comunicação. Ela como dom de Deus, deveria ser um exemplo não só de informação de qualidade, como também deveria ter uma exigência e um cuidado estético que provém não só da sua história, como também da sua missão enquanto presença efectiva de Deus na Terra.    

A missão comunicativa da Igreja provém de há 2000 anos, portanto Ela tem a noção perfeita que não tem apenas uma mensagem a comunicar, Ela é a própria mensagem. Através deste movimento podemos alcançar uma reflexão introspectiva da fé, entendendo que ela não é apenas conceito, mas sim base essencial para a prática e opção concreta de vida. A comunicação da Igreja mexe com o ser na sua essência, não é a passagem de ilusões nem de métodos de auto-ajuda, a mensagem abrange o homem e o meio na sua totalidade, num diálogo permanente com o Senhor. Sendo que esta profundidade deveria ser sempre princípio fundamental para toda acção evangelizadora.

Como já vimos esta comunicação deverá ser transmitida de forma oral e escrita, a inércia da comunicação leva a uma inércia do pensamento, tornando-o muitas vezes errado e completamente fora do sentido de Verdade que lhe advém.
Ser discreto é não abusar da exposição da imagem de uma forma pouco produtiva (no que à Igreja diz respeito), ser discreto é dizer apenas aquilo que é necessário, ser discreto é comunicar as mensagens com simplicidade e sabedoria, não se ligando a tendências passageiras, em que a necessidade de uma resposta quase imediata poderá levar a “afirmações” desprovidas de razão. Jesus Cristo mostrou-nos o sentido da verdade na sua dimensão mais profunda, através de uma comunicação perceptível a todos, sem que por isso a intemporalidade fosse abalada, “na sua mensagem o “céu” e a “terra” unem-se”.

Cada vez mais os meios de comunicação como a televisão, rádio, cinema, imprensa, internet, etc…; tornaram-se indispensáveis na vida eclesial. Esta comunicação terá de estar ligada a um sentido estético, visando o realce e clareza na essência do pensamento, eliminando a confusão ou a interpretação abusiva - a comunicação deverá ser esclarecedora e corajosa -.
Já no documento no Concílio Vaticano II – “Inter Mirifica” – analisava-se o poder da comunicação que leva a uma influência directa na acção sociedade, que poderá ser feita tanto para o bem como para o mal.
Na Encíclica “A Missão do Redentor” é apresentado o mundo da comunicação como o “primeiro areópago dos tempos modernos…”

Quando olhamos ao nosso redor, somos confrontados com um sistema neo-liberal em que cada um pensa no melhor para si mesmo, em que a recusa de Deus surge como uma suposta forma de liberdade. É notório a existência de pensamentos próximos ao niilismo como “inspirações viáveis” para a humanidade, no entanto perante uma globalização egoísta notamos o aumento daqueles que ficam à margem de todos os recursos, os excluídos.
Aqui o Cristianismo terá de entrar com firmeza: para nós todos contam, todos temos a mesma importância perante Deus, é nesta forma e com esta postura que temos que agir – comunicar -, com a convicção baseada no sentido mais profundo dos valores ligados à dignificação do ser humano em toda a sua totalidade.

A compreensão do alcance da comunicação tem de fazer parte de todos os líderes da Igreja.

Também os Apóstolos através do Espírito Santo foram incumbidos de comunicarem a Boa Nova dando início à própria Igreja: “Então todos viram umas coisas parecidas com chamas, que se espalharam como línguas de fogo; e cada pessoa foi tocada por uma dessas línguas. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar outras línguas, de acordo com o poder que o Espírito dava a cada pessoa” (Act. 2, 2-4). Portanto o anúncio da Pascoa do Senhor é, para nós católicos, missão essencial de divulgação.

A Igreja muitas vezes tem falhado neste aspecto, daí que as palavras do Papa Bento XVI na sua viagem a África, aquando da confrontação por parte dos jornalistas acerca do uso do preservativo, foi notória a falha tanto na altura de abordagem, como no uso das palavras, o que levou a interpretações verdadeiramente abusivas. No entanto o que ficou registado para a sociedade global foram aquelas palavras do Papa, ou seja onde ele pedia sensibilização para a responsabilidade do ser humano, interpretou-se irresponsabilidade da Igreja, esquecendo-se o trabalho que muitos missionários católicos fazem em África em comunidades fortemente afectadas pelo HIV. O sentido de abandono por parte dos países ocidentais desenvolvidos em relação ao combate eficaz da infecção, ficou como que inexistente. No entanto, a condenação às palavras do Papa Bento XVI foram postas em relevo de uma forma global. Curiosamente os países em que mais se levantaram vozes contra as declarações do Papa são aqueles que se aproveitam de África apenas na exploração das suas riqueza, em que as populações são verdadeiramente ignoradas e deixadas ao abandono.
É esta a força que a comunicação tem…

A Igreja (como instituição) é falível, daí que saber comunicar com o mundo actual, leva a que seja necessária a presença de profissionais capacitados para colaborarem com a Igreja para deste modo se atingir os resultados desejados. Infelizmente vemos muitos líderes da Igreja impreparados a acharem-se capacitados, sem no entanto terem a plena noção da realidade que hoje estamos confrontados. Poderia dar muitos casos como exemplo, no entanto personalizar em demasia este aspecto poderia tornar-me injusto, porque ao mesmo tempo que temos lideres impreparados, temos também muitos de altíssima qualidade e que têm dado novos horizontes para o futuro da comunicação da Igreja Católica.

Claro que a comunicação, só por si, não resolve os problemas da Igreja, no entanto contribui decisivamente para um esclarecimento correcto do seu pensamento. A utilização da comunicação com critérios bem definidos, tendo por base a própria doutrina e convicção católicas, faz com que a unidade da Igreja seja mais solidificada. Com isto não estou a dizer que o pensamento crítico, mesmo dentro da própria Igreja não possa existir, antes pelo contrário, é no confronto de ideias que as respostas se tornam mais úteis às realidades concretas do mundo, daí que uma comunicação feita em moldes actuais tenha de ser parte fundamental para acção da Igreja do séc. XXI. Só desta forma a comunicação atinge a substância evangelizadora, tornando compreensível a profundidade do seu pensamento como factor fundamental para o crescimento do homem no mundo.

No decreto “Inter-Mirifica” (1963), realizado no Concílio Vaticano II, notamos um grande empenho da Igreja para esta área.
A comunicação deverá ser sempre um foco na divulgação dos desígnios de Deus, de uma forma clara e esclarecedora.

“Que a comunicação seja sempre verdadeira, integra, honesta e equilibrada, observando as leis morais, a dignidade e os legítimos direitos dos homens, tanto na busca das notícias, quanto na sua divulgação”. – “Inter-Mirifica”

Claro que a comunicação nos dias de hoje requerer uma acção rápida, este imediatismo poderá levar a tomadas de posição despropositada, que mais tarde são desmentidas ou alteradas, tornando-se assim afectadas por uma grande fragilidade. A Igreja nunca poderá enveredar por este caminho, os assuntos antes de serem comunicados, nos vários meios, deverão ser sempre antecedidos por uma reflexão, para que exista substancia de interesse e de posição concreta. Este é um ponto que na actualidade faz toda a diferença, embora as acções tenham de ser mais rápidas, isso não significa que não devam ser pensadas, reflectidas e analisadas antes de serem comunicadas. Comunicar por comunicar, é o maior erro que se podia cometer.  




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