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sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Culto



Desde sempre que a vontade de Deus, está na realização efectiva da nossa entrega total e completa a Ele. Esta entrega total a Deus está também ligada à forma e à capacidade de lhe prestarmos culto. Esta vontade é algo que é transversal a toda a Bíblia, desde Antigo até ao Novo Testamento.

Já o próprio Moisés quando volta ao Egipto para libertar o seu povo escravizado fala de uma forma concreta do culto (cf. Ex 10,8-11). É notório que apesar das “propostas” do faraó, Moisés é firme, notando-se que o culto nunca poderá estar numa negociação. O culto nunca poderá ser uma questão política. No culto procuramos agradar a Deus, e isto não está restrito ao conceito político. 

Para o Cristianismo o culto a Deus não deverá estar nunca ao nível da negociação política. A liturgia está também nesta abrangência, e deverá ter sempre uma atitude livre, com a sua atenção sempre nos homens (todos os homens). Esta forma de liberdade, como forma da prática litúrgica, leva a que o próprio culto esteja fora do alcance de qualquer tendência ou compromisso político. Se o culto estivesse no âmbito político, pode-se mesmo considerar que seria outra coisa mas nunca culto. Claro que a minha atitude enquanto fazendo parte de uma sociedade, faz-me obedecer a regras, no entanto também me faz pautar vida segundo a essência daquilo que considero a verdade, Jesus Cristo. Esta atitude nunca poderá ter uma orientação extrema, isso levaria a que a essência do Cristianismo ficasse aniquilada à partida. A religião tem que ser vivida de uma forma aberta, tolerante e construtiva. Se a nossa missão é está no testemunho da Pascoa do Senhor, qualquer fanatismo ou discriminação será caminhar no sentido contrário. Jesus Cristo, foi corajoso perante a mentira e a injustiça, no entanto mesmo no seu discurso mais forte contra a hipocrisia dos fariseus (cf. Mt 23,15) teve sempre em linha de conta abrir os corações e mentes, fazer ver a mentira, mas acima de tudo mostrar o caminho para a Salvação. Cristo nunca excluiu ninguém... Ele mostrou que sempre existe salvação, e isto acontece, porque existe compaixão e caridade por todos e para todos.

Um Cristianismo de facções é levar à antítese a palavra de Cristo, a nossa acção é por batermo-nos sempre pela verdade e pela justiça, mas esta atitude deverá estar sempre imbuída naquilo que é a sua maior mensagem, o amor por todos. Só podemos estar na verdade, apontando o erro de “coração manso”, ela nunca está nunca do lado da destruição, mas sim ao lado da paz, do amor, e do perdão. Para podermos “lutar” contra o mal, teremos de estar sempre preparados para o perdão, se não soubermos perdoar, a justiça de Deus fica sem expressão entre nós, porque esta assenta sempre na misericórdia.

A adoração e o culto ao Deus único sempre foram a essência de uma verdadeira atitude religiosa.



A religião cristã, obviamente que tem expressões fortes de culto exteriores, mas ela é acima de tudo uma religião que visa a unidade a partir da atitude interior. Esta exigência interior leva a que se tenha de “olhar para o coração”, uma expressão externa de culto poderá parecer uma expressão de adoração importante, no entanto só tem sentido se for acompanhada por uma atitude interior verdadeira. No fundo, para que serve grandes formas de culto exteriores, se interiormente nada acontece?





O culto para ser verdadeiro e se adequar ao sentido litúrgico, antes tem que existir uma reflexão interior acerca da nossa condição humana perante a existência de Deus.
Com Jesus Cristo é-nos aberto um novo culto. Agora não existe uma substituição, mas sim uma representação. Jesus, que foi condenado à morte pelos líderes da religião vigente, opôs-se firmemente à forma dos rituais enraizados, chegando mesmo a questionar o próprio Sabbath.
No entanto o que Jesus criticou firmemente foi acima de tudo a hipocrisia e a mentira dos líderes religiosos, mostrando que estavam mais importados na aparência exterior, do que na essencial e salvadora pureza interior. Sem um coração que busque a pureza, o afastamento em relação ao próprio Deus é inevitável, a vida em santidade é a busca de Deus através de uma fé interior que então se transportará para o exterior; na realidade sem uma reflexão interior profunda qualquer acção exterior fica sem sentido. É isto que sustenta a sua frase “O Sábado (Sabbath) foi feito para o homem e não o homem feito para o Sábado” (Mc 2, 27)


No Monte Sinai Moisés apresenta não somente as instruções do culto, mas também uma lei e normas de conduta. Na realidade um povo sem leis entra na anarquia destrutiva. Embora muitos possam pensar de uma forma diferente, a anarquia é a negação da liberdade, porque não existe liberdade sem direitos e 
deveres.




Hoje não faz qualquer sentido impor um olhar para Deus fundamentada a partir da constituição jurídica, esta separação entre Estado e Religião é fundamental para que exista uma verdadeira liberdade religiosa, no entanto gostaria de salientar o seguinte: uma lei desprovida da autoridade moral torna-se ilegítima. Mesmo num Estado laico, é necessário um olhar profundo para Deus. Será sempre neste olhar permanente para o Senhor que chegaremos à natureza do culto na liturgia.














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