A
Eucaristia é para muitos um aspecto meramente restrito ao âmbito cultural,
deixando a sua profundidade e essência para segundo plano, senão mesmo para uma
profunda ignorância irresponsável. A “ida à missa” torna-se deste modo um acto
somente exterior, estando mesmo em algumas vezes ligado ao pensamento sem
fundamento cristão, ou seja, “se não for à missa a semana não irá correr bem”.
Quantos estão numa Eucaristia, apenas “de corpo presente”, ou seja,
perfeitamente desligados de toda a sua importância, em que o pensamento está
completamente ausente…
A
Eucaristia tem de se apresentar como estrutura de reforço da fé, sendo encarada
como acto de oração profunda e de contemplação plena.
A sua
ligação comunitária é permanente. Já nos Actos dos Apóstolos vemos que a Igreja
inicia-se no Espírito Santo, oferecendo-Se a Si mesmo a uma comunidade que tem
a sua união na oração e cujo centro são Maria e os Apóstolos. A Igreja deverá
ser orante, com uma orientação para o Senhor – “Santa”, una e apostólica.
As
indicações primárias e fundamentais provêem de Jesus Cristo, mas foi através
dos Apóstolos que a Igreja se tornou realidade social e expressão concreta da
palavra do Senhor. Daí que a Igreja (e como tão bem S. Agostinho expôs) deverá
ter sempre presente o Espírito Santo como dom principal da sua essência. O novo
Povo de Deus é agora Universal, expressando-se em várias línguas e em todos os
continentes. A sua acção e presença não está remetida a um espaço
pré-determinado, ela atinge os confins do espaço e do tempo, sendo desta forma
aberta a todos, não excluindo ninguém da “mesa do Senhor”. A formação da Igreja
enquanto estrutura é simbolizada pelo “abraço” definitivo entre: S. Pedro, S.
Tiago e S. Paulo.
O facto
do Novo Testamento terminar com a chegada do Evangelho a Roma, contém
precisamente a simbologia de que agora a Palavra estendeu-se a todos os povos
do mundo.
Para S.
Paulo, Cristo crucificado surge como o novo “lugar de penitência”. O Kapporeth – a “tampa da Arca da Aliança”
– é agora posta em redor da imagem do Senhor. Ele é que é O verdadeiro “Santo
dos Santos”, o verdadeiro Templo Vivo. Assim a antiga Arca (entretanto perdida)
dá agora lugar ao Cristo Ressuscitado. A partir desta concepção, o ícone da
ressurreição de Cristo, é colocado nas Igrejas Orientais em cima de uma tampa
em forma de cruz, fazendo deste modo, uma ligação com a Kapporeth da antiga Aliança - Cristo é a nova e definitiva Arca -.
Agora Deus deixa de ser completamente oculto, mostrando-se através do Seu
Filho, sendo este um dos pontos de viragem do Antigo para o Novo Testamento.
Neste percurso de análise da unidade como
ponto determinante para a Igreja, a comunhão assume com os Apóstolos um
significado vital para o significado de toda a sua doutrina.
A Eucaristia assume-se pois como o ponto de
maior importância em todo o universo do sentido da Igreja.
A
Igreja é para nós Católicos uma realidade viva. A sua presença aparece diante
dos nossos olhos como uma Mãe. Esta não está remetida à restrita acção de “dar
à luz”, esta mãe é ela própria luz. Maria que deu à luz o Salvador, é também a
Mãe de toda a Igreja, iluminando-a com a sua e presença constante. Maria é sem
dúvida de entre os seres humanos a que mais entendeu a solicitação de Deus. Ela
ainda jovem teve através da sua coragem do “SIM”, algo que a faz impar em
relação a todos nós, sendo a nossa grande intercessora perante Jesus Cristo.
S.
Tomás de Aquino referiu-se a ela do seguinte modo: “A santíssima Virgem por ser
Mãe de Deus, possui essa dignidade, de certo modo infinita, derivada do bem
infinito de Deus”.
Aqui se
nota a grandeza da “Mater Dei”, que não provém de um poder comum, mas sim da
mais pura e singela simplicidade, disponibilizando-se totalmente em relação à
intenção de Deus, através da sua fé, alcançou a grandeza e a glória como
nenhuma outra criatura da Terra.
Assim
também deve ser a Igreja, um instrumento do Senhor, que se reveja na
simplicidade e na prontidão (no sim ao Senhor), orientando a sua acção e
caminho numa missão em favor de toda a humanidade. Isto obriga-a a ser
corajosa, a não se omitir perante as injustiças do mundo, tal como Jesus Cristo
a Igreja tem de ter um objectivo: Servir. Um serviço inspirado em Cristo e
expresso no homem, portanto, estando sempre do lado da Verdade e sempre pela
Verdade, porque ter “coração manso” e “oferecer a outra face” é assumir a
coragem perante a verdade, nem que isso seja contra o Status Quo instalado. O dever da coragem pela verdade, não é uma
missão da Igreja, é a sua mais determinante obrigação.
Tal
como Cristo nos concedeu a sua mãe em plena agonia da cruz (cf. Jo 19,25-27),
também fez dela a Mãe da Igreja que se iria formar.
“Se
quisermos redescobrir em toda a sua riqueza a relação entre a Igreja e a
Eucaristia, não podemos esquecer Maria, Mãe modelo da Igreja. Com efeito, Maria
pode guiar-nos para o Santíssimo Sacramento porque tem uma profunda ligação com
Ele”
Papa
João Paulo II – Ecclesia Eucharistia.
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