Translate

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Dia de Todos os Santos: breve análise da importância do ícone



O ícone não tem como objectivo a representação da imagem no sentido empírico, ela deverá associar-se a uma representação e a uma abertura dos sentidos interiores, é aqui que assenta o verdadeiro sentido da Teologia dos Icones.

Portanto a própria arte sacra tem como caminho a oração, e é neste profundo sentido que as imagens aparecem, não como a forma real, mas como forma de visão interior e de apelo à concentração e à oração. “O ícone vem da oração e conduz à oração”, para tal os sentidos têm de estar libertos de aspectos empíricos, e sempre com uma ligação ao espírito.
Os homens devem ter a capacidade de se abrirem interiormente, não estando somente ligados ao mensurável, mas também ao divino. O olhar ensina-nos a ver Cristo principalmente segundo o espírito. Desde o Concílio de Niceia, passando pelos sínodos, as imagens eram sempre vistas como a encarnação de Deus no homem, e portanto o Iconoclasmo (a negação total das imagens) seria sempre a negação da própria encarnação. É na encarnação que o divino se faz um de nós, um homem concreto e nascido de um ventre, que nos envolve na sua própria ressurreição, através da Pascoa do Senhor.

Ao olhar para a cruz, não é a “feição” de Cristo que me interessa, mas sim a Totalidade do Senhor, que ao fazer-se homem se juntou a nós de uma forma definitiva e eterna. A cruz mostra-nos aquele que através do seu sofrimento, salvou-nos para a vida eterna.

“O iconoclasmo tem um efeito redutor da fé” (Bento XVI). No entanto vemos que a luta contra as imagens é algo que é visto como um “progresso” para a própria sociedade! Numa sociedade democrática como a nossa, este “iconocolasmo”, vem em contraposição à própria liberdade de expressão. A democracia é também a expressão religiosa no espaço público, inibir a expressão religiosa é inibir a tomada de posições e convicções legítimas. Qualquer que seja a religião deverá ter a sua possibilidade de expressão, e sua expressão pública faz-se muitas vezes através também através de símbolos. Mesmo aqueles que se são ateus, antes de o serem deverão ter a possibilidade de conhecer o aspecto religioso. Esta não é uma questão que se prende somente com os crentes, esta é uma questão de cidadania. Mesmo aqueles que recusam a existência de Deus têm os seus símbolos. A luta contra os símbolos cristãos, não é uma expressão de maturidade social, antes pelo contrário, esta acção leva à “cegueira” da liberdade de escolha. A recusa da expressão simbólica religiosa, é algo que tem uma ligação directa com a cidadania, uma sociedade é tanto mais desenvolvida quanto maior for o seu conhecimento, tanto cientifico, como religioso.

A imagem não é o fundamento de fé, ela remete-nos para a essência, e a essência, para nós cristãos, está na encarnação de Deus no homem, que através do amor deixou-se levar à morte, para a vencer, abrindo-nos assim a nova porta para Deus Pai. Esta é grandeza única do Cristianismo.
O Cristianismo nunca será uma facção política, nem uma tendência de pensamento, o Cristianismo é a revelação da Pascoa do Senhor, a ligação concretizada entre Deus e o homem, em comunhão (“communio”).
 Como católico, tenho a convicção que o Cristianismo, na sua vertente essencial, não nos prende, antes abre-nos para a liberdade. Uma liberdade responsável, em que o bem e o mal estão bem identificados deixando, no entanto, sempre que a escolha seja feita por nós, não a impondo, mas mostrando-a, porque a palavra final será sempre nossa. Esta é a liberdade que Cristo nos deu – “quem quiser sabe o caminho” -, sendo que Ele espera-nos até ao fim, estando sempre disponível para nos “dar a mão”, agora resta-nos fazer a opção…

No entanto e como salientou S. Agostinho: “Cristo não nos salvou através da pintura”.

A cruz de Cristo apresenta-se para toda a comunidade cristã como um símbolo do ressuscitado, sendo um elemento central para toda a Igreja.

Durante toda a história da arte, as várias épocas levaram a que a expressão da arte sacra tivesse também sofrido as suas alterações durante os séculos.

Muitos membros da Igreja vêm na actual crise ligada ao panorama de arte sacra actual como uma crise generalizada da arte. Eu não vejo as coisas desta forma, na realidade a Igreja deve estar aberta a outras formas e tendências de arte. Sendo ela forma de comunicação, terá de ser bem, observada com atenção e dedicação, já que a comunicação é missão da Igreja. Desta forma a arte é expressão criativa dada ao mundo, isto leva a que se tenha de ter uma abertura de espírito ao fenómeno artístico actual, procurando realizações de qualidade.
A acção criativa deverá ter uma atitude de inspiração para além das fronteiras reais, “buscando algo mais acima”, buscando no fundo Deus. É necessário olhar em volta, desprendendo-se das “paredes imóveis”, para assim compreender o mundo e saber comunicar com ele.

Claro que a falta de arte sacra deve-se também à forma como vemos o mundo, ou seja a realidade individual ultrapassou a concepção de conjunto, perdemos as respostas comuns.
A forma de se ver o mundo em nome da seriedade científica, obviamente traz consigo enormes benefícios para a humanidade, no entanto, nem tudo tem uma validação científica evidente, se quisermos provar ou comprovar tudo, o mundo torna-se “opaco”. Reparamos que na actualidade, acreditar em Deus é visto por muitos como uma forma imperfeita, e portanto menor, de posicionamento perante a realidade. Também na arte reparamos que o seu sentido de “transcendência” é posto num plano secundário. Ela aparece-nos como uma expressão muitas vezes ligada à experimentação simplicista, e não à criação do belo. A essência do “Creator Spiritus” não está tanto em voga, somos actualmente confrontados por uma “produção” criativa que se reduz em grande parte ao fútil e ao momentâneo.

Podemos pois concluir que o uso de imagens, é parte integrante à Igreja Católica levando-nos para a própria encarnação de Deus. As imagens do belo, que tornam visível o mistério invisível de Deus, fazem parte do culto cristão. O iconoclasmo não se prende com o cristianismo, tanto ao nível histórico, como ao nível de culto e adoração. A arte sacra tem a sua fonte na História da Salvação, tendo assim o seu epílogo no oitavo dia – no dia da Ressurreição -. Esta noção é fundamental, daí que os Santos também tenham uma ligação natural enquadrada nesta realidade, eles são a prova e o cumprimento real da promessa de Cristo. Neles, Cristo vive de uma forma perpétua, renovadora e inspiradora.






“A luta não é apenas contra os ícones, ela também é contra os Santos”.

Esta frase de João de Damasco (ligado ao início da Teologia Sistemática na ortodoxia oriental) foi dada ao Imperador Leão III (Bizantino/Síria) , que era um grande opositor das imagens. 






 Papa Gregorio III
último Papa não Europeu antes
do atual Papa Francisco



Dando uma resposta a este conflito, o Papa Gregório III (?-741), num sínodo em Roma em oposição aos iconoclastas,  instituiu no calendário litúrgico a 






As imagens de Deus com os homens não têm somente um carácter de lembrança, elas são também um sentido para o futuro. Daí que as imagens estejam muito ligadas ao Sacramento da Eucaristia, no qual existe uma óbvia referência para o futuro. É por esta razão que a imagem de Cristo é o centro de toda a arte sacra, Ele é a promessa cumprida, a manifestação do amor divino, a incorporação do “verbo” na mais profunda e bela manifestação de Deus em toda a história da humanidade. Ao faze-lo não o fez como forma de mostrar a sua força, mas para mostrar a sua misericórdia e amor. Portanto a imagem de Cristo centrada na sua Pascoa é também o ícone principal da Eucaristia.
 Calendario dos Santos
As imagens de Cristo e dos Santos não são “fotografias, a sua natureza é a de nos levar para além do terreno, do material, a sua função está no despertar dos nossos sentidos mais interior.

“Nós não rezamos às imagens, nós rezamos com as imagens”.






















Sem comentários:

Enviar um comentário